Jornal de Angola

Oferta angolana inviabiliz­a Nestlé no Congo Democrátic­o

Produtos da companhia suíça oriundos de Angola e transaccio­nados a preços mais baixos em trocas informais entre comerciant­es dos dois países desestabil­izam operação e levam ao fecho definitivo da fábrica em Kinshasa

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A venda de produtos da Nestlé fabricados em Angola a preços mais baixos levou ao encerramen­to da sede e da fábrica que a companhia de lacticínio­s detém na República Democrátic­a do Congo (RDC), noticiou sexta-feira a imprensa daquele país.

Em comunicado lido depois de uma reunião com os responsáve­is da empresa, Erkan Kodak, director da Nestlé Congo, afirmou que os produtos da Nestlé que atravessam a fronteira com a RDC são vendidos a preços mais baixos, o que inviabiliz­ou a operação congolesa da companhia de lacticínio­s.

“A operação não estava a correr bem. Com a crise em Angola, os produtos Nestlé que atravessav­am a fronteira eram mais baratos que aqueles que produzimos na RDC”, explicou Erkan Kodak.

O director da Nestlé na RDC notou que, nem mesmo uma redução de pessoal decidida pela companhia pôde evitar o encerramen­to total da operação congolesa, algo que não estava nos planos da companhia.

“À medida que a Nestlé cresce em África, precisamos de garantir que a empresa permanece tão flexível e adaptável quanto possível. A nossa prioridade é oferecer produtos acessíveis aos consumidor­es. Por isso, decidimos encerrar a fábrica e sede na RDC e desenvolve­r um modelo de vendas baseado em canais de distribuiç­ão externos”, lê-se no comunicado.

O encerramen­to foi aprazado para o final de Janeiro, mas os trabalhado­res da Nestlé congolesa já foram dispensado­s com anúncio do fecho. “As contas de e-mail e acesso às instalaçõe­s foram imediatame­nte desactivad­as”, indicou.

Perdas pesadas

A subsidiári­a congolesa do gigante suíço iniciou as operações em 2009, mas a fábrica arrancou em 2012, depois de um investimen­to de 15 milhões de francos suíços (2,8 mil milhões de kwanzas) para a produção de cubos de caldo Maggi e leite de Nido embalado em saquetas, ao passo o resto da gama Nestlé distribuíd­a na RDC (Nescafé, Nesquik e produtos infantis) era importada.

“Estamos a mudar a forma de operar, mas não nos estamos a despedir: os consumidor­es encontrarã­o a mesma linha de produtos e continuare­mos activos no mercado congolês, contribuin­do para o cresciment­o do país”, declararam os serviços de comunicaçã­o da empresa num email citado pela revista “Jeune Afrique”.

A companhia declara estar “consciente” do momento difícil para os funcionári­os e estar empenhada em oferecer compensaçõ­es mais elevadas que as previstas na legislação laboral congolesa. “As negociaçõe­s sobre os termos para a partida ainda estão em andamento”, disse Erkan Kodak.

Em 2010, a empresa anunciou um programa de investimen­tos de quase mil milhões de euros (cerca de 186,4 mil milhões de kwanzas) ao longo de três anos no continente africano, mas foi mais cautelosa em 2015, depois de um recorde de vendas decepciona­ntes.

Com um volume de negócios de 1.811 milhões de francos suíços (315 mil milhões de kwanzas) na África Subsaarian­a em 2016, a companhia helvética registou uma queda de 81 milhões de francos suíços (mais de 14 mil milhões de kwanzas) entre 2015 e 2016.

Embargo a Angola

Em Agosto, o ministro do Comércio da RDC, JeanLucien Busa, proibiu a importação de cimento, açúcar, cerveja e refrigeran­tes, produtos do cabaz das exportaçõe­s empresaria­is e em grande parte informais de Angola para aquele país.

Jean-Lucien Busa justificou a decisão com a necessidad­e de se “pôr fim a fraude e ao contraband­o” e de proteger a indústria local do risco de ser absorvida por comerciant­es que cobram preços abaixo dos custos de produção, rejeitando a tese de o país estar a “adoptar o proteccion­ismo.”

Na região do sudoeste da RDC, na fronteira com Angola, um mercado próspero atrai pequenos comerciant­es que os compram a preços “extremamen­te baixos”, os quais o ministro do Comércio da RDC acreditava que “não pagam direitos, nem impostos” e constituír­em uma ameaça para a economia congolesa.

Em Agosto, o ministro do Comércio da RDC, Jean-Lucien Busa, proibiu a importação de cimento, açúcar, cerveja e refrigeran­tes, produtos exportados de Angola para aquele país

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MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO Fábrica da Nestlé inaugurada em Luanda em Agosto de 2012 produz a preços inferiores que os da que a companhia tinha instalada em Kinshasa

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