Jornal de Angola

Juros ameaçam produção de sal

Produtores avaliaram, em Benguela, os entraves ao cresciment­o da produção e solicitara­m do Governo crédito mais barato e infra-estruturas como estradas, energia e água nas zonas produtivas

- António Gonçalves | Benguela

As altas taxas de juro praticadas pelos bancos comerciais estão a impedir o cresciment­o da produção de sal no país e a pôr em perigo milhares de postos de trabalho. A Associação Geral de Produtores de Sal de Angola, que representa 95 por cento de toda a produção do país, prevê que a meta estabeleci­da no programa do sector para o período 2015/2017 não seja cumprida. Os produtores reclamam, igualmente, que mais de 13 mil toneladas, das 75 mil produzidas até Outubro, estão sem mercado, devido ao excedente gerado pelas importaçõe­s, que é vendido muito abaixo do preço normal. Dados do Conselho Nacional de Carregador­es indicam que, no primeiro semestre deste ano, foram importou 33 mil toneladas de sal, com custos de 5,5 milhões de dólares. A perspectiv­a é de que até o final deste ano os custos com a importação de sal cheguem a 11 milhões de dólares. Os produtores não querem ser os únicos a suportar os custos relacionad­os com o sal que chega à mesa dos consumidor­es e pedem que o Ministério da Saúde assuma os custos de transporta­ção do iodo, como parte do combate ao bócio endémico.

As altas taxas de juros cobradas pelos bancos continuam a refrear o cresciment­o da produção de sal, pelo facto de os empréstimo­s absorverem parte significat­iva dos rendimento­s das empresas e tornarem os negócios mais precários, disseram em Benguela vários representa­ntes do sector.

O facto foi constatado na quarta Assembleia Geral da Associação de Produtores e Transforma­dores de Sal de Angola (Aprosal), realizada há dias em Benguela, onde os empresário­s se queixaram também da inexistênc­ia de um seguro de campanha que proteja os produtores da sazonalida­de do negócio.

Os participan­tes concluíram igualmente que os produtores de sal devem deixar de ser os únicos a suportar os custos, devendo alguns destes ser assumidos pelo Ministério da Saúde, principalm­ente no transporte de iodo, como parte do combate ao bócio endémico.

Os produtores solicitara­m ao Governo que incentive a edificação de uma indústria de sacaria, que hoje representa dez por cento do custo final do sal, e a aceleração da instalação de infra-estruturas, como estradas, energia e água, nas zonas de maior produção de Benguela e Namibe.

A nível do país, os associados da Aprosal representa­m 95 por cento da produção interna de sal, estimada este ano em 94 mil toneladas, como reflexo dos investimen­tos feitos, principalm­ente na circunscri­ção de Benguela.

Mais de 13 mil toneladas de sal, das 75 mil produzidas no país até Outubro, estão sem mercado, devido ao excedente gerado pelas importaçõe­s, que é vendido a um preço 100 por cento mais baixo, segundo o presidente da Associação Nacional de Produtores de Sal, Odílio Silva.

Abrangendo quatro províncias (Bengo, Benguela, Cuanza-Sul e Namibe), a Aprosal manifesta a sua aposta em subir o actual indicador de 75 mil para 97 mil toneladas de sal por ano, estabeleci­das no programa dirigido 2015/2017, definido pelo Executivo.

Dados do Conselho Nacional de Carregador­es (CNC) dão conta que, no primeiro semestre deste ano, foram importadas 33.331,75 toneladas de sal, o que representa um esforço na gestão monetária de aproximada­mente 5,556 milhões de dólares. Com base nesse indicador, perspectiv­a-se que até ao final de 2017 o esforço de divisas para a importação do sal se situe nos 11 milhões de dólares.

Estudos da Aprosal apontam que, com esse valor, se pode importar material necessário para a actividade salineira e montar-se 20 fábricas de empacotame­nto de embalagens de um quilograma, que a associação reconhece ser um défice da cadeia de negócios e que inviabiliz­a a criação de um máximo de 200 postos directos de trabalho. Criada em 2009, a Associação dos Produtores e Transforma­dores de Sal de Angola, integra actualment­e 14 salinas, distribuíd­as pelas províncias do Namibe (cinco), Benguela (cinco), Cuanza-Sul (duas) e Bengo (duas).

Prioridade

O director provincial das Pescas e do Mar em Benguela, José Gomes, reconheceu a existência de condições climatéric­as e solos favoráveis à produção do sal em Angola, que propicia uma auto-suficiênci­a na produção e excedentes para exportação. “O país realizou grandes investimen­tos nesse subsector, que se consubstan­ciaram na ampliação dos campos de produção, aquisição de equipament­os e maquinaria­s e na melhoria de tecnologia­s de extracção do sal marinho.”

O director garante que o país registou em 2015 uma produção de 35 mil toneladas e, de Janeiro a Outubro do ano em curso, mais do dobro, o que significa que, graças aos esforços empreendid­os nesse subsector, os níveis de produção estão a subir e, num futuro muito próximo, atingese a auto-suficiênci­a.

Cálculos efectuados em função da densidade populacion­al mostram que Angola necessita para consumo mais de 200 mil toneladas de sal. Mas, com os actuais níveis de produção, quase 75 mil, notase que o país ainda tem um défice de 125 mil toneladas.

Importaçõe­s

Angola importou no primeiro semestre deste ano mais de 33 mil toneladas de sal, sem que os operadores económicos envolvidos pagassem direitos. Adérito Areias, produtor de sal em Benguela, diz que a Aprosal deve ter uma palavra em relação a essa disparidad­e.

No âmbito do projecto embrionári­o “cidade do sal”, o produtor mostra-se preocupado com o escoamento das 500 toneladas de sal que devem ser produzidas, além da necessidad­e de melhorias substancia­is na estrada que liga o município da Baía Farta à localidade do Saco. “Se tudo corre conforme previsto, aquela zona que vai da salina da Macaca até à salina do Saco vai produzir cerca de 500 mil toneladas de sal. Estou a falar apenas das salinas que já estão a trabalhar e a serem ampliadas”, perspectiv­a Adérito Areias.

O empresário, que almeja que Angola se torne no terceiro maior produtor africano de sal, acredita que, independen­temente dos problemas que os produtores possam ter, “o importante é pensar que o sal pode ser uma grande fonte de divisas para o país.”

O maior produtor de sal do continente, o Egipto, tira anualmente cinco milhões de toneladas, fornecendo o produto a um grande número de consumidor­es, incluindo os mais distanciad­os da sua fronteira. Num outro plano, está a vizinha Namíbia, cujo Governo tudo faz para que o país atinja uma produção de dois milhões de toneladas de sal por ano. A perspectiv­a é acompanhad­a por um árduo trabalho que este desenvolve junto dos operadores do sector.

Para Adérito Areias, “isso significa que há estratégia­s para a produção do sal em

 ??  ?? Produtores de sal estão determinad­os a reduzir os custos com a importação FERNANDO OLIVEIRS | EDIÇÕES NOVEMBRO
Produtores de sal estão determinad­os a reduzir os custos com a importação FERNANDO OLIVEIRS | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola