Juros ameaçam produção de sal
Produtores avaliaram, em Benguela, os entraves ao crescimento da produção e solicitaram do Governo crédito mais barato e infra-estruturas como estradas, energia e água nas zonas produtivas
As altas taxas de juro praticadas pelos bancos comerciais estão a impedir o crescimento da produção de sal no país e a pôr em perigo milhares de postos de trabalho. A Associação Geral de Produtores de Sal de Angola, que representa 95 por cento de toda a produção do país, prevê que a meta estabelecida no programa do sector para o período 2015/2017 não seja cumprida. Os produtores reclamam, igualmente, que mais de 13 mil toneladas, das 75 mil produzidas até Outubro, estão sem mercado, devido ao excedente gerado pelas importações, que é vendido muito abaixo do preço normal. Dados do Conselho Nacional de Carregadores indicam que, no primeiro semestre deste ano, foram importou 33 mil toneladas de sal, com custos de 5,5 milhões de dólares. A perspectiva é de que até o final deste ano os custos com a importação de sal cheguem a 11 milhões de dólares. Os produtores não querem ser os únicos a suportar os custos relacionados com o sal que chega à mesa dos consumidores e pedem que o Ministério da Saúde assuma os custos de transportação do iodo, como parte do combate ao bócio endémico.
As altas taxas de juros cobradas pelos bancos continuam a refrear o crescimento da produção de sal, pelo facto de os empréstimos absorverem parte significativa dos rendimentos das empresas e tornarem os negócios mais precários, disseram em Benguela vários representantes do sector.
O facto foi constatado na quarta Assembleia Geral da Associação de Produtores e Transformadores de Sal de Angola (Aprosal), realizada há dias em Benguela, onde os empresários se queixaram também da inexistência de um seguro de campanha que proteja os produtores da sazonalidade do negócio.
Os participantes concluíram igualmente que os produtores de sal devem deixar de ser os únicos a suportar os custos, devendo alguns destes ser assumidos pelo Ministério da Saúde, principalmente no transporte de iodo, como parte do combate ao bócio endémico.
Os produtores solicitaram ao Governo que incentive a edificação de uma indústria de sacaria, que hoje representa dez por cento do custo final do sal, e a aceleração da instalação de infra-estruturas, como estradas, energia e água, nas zonas de maior produção de Benguela e Namibe.
A nível do país, os associados da Aprosal representam 95 por cento da produção interna de sal, estimada este ano em 94 mil toneladas, como reflexo dos investimentos feitos, principalmente na circunscrição de Benguela.
Mais de 13 mil toneladas de sal, das 75 mil produzidas no país até Outubro, estão sem mercado, devido ao excedente gerado pelas importações, que é vendido a um preço 100 por cento mais baixo, segundo o presidente da Associação Nacional de Produtores de Sal, Odílio Silva.
Abrangendo quatro províncias (Bengo, Benguela, Cuanza-Sul e Namibe), a Aprosal manifesta a sua aposta em subir o actual indicador de 75 mil para 97 mil toneladas de sal por ano, estabelecidas no programa dirigido 2015/2017, definido pelo Executivo.
Dados do Conselho Nacional de Carregadores (CNC) dão conta que, no primeiro semestre deste ano, foram importadas 33.331,75 toneladas de sal, o que representa um esforço na gestão monetária de aproximadamente 5,556 milhões de dólares. Com base nesse indicador, perspectiva-se que até ao final de 2017 o esforço de divisas para a importação do sal se situe nos 11 milhões de dólares.
Estudos da Aprosal apontam que, com esse valor, se pode importar material necessário para a actividade salineira e montar-se 20 fábricas de empacotamento de embalagens de um quilograma, que a associação reconhece ser um défice da cadeia de negócios e que inviabiliza a criação de um máximo de 200 postos directos de trabalho. Criada em 2009, a Associação dos Produtores e Transformadores de Sal de Angola, integra actualmente 14 salinas, distribuídas pelas províncias do Namibe (cinco), Benguela (cinco), Cuanza-Sul (duas) e Bengo (duas).
Prioridade
O director provincial das Pescas e do Mar em Benguela, José Gomes, reconheceu a existência de condições climatéricas e solos favoráveis à produção do sal em Angola, que propicia uma auto-suficiência na produção e excedentes para exportação. “O país realizou grandes investimentos nesse subsector, que se consubstanciaram na ampliação dos campos de produção, aquisição de equipamentos e maquinarias e na melhoria de tecnologias de extracção do sal marinho.”
O director garante que o país registou em 2015 uma produção de 35 mil toneladas e, de Janeiro a Outubro do ano em curso, mais do dobro, o que significa que, graças aos esforços empreendidos nesse subsector, os níveis de produção estão a subir e, num futuro muito próximo, atingese a auto-suficiência.
Cálculos efectuados em função da densidade populacional mostram que Angola necessita para consumo mais de 200 mil toneladas de sal. Mas, com os actuais níveis de produção, quase 75 mil, notase que o país ainda tem um défice de 125 mil toneladas.
Importações
Angola importou no primeiro semestre deste ano mais de 33 mil toneladas de sal, sem que os operadores económicos envolvidos pagassem direitos. Adérito Areias, produtor de sal em Benguela, diz que a Aprosal deve ter uma palavra em relação a essa disparidade.
No âmbito do projecto embrionário “cidade do sal”, o produtor mostra-se preocupado com o escoamento das 500 toneladas de sal que devem ser produzidas, além da necessidade de melhorias substanciais na estrada que liga o município da Baía Farta à localidade do Saco. “Se tudo corre conforme previsto, aquela zona que vai da salina da Macaca até à salina do Saco vai produzir cerca de 500 mil toneladas de sal. Estou a falar apenas das salinas que já estão a trabalhar e a serem ampliadas”, perspectiva Adérito Areias.
O empresário, que almeja que Angola se torne no terceiro maior produtor africano de sal, acredita que, independentemente dos problemas que os produtores possam ter, “o importante é pensar que o sal pode ser uma grande fonte de divisas para o país.”
O maior produtor de sal do continente, o Egipto, tira anualmente cinco milhões de toneladas, fornecendo o produto a um grande número de consumidores, incluindo os mais distanciados da sua fronteira. Num outro plano, está a vizinha Namíbia, cujo Governo tudo faz para que o país atinja uma produção de dois milhões de toneladas de sal por ano. A perspectiva é acompanhada por um árduo trabalho que este desenvolve junto dos operadores do sector.
Para Adérito Areias, “isso significa que há estratégias para a produção do sal em