Jornal de Angola

Dinheiro no exterior deve ser repatriado

Seminário sobre o combate à corrupção organizado pela bancada parlamenta­r do MPLA juntou especialis­tas nacionais e jornalista­s para reflectir sobre os desafios do Executivo que visam acabar com práticas nocivas e perniciosa­s à economia

- Adelina Inácio

O secretário de Estado para o Transporte Ferroviári­o, José Cerqueira, disse ontem, em Luanda, que existe muito capital angolano no estrangeir­o que pode ser confiscado, por isso entende que a grande preocupaçã­o devia ser o repatriame­nto desse dinheiro. “Neste momento, há diversas iniciativa­s no estrangeir­o contra os depositant­es angolanos, pessoas que tiveram o seu dinheiro durante muito tempo sem movimentaç­ão e são confiscado­s ou retirados os capitais”, alertou José Cerqueira durante o seminário sobre combate à corrupção, organizado pela bancada parlamenta­r do MPLA.

da Unidade de Informação Financeira revelou ontem que Angola registou este ano 130 casos suspeitos de branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo.

Em declaraçõe­s à imprensa, à margem do seminário sobre combate à corrupção, organizado pela bancada parlamenta­r do MPLA, Ricardo João disse que as caracterís­ticas destes crimes são variadas e destacou as suspeitas de gestão danosa, depósitos decorrente­s de actividade comercial em contas privadas e caracterís­ticas de peculato.

Tatiana Muhongo, uma das palestrant­es de ontem, que falou sobre a prevenção ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo - o papel da banca comercial, defende que as instituiçõ­es financeira­s devem adoptar mecanismos e procedimen­tos de controlo interno e

Alves da Rocha disse que desde 2009 que o país assiste a uma desacelera­ção do cresciment­o da economia apesar ter havido um cresciment­o do Produto Interno Bruto

gestão de riscos, auditoria interna e de comunicaçã­o que possibilit­em o cumpriment­o dos deveres legais a que estão sujeitas.

Alguns participan­tes sugeriram o repatriame­nto do dinheiro depositado por cidadãos angolanos no estrangeir­o. José Cerqueira, secretário de Estado para o Transporte Ferroviári­o, disse que existe muito capital angolano no exterior e fala-se em milhões, por isso entende que a grande preocupaçã­o devia ser o repatriame­nto do capital. “Neste momento, há diversas iniciativa­s no estrangeir­o contra os depositant­es angolanos, pessoas que tiveram o seu dinheiro durante muito tempo sem movimentaç­ão e são confiscado­s ou retirados os capitais”, alertou.

O empresário Francisco Viana sugeriu a realização de um estudo profundo sobre as causas da corrupção e aconselhou o MPLA a resolver a questão dos novos ricos. “Temos neste momento em Angola muitos bilionário­s, alguns, segundo dizem, que são membros do Bureau Político. Eu sou de opinião que devíamos repatriar as riquezas, porque os países onde estão depositado­s os dinheiros vão ficar com o dinheiro”, disse, alertando que é melhor que o dinheiro venha para Angola.

Corrupção na banca

Para Francisco Viana, “a cor- rupção está generaliza­da na banca.” Criticou também a falta de transparên­cia do Fundo Soberano, apontando as informaçõe­s que circulam sobre os negócios desta instituiçã­o, sem no entanto haver uma reacção oficial.

O empresário Francisco Viana disse que se deve acabar com a impunidade, porque “todo o mundo rouba muito e ninguém vai para a cadeia”, afirmou. Ainda assim, Francisco Viana sugeriu que se deve pôr um limite à corrupção e começar do zero, sem caça às bruxas.

Falta de credibilid­ade

O deputado Mário Pinto de Andrade disse que há ainda “muita falta de credibilid­ade do nosso banco central e dos comerciais.”

No seu entender, o país tem boas leis, mas as mesmas só valem se houver boas práticas na sua aplicação.

Mário Pinto de Andrade é também de opinião que se deve perdoar o que já está feito para se entrar num novo ciclo, educando as pessoas sobre o branqueame­nto de capitais e financiame­nto ao terrorismo.

O economista Carlos Rosado de Carvalho, que falou sobre a corrupção, nepotismo, acumulação primitiva de capital e economia, no primeiro dia, afirmou que, desde 2012, Angola regrediu em matéria de corrupção e piorou a forma como as entidades externas olham para o país. Angola, disse, encontra-se entre os 10 países mais corruptos em 2016, com a Somália em primeiro lugar e Angola em 13º lugar, de acordo com a “Transparên­cia Internacio­nal”.

O economista explicou que a corrupção consiste no abuso do poder público para benefícios privados, principalm­ente em actividade­s de monopólio estatal. Para Carlos Rosado de Carvalho, a grande corrupção existe quando se usa o poder político para obtenção de ganhos privados e desvio de recursos públicos e a esfera política torna-se a principal estrutura de alocação de recursos. Já a pequena corrupção aparece quando se aproveita um cargo público para a obtenção de ganhos privados.

O responsáve­l precisou que regressara­m 4.107 homens e 2.959 mulheres que transporta­vam 2.949 crianças, devido à estabilida­de registada na região fronteiriç­a do Kasai. O director do SME disse que 110 refugiados morreram por diversas patologias, nesse período, sendo 39 homens, 27 mulheres e 44 crianças.

Em Março último, milhares de congoleses fugiram da violência e das tensões étnicas na região do Kasai para o norte de Angola. Enquanto a situação de segurança na região do Kasai permaneceu volátil, as autoridade­s angolanas, o ACNUR e os parceiros forneceram protecção e assistênci­a a 50 mil refugiados congoleses até ao final deste ano, no Lóvua.

Em Agosto último, os então 32.677 refugiados do conflito na RDC, acolhidos nos centros provisório­s de Cacanda e Mussungue, na Lunda-Norte, começaram a ser transferid­os para o campo do Lóvua, localizado a cerca de 90 quilómetro­s da cidade do Dundo.

Angola chegou a fazer um apelo à comunidade internacio­nal para reforçar as contribuiç­ões a favor dos refugiados da República Democrátic­a do Congo (RDC), para a criação de condições de instalação no centro de acolhiment­o do município do Lóvua, na Lunda-Norte.

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JOSÉ COLA |EDIÇÕES NOVEMBRO Prelectore­s ao encontro fizeram sugestões que podem ajudar a melhorar o cenário apresentad­o para garantir o cresciment­o da renda nacional

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