Jornal de Angola

Ramaphosa sucede a Zuma na liderança do ANC

Cyril Ramaphosa ganhou a corrida para suceder a Jacob Zuma como líder do ANC, no final de “uma longa maratona”. O novo número 1 conseguiu vencer Nkosazana Dlamini-Zuma por 179 votos. Desta forma, Ramaphosa fica numa posição de força para 2019, quando se r

- Victor Carvalho

Depois de um dia de adiamento na decisão final e após uma recontagem de votos, Cyrill Ramaphosa, de 65 anos, foi eleito ontem como novo líder do Congresso Nacional Africano, posicionan­do-se deste modo em excelente posição para ser o próximo Presidente da África do Sul nas eleições de 2019.

A votação final, 2.440 votos para Ramaphosa e 2.261 para Dlamini-Zuma, deixa perceber a dimensão da proximidad­e do número de apoios que estes dois candidatos tiveram ao longo da conferênci­a. Deixa, igualmente, entender que neste momento o ANC está praticamen­te partido ao meio, o que não representa nada de bom para os apelos que Jacob Zuma havia feito no seu discurso de abertura do evento.

Antes do anúncio do resultado final da votação, os cerca de 5 mil delegados que participar­am nos quatro dias de conferênci­a do partido, no Centro de Exposições de Joanesburg­o, não escondiam o seu nervosismo desdobrand­o-se em acaloradas reuniões que serviram para mostrar que, fosse qual fosse o vencedor, o ANC está cada vez mais dividido.

A contagem dos votos começou e deveria terminar no domingo, mas o ambiente de forte tensão e desconfian­ça que, aliás, tem dominado a política sul-africana desde o fim do apartheid, levou a um adiamento de 24 horas e depois a uma recontagem dos votos pedida, naturalmen­te, pela candidata derrotada.

Apesar de haver vários candidatos à liderança do partido, a disputa sempre se resumiu a Nkosazana Dlamini-Zuma, ex-ministra, antiga presidente da União Africana e ex-esposa do presidente Jacob Zuma, e a Cyril Ramaphosa, um antigo sindicalis­ta que se tornou empresário e é actualment­e vice-Presidente.

Uma vitória de DlaminiZum­a era vista como uma continuaçã­o das políticas da actual direcção do partido, enquanto Ramaphosa era o favorito para introduzir as reformas económicas que os especialis­tas dizem ser necessária­s para restabelec­er a estabilida­de social.Antes ainda do início da conferênci­a, as primeiras indicações dadas a partir das reuniões dos ramos regionais do ANC mostravam já uma ligeira vantagem para Ramaphosa.

Apelo à unidade interna

No seu discurso de abertura da conferênci­a, Jacob Zuma pediu unidade aos delegados e afirmou que o “facciosism­o é a principal ameaça” que enfrenta o ANC. Embora nunca o tivesse dito de forma explicita, Jacob Zuma apoiava a sua ex-mulher, havendo quem consideras­se que isso lhe daria certamente algum tipo de protecção judicial nos processos em que está envolvido.

Um relatório publicado no ano passado pela Protectora Pública da África do Sul – uma figura semelhante ao Provedor de Justiça – acusava Zuma de ter beneficiad­o um grupo de empresário­s na celebração de contratos públicos. O mau estado da economia sul-africana e outras acusações em tribunal contra Jacob Zuma têm contribuíd­o para uma perda de legitimida­de do ANC, e muitos receiam que o partido possa mesmo não conseguir uma maioria nas próximas eleições.

No ano passado, o ANC perdeu o controlo em algumas das principais cidades, incluindo Pretória e Joanesburg­o, por causa do descontent­amento da classe média.

Com esta vitória, Cyrill Ramaphosa ganha o direito a ser o canditado pelo ANC às eleições de 2019, sendo de prever que possa ser ele o futuro presidente da África do Sul. Até agora, o seu discurso tem sido de forte condenação a um Estado que ele diz ser marcado por uma “forte corrupção”.

Contando com o apoio dos chamados “homens de negócios”, Ramaphosa tem agora a missão de convencer os que apoiaram e eventualme­nte ainda apoiam Dlamini-Zuma a juntarem-se a ele para, juntos, voltarem a colocar a África do Sul na liderança da economia africana, um lugar que perdeu há dois anos para a Nigéria.

A eleição do novo presidente do ANC deixa claro que o partido está praticamen­te quebrado ao meio, o que não representa nada de bom para os apelos de Jacob Zuma

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GLYN KIRK | AFP Cyril Ramaphosa tem 65 anos e é um dos empresário­s mais ricos da África do Sul
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Cyrill Ramaphosa promete fazer o ANC um partido mais forte e centrado na vida dos sulafrican­os THENEWVOIC­E.CO.ZA

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