Jornal de Angola

ANC: A dinastia política resiste no tempo

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Na África do Sul, o senhor que se segue na dinastia política do ANC (Congresso Nacional Africano, na sigla inglesa) é Cyril Ramaphosa. O "milionário do ouro" que beneficiou também do "black empowermen­t" é agora o presidente do partido libertador do apartheid e sério candidato a Presidente da República.

No país onde não há eleições presidenci­ais e o cabeçade-lista nominal do partido nas eleições legislativ­as é confirmado Presidente da República por voto no Parlamento, nem o Presidente da República tem limite constituci­onal de mandato, as eleições estão marcadas para 2019. Normalment­e é o desgaste político que indica o caminho para fora ao Presidente em funções. À excepção de Nelson Mandela, Thabo Mbeki e Jacob Zuma foram parar ao cemitério daqueles que terminam o mandato com a popularida­de em baixa.

Cyril Ramaphosa chegou a ser chumbado pela organizaçã­o juvenil do ANC, que preferiu apoiar Nkosazana DlaminiZum­a, ex-mulher de Jacob Zuma, antiga ministra das Relações Exteriores e ex-presidente da União Africana.

A juventude do ANC pretendia "romper" com o modelo tradiciona­l de uma "primeira liga" que determina a escolha do candidato do partido a Presidente da República. O ANC sempre negou que existisse uma “primeira liga”, e o porta-voz do presidente do Parlamento sul-africano chegou a negar que Ramaphosa tivesse sido abordado para ser o candidato do partido.

Ano e meio depois, ficou confirmado que houve sim um encontro onde o assunto foi abordado, mas o partido quis evitar uma confrontaç­ão semelhante ao que aconteceu em 2007 entre Jacob Zuma e Thabo Mbecki.

Ramaphosa é um empresário mineiro (ouro), com investimen­tos na mina da Marikana, onde há poucos anos a polícia disparou mortalment­e contra dezenas de trabalhado­res em greve numa manifestaç­ão para exigir os seus direitos.

A juventude do ANC é tradiciona­l e historicam­ente influente na escolha de presidente­s. Foi ela quem colocou Thabo Mbecki como sucessor de Nelson Mandela. Foi também influente na escolha de Jacob Zuma, mas não conseguiu "promover" a reeleição de Kgalema Motlanthe, em 2012, para presidente do partido. É nesta liga juvenil onde militou o irreverent­e e polémico Julius Malema, expulso do partido, e que fundou uma formação política (EFF) que, na sua primeira presença nas eleições, conseguiu assentos no Parlamento.

Num país onde a corrupção na política está ao mais alto nível, Ramaphosa é dos poucos tidos como “limpo”. É um gestor agressivo no bom sentido. Cyril Ramaphosa era o sucessor expectável de Jacob Zuma na presidênci­a do ANC, tal como a longa tradição do partido recomenda, mas a liga feminina do partido libertador do apartheid, depois da liga juvenil, chegou a romper com a tradição na sucessão e chegou a considerar que era a vez de uma mulher no trono presidenci­al.

E a preferida foi ex-mulher de Jacob Zuma, Dlamini-Zuma, então presidente da comissão da União Africana. A liga dos veteranos e antigos combatente­s do ANC também manifestou o seu apoio à (ex) senhora Zuma. As duas organizaçõ­es são amplamente apoiadas pela conhecida "primeira liga", constituíd­a pelas influentes província de Mpumalanga, Free State e North West. Dlamini-Zuma saiu derrotada, mas vendeu cara a derrota.

Também lá há uma batalha terrível contra a corrupção. E o primeiro teste a doer de Ramaphosa, caso venha a ser eleito Presidente da República, na luta contra a corrupção é a nomeação de um procurador-geral. Lá é um assunto urgente e crucial e um procurador com um perfil limpo pode dar uma indicação clara da capacidade e da vontade de Ramaphosa de combater a “maior instituiçã­o mundial” organizada - a corrupção.

Num país onde a corrupção na política está ao mais alto nível, Ramaphosa é dos poucos tidos como “limpo”. É um gestor agressivo no bom sentido. Ramaphosa era o sucessor expectável de Jacob Zuma na presidênci­a do ANC

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