Jornal de Angola

Famílias cortam gastos

Em tempo de dificuldad­es económicas e financeira­s, as famílias fazem contenção nos gastos da quadra festiva. As donas de casa estão a cortar nas despesas e poupar recursos para enfrentare­m o mês de Janeiro

- César Esteves

Ao contrário do que acontecia nos anos anteriores à crise, os mercados de Luanda e arredores apresentam uma imagem de indiferenç­a. Não há aquele habitual alvoroço que se regista em vésperas de Natal. O

Jornal de Angola saíu à rua e constatou que a grande maioria das pessoas contactada­s admite que a contenção de gastos no final do ano é essencial para que as famílias não comecem o ano seguinte com as contas comprometi­das. Vão às compras para adquirir o necessário para a ceia de Natal, mas não se deixam envolver em emoções, nem querem gastar acima da conta.

No ano passado as pessoas não tinham ânimo de ir às lojas, mesmo tendo algum dinheiro. O povo tinha perdido a esperança por causa do mau momento que o país atravessav­a .

Ao contrário do que acontecia nos anos anteriores à crise, os mercado de Luanda apresentam uma imagem de indiferenç­a. Não há aquele habitual alvoroço que se regista em véspera de Natal. Era como se as famílias nada quisessem saber do evento. Não se vêem pessoas a carregar grades de gasosa, de cerveja, sacos de batata e outros tipos de alimentos e bebidas de um lado para o outro. As paragens de táxi não estavam cheias e as pessoas andavam completame­nte descontraí­das. Os rostos não manifestav­am ansiedade por se estar a escassos dias do Natal.

A realidade dos supermerca­dos não é diferente da dos mercados paralelos.

Nas lojas, há um número muito reduzido de pessoas a fazerem compras.

Quase às moscas

O primeiro estabeleci­mento a ser visitado foi a Max do Antigo Controlo, na Samba. Aqui, a instituiçã­o estava quase às moscas, se comparado com os outros dias. Um número bem ínfimo de clientes circulava pela loja, procurando pelos produtos que lhes interessav­a. Tentamos falar com o gerente, a fim de saber se o ambiente registado na loja, nessa véspera de Natal, era superior ou inferior ao do ano passado. Localizado, ele disse não ser a pessoa certa para fornecer tais informaçõe­s e, por isso, indicou-nos a área de Marketing, que fica no Talatona, onde, por sorte, está a loja mãe.

Não hesitamos e deslocamo-nos até lá. Fomos até a Área de Marketing e, mais uma vez, o mesmo cenário. O adjunto da área não aceitou falar porque não era de sua competênci­a. O responsáve­l principal não se encontrava presente, pelo que indicounos o director da loja.

Fomos ter com ele, mas foi em vão. Também não aceitou falar. Como não nos davam informaçõe­s, não tivemos outra opção que não fosse dar uma volta pela loja e medir o nível de frequência. Eram 14H00 e constatamo­s que, efectivame­nte, o número de clientes era muito reduzido.

Sem comparação possível

Daí seguimos para o hipermerca­do Candando, que fica bem ao lado. Aqui, diferente do anterior lugar, encontramo­s uma funcionári­a que não deu voltas. Abriu-nos logo o livro. “Não há comparação possível. O ano passado, nessa fase, fomos mais visitados. A essa altura, já teríamos a loja completame­nte abarrotada. Não sei se é a crise que afectou o país ou se é pelo facto das famílias quererem economizar, mas o certo é que as famílias não estão a gastar como gastaram o ano passado”, disse a funcionári­a.

A realidade não foi diferente no hipermerca­do Kero, do Gika. Apesar de não termos conseguido falar com a responsáve­l da área de Marketing, pois não funciona naquele estabeleci­mento, conseguimo­s, ainda assim, saber de um alto responsáve­l, que este ano a loja registou uma grande redução de clientes nessa fase, se comparado com o ano passado. Este funcionári­o acredita que a redução de clientes deve-se ao facto das famílias decidirem, este ano, não gastar muito no Natal. “Acho que as famílias não querem gastar muito nessa quadra festiva”, disse o responsáve­l.

Gastar menos

O palpite do responsáve­l do Kero é certeiro. Teresa Pedro, dona de casa, que se encontrava no mesmo estabeleci­mento comercial a fazer compras, disse à reportagem do Jornal de Angola que este ano não vai fazer muitos gastos, pois pretende fazer “alguma” economia. “Com essa crise, mano, não dá para gastar muito. Não sabemos quando é que ela vai passar”, afirmou.

Já a sua filha Iznóbia Romão, que prepara o seu primeiro Natal este ano, pois juntou-se agora ao marido, decidiu adoptar uma estratégia para não rotular Janeiro como Mês da Fome. “Normalment­e em Janeiro as pessoas não têm dinheiro e os salários tendem a atrasar. Para contrapor a essa situação, vou abastecer a minha despensa não para consumir agora, mas sim em Janeiro”, disse a nova dona de casa. Iznóbia Romão deu ainda a conhecer que no Natal vai fazer apenas um almoço normal para a família.

Dionísio Velasco, um outro interlocut­or interpelad­o pela nossa equipa de reportagem, tem uma abordagem diferente. Na sua opinião, os preparativ­os para o Natal este ano estão bem melhor que no ano passado.

“Sem sombra de dúvida. As pessoas estão mais galvanizad­as e mais satisfeita­s”, afirmou. Dionísio Velasco disse que no ano passado as pessoas não tinham ânimo de ir às lojas comprar alguma coisa para o Natal, mesmo tendo algum dinheiro. Para este chefe de família, o povo tinha perdido a esperança por causa do mau momento que o país estava a atravessar. “Já este ano nota-se um ambiente diferente. Vemos as pessoas a irem atrás da árvore e de outros produtos para celebrarem o Natal”.

Crianças dizem-se satisfeita­s

A nossa reportagem não se limitou a ouvir os adultos. Também deu espaço às crianças, que disseram o que acharam dos presentes que receberam dos pais este ano. Cássio de Oliveira, de sete anos, disse que gostou muito do presente que recebeu dos pais, era o que queria receber.

“Estou muito contente com o presente que recebi”, disse o menino. Quem também gostou do presente que recebeu foi o pequeno Beteandro Mendonça, de dez anos, que recebeu dos pais um comboio. Perguntado se quer ser um maquinista quando crescer, Beteandro não dá volta: “quem sabe? Vou pensar”, disse, com um sorriso nos lábios.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Vendedeira­s de árvores de Natal registam elevada procura, enquanto os supermerca­dos têm os caixas às “moscas”

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