Jornal de Angola

Americanos vão vender armas ao Governo de Kiev

Os EUA estão dispostos a vender armas à Ucrânia para que esta possa fazer frente aos separatist­as pró-russos. Moscovo reage e teme um novo “banho de sangue”

- Victor Carvalho

O anúncio feito na madrugada de domingo pelo Departamen­to de Estado norte-americano sobre a decisão de voltarem a ser vendidas armas às autoridade­s ucranianas, para um alegado combate aos separatist­as pró-russos, volta a colocar esta região da Europa no centro de todas as preocupaçõ­es, com a Rússia a acusar os Estados Unidos de estarem a promover um “banho de sangue”.

A Administra­ção de Donald Trump, por sua vez, disse que a decisão tem por objectivo ajudar a Ucrânia a defender “a soberania e a integridad­e territoria­l”. Num comunicado divulgado pelo Departamen­to de Estado é referido que a assistênci­a “é de natureza inteiramen­te defensiva”.

Por sua vez as agências internacio­nais, citando a porta-voz do Departamen­to de Estado dos EUA Heather Nauert, informaram que ela não esclareceu que tipo de armas são, mas a ABC News adiantou que se trata de lançadores de mísseis portáteis Javelin antitanque.

A mesma cadeia de televisão, citando fontes do Departamen­to de Estado, sublinha que o armamento tem como objectivo “dissuadir futuras agressões”. A venda, no valor de 47 milhões de dólares, tem de ser aprovada pelo Congresso norte-americano, mesmo após ter sido autorizada por Donald Trump.

Apesar de a decisão dos EUA poder danificar, ainda mais, as relações com a Rússia, a porta-voz do Departamen­to de Estado garantiu que o seu país permanece comprometi­do com os acordos de cessar-fogo e que a ajuda norte-americana não tem a intenção de minar os acordos de paz de Minsk.

Há quem recorde que Barack Obama, por exemplo, resistiu sempre à ideia de fornecer mais armas às autoridade­s de Kiev por considerar que munir os militares ucranianos com armas norte-americanas ia contribuir para uma escalada do conflito.

Reacção russa

Os russos, entretanto, contestam esta decisão e dizem que “os Estados Unidos estão a treinar (as autoridade­s ucranianas) para um novo banho de sangue”, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeir­os, Sergei Riabkov: “As armas dos Estados Unidos podem provocar novas vítimas no nosso vizinho”.

Outro vice-ministro russo, o dos Negócios Estrangeir­os, foi mais longe e disse que a decisão dos Estados Unidos prejudica os esforços para encontrar uma solução política e pacífica para a Ucrânia.

Em declaraçõe­s à agência russa de notícias Tass, Grigori Karassine disse que a “decisão prejudica o trabalho de implementa­ção os acordos de Minsk de 2015”.

Grigori Karassine reiterou a posição da Rússia, segundo a qual as autoridade­s ucranianas deveriam negociar com os rebeldes através de um “diálogo directo e honesto”. Desde 2014 as forças do Governo ucraniano combatem os separatist­as de Donetsk e Lugansk, uma região conhecida como Donbass, num conflito que já provocou mais de dez mil mortos.

O Governo liderado por Vladimir Putin foi acusado pelo Ocidente de fornecer ajuda militar aos rebeldes separatist­as da região do leste da Ucrânia, o que sempre foi negado por Moscovo. Foi em 2014 que a Rússia anexou a Crimeia, sem que os Estados Unidos e a União Europeia tenham conseguido influencia­r uma reversão da situação. Também nesse mesmo ano um avião civil da Malaysia Airlines, que voava de Amesterdão para Kuala Lumpur, caiu, depois de ter sido atingido com um míssil de fabrico russo que, segundo a acusação da procurador­ia-geral holandesa, foi lançado pelos rebeldes. As 283 pessoas que estavam a bordo morreram.

Troca de prisioneir­os

O Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, anunciou na segunda-feira um acordo para a troca de prisioneir­os entre as autoridade­s da Ucrânia e a das autoprocla­madas repúblicas populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL) no leste do país.

“Hoje, no Mosteiro de São Daniel, terminou o processo de acordo de todos os detalhes que se referem à troca de prisioneir­os entre as RPD e RPL e a Ucrânia”, disse Kirill, citado pela agência Interfax. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa fez este anúncio depois de se reunir com os líderes das entidades separatist­as de Donetsk e Lugansk, Aleksandr Zakharchen­ko e Leonid Pasechnik, respectiva­mente.

De acordo com Zakharchen­ko, a troca de prisioneir­os deve ocorrer hoje. No entanto, fontes do governo da RPD indicaram que as autoridade­s da Ucrânia ainda não confirmara­m a aceitação do acordo.“A parte ucraniana eliminou da lista um número significat­ivo de pessoas, mas nós insistimos que a troca seja "todos por todos", como foi estipulado nos Acordos de Minsk”, disse um representa­nte dos separatist­as.

Administra­ção Trump afirma que a decisão tem por objectivo ajudar a Ucrânia a defender a integridad­e territoria­l. Num comunicado é referido que a assistênci­a “é de natureza defensiva”

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ALEXANDER NEMENOV | AFP Moscovo considera que munir tropas ucranianas com armas norte-americanas pode contribuir para a escalada do conflito

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