Americanos vão vender armas ao Governo de Kiev
Os EUA estão dispostos a vender armas à Ucrânia para que esta possa fazer frente aos separatistas pró-russos. Moscovo reage e teme um novo “banho de sangue”
O anúncio feito na madrugada de domingo pelo Departamento de Estado norte-americano sobre a decisão de voltarem a ser vendidas armas às autoridades ucranianas, para um alegado combate aos separatistas pró-russos, volta a colocar esta região da Europa no centro de todas as preocupações, com a Rússia a acusar os Estados Unidos de estarem a promover um “banho de sangue”.
A Administração de Donald Trump, por sua vez, disse que a decisão tem por objectivo ajudar a Ucrânia a defender “a soberania e a integridade territorial”. Num comunicado divulgado pelo Departamento de Estado é referido que a assistência “é de natureza inteiramente defensiva”.
Por sua vez as agências internacionais, citando a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA Heather Nauert, informaram que ela não esclareceu que tipo de armas são, mas a ABC News adiantou que se trata de lançadores de mísseis portáteis Javelin antitanque.
A mesma cadeia de televisão, citando fontes do Departamento de Estado, sublinha que o armamento tem como objectivo “dissuadir futuras agressões”. A venda, no valor de 47 milhões de dólares, tem de ser aprovada pelo Congresso norte-americano, mesmo após ter sido autorizada por Donald Trump.
Apesar de a decisão dos EUA poder danificar, ainda mais, as relações com a Rússia, a porta-voz do Departamento de Estado garantiu que o seu país permanece comprometido com os acordos de cessar-fogo e que a ajuda norte-americana não tem a intenção de minar os acordos de paz de Minsk.
Há quem recorde que Barack Obama, por exemplo, resistiu sempre à ideia de fornecer mais armas às autoridades de Kiev por considerar que munir os militares ucranianos com armas norte-americanas ia contribuir para uma escalada do conflito.
Reacção russa
Os russos, entretanto, contestam esta decisão e dizem que “os Estados Unidos estão a treinar (as autoridades ucranianas) para um novo banho de sangue”, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov: “As armas dos Estados Unidos podem provocar novas vítimas no nosso vizinho”.
Outro vice-ministro russo, o dos Negócios Estrangeiros, foi mais longe e disse que a decisão dos Estados Unidos prejudica os esforços para encontrar uma solução política e pacífica para a Ucrânia.
Em declarações à agência russa de notícias Tass, Grigori Karassine disse que a “decisão prejudica o trabalho de implementação os acordos de Minsk de 2015”.
Grigori Karassine reiterou a posição da Rússia, segundo a qual as autoridades ucranianas deveriam negociar com os rebeldes através de um “diálogo directo e honesto”. Desde 2014 as forças do Governo ucraniano combatem os separatistas de Donetsk e Lugansk, uma região conhecida como Donbass, num conflito que já provocou mais de dez mil mortos.
O Governo liderado por Vladimir Putin foi acusado pelo Ocidente de fornecer ajuda militar aos rebeldes separatistas da região do leste da Ucrânia, o que sempre foi negado por Moscovo. Foi em 2014 que a Rússia anexou a Crimeia, sem que os Estados Unidos e a União Europeia tenham conseguido influenciar uma reversão da situação. Também nesse mesmo ano um avião civil da Malaysia Airlines, que voava de Amesterdão para Kuala Lumpur, caiu, depois de ter sido atingido com um míssil de fabrico russo que, segundo a acusação da procuradoria-geral holandesa, foi lançado pelos rebeldes. As 283 pessoas que estavam a bordo morreram.
Troca de prisioneiros
O Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Kirill, anunciou na segunda-feira um acordo para a troca de prisioneiros entre as autoridades da Ucrânia e a das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk (RPD) e Lugansk (RPL) no leste do país.
“Hoje, no Mosteiro de São Daniel, terminou o processo de acordo de todos os detalhes que se referem à troca de prisioneiros entre as RPD e RPL e a Ucrânia”, disse Kirill, citado pela agência Interfax. O chefe da Igreja Ortodoxa Russa fez este anúncio depois de se reunir com os líderes das entidades separatistas de Donetsk e Lugansk, Aleksandr Zakharchenko e Leonid Pasechnik, respectivamente.
De acordo com Zakharchenko, a troca de prisioneiros deve ocorrer hoje. No entanto, fontes do governo da RPD indicaram que as autoridades da Ucrânia ainda não confirmaram a aceitação do acordo.“A parte ucraniana eliminou da lista um número significativo de pessoas, mas nós insistimos que a troca seja "todos por todos", como foi estipulado nos Acordos de Minsk”, disse um representante dos separatistas.
Administração Trump afirma que a decisão tem por objectivo ajudar a Ucrânia a defender a integridade territorial. Num comunicado é referido que a assistência “é de natureza defensiva”