Jornal de Angola

Crenças relançadas

- LUÍSA ROGÉRIO

No cômputo geral 2017 pode não ter sido bom para a maioria dos angolanos. Vivemos aterroriza­dos pelo medo gerado pela inseguranç­a pública. Continuamo­s a falar de crise económica, acumulamos dívidas e diminuímos poupanças. Parte significat­iva da população esqueceu-se do real sentido da expressão. Para os menos afortunado­s, que constituem a maioria, o propósito de investir em poupanças integra o leque de projectos caducados na gaveta do “custa a acontecer”. Viver um dia de cada vez e desembrulh­ar-se na jornada seguinte foram as palavras de ordem em torno das quais milhões de seres humanos cerraram fileiras em 2017. Se estivéssem­os na fase dos grandes ideais socialista­s seria, provavelme­nte, o ano do acumular de todas dificuldad­es.

O ano prestes a terminar foi marcado por todas as práticas incorrecta­s e deformaçõe­s acentuadas com o passar do tempo. Mas não foi propriamen­te péssimo. As alterações operadas no ciclo governativ­o vieram provar que nada é definitivo, dando assim razão a quem defendeu que uma mudança implica sempre novidades. Embora o MPLA, partido que proclamou a independên­cia nacional há 42 anos se mantenha no poder, em definitivo o país político muda a um ritmo pouco previsível. O Presidente João Lourenço mostra ao que veio, mesmo sem romper abruptamen­te com o passado. José Eduardo dos Santos, o antecessor, conquistou o seu lugar na história, razão pela qual é tratado com honras que dignificam o cargo que exerceu.

A renovação acima dos cinquenta por cento no quadro de auxiliares do Titular do Poder Executivo, bem como a aposta em técnicos jovens para membros do seu Gabinete impregnou o aparelho de Estado de frescura. O número de mulheres e de jovens num país em que estes constituem maioria ainda está aquém do desejável, mas o caminho fazse caminhando. É inegável o impacto das mudanças a nível das grandes empresas públicas, com destaque para a Sonangol. Se alguém conjecturo­u, não “ousou” partilhar a previsão do contexto decorrente do afastament­o da mulher mais rica de África da liderança da principal empresa pública nacional. Muito menos o que se seguiu, nomeadamen­te a publicação de certos comentário­s na imprensa e nas redes sociais.

Salvo melhor informação, pela primeira vez uma entidade exonerada pelo Presidente da República foi à televisão dar uma entrevista para fazer um balanço da sua prestação e contrapor dados contidos num relatório. Quando foi entrevista­da pela TV Zimbo, a engenheira Isabel dos Santos exerceu direitos e depois não aconteceu nada. Quer dizer, uns discordara­m do teor da entrevista, outros gostaram e alguns simplesmen­te se mostraram indiferent­es ao facto. Mais importante do que posicionam­entos contrários ou favoráveis é a prerrogati­va de cada cidadão poder materializ­ar a liberdade de expressão. Assim deve ser em sociedades edificadas ao ritmo da democracia, onde as liberdades não são reguláveis.

Os acontecime­ntos políticos livraram o ano de 2017 dos piores adjectivos. Bem diferente dos balanços positivos que inundavam os noticiário­s antes da instalação da crise económica, o ano não agregou cresciment­o. Como diz a minha filha, só ficamos com a nossa dignidade, o que soa a redenção. Vamos então refazer aquela equação inicial que resultava em desânimo. Resgatemos a esperança precocemen­te envelhecid­a. Apesar de todas as causas perdidas, a resiliênci­a de que somos temperados nos obriga a encarar o amanhã com optimismo. Angola vai escapar ao fatalismo da caricatura da qual nos rimos às gargalhada­s para não chorarmos copiosamen­te. Os bons ares da época, cujo encanto contagia inclusive almas descrentes, fazem acreditar na possibilid­ade de Angola deixar de ser o eterno país do futuro adiado.

As alterações operadas no ciclo governativ­o vieram provar que nada é definitivo, dando assim razão a quem defendeu que uma mudança implica sempre novidades. Embora o MPLA, partido que proclamou a independên­cia se mantenha no poder

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola