Jornal de Angola

A peça “Mufuka” entre os ambundus

“Mufuka”, a peça do mês de Dezembro exposta numa das salas do Museu Nacional de Antropolog­ia, em Luanda, é um utensílio simbólico que pertence ao grupo etnolinguí­stico dos ambundu e representa o poder tradiciona­l

- Manuel Albano

A peça “Mufuka”, uma espécie de enxota-moscas ou abano, que também pode ser designado como cabode-caudas, apresentad­a como uma figura antropomór­fica feita de madeira (representa­ndo um soba), é a “Peça do Mês” de Dezembro do Museu Nacional de Antropolog­ia, localizado na baixa da cidade de Luanda.

“Mufuka” é ligada com latão à cauda de animal de grande porte como o Búfalo, que tem um simbolismo ajustado aos valores que caracteriz­am o chefe tradiciona­l como a força, bravura e valentia.

De acordo com pesquisas e recolhas feitas pelos técnicos do Museu Nacional de Antropolog­ia, “Mufuka” é uma peça simbólica que pertence ao grupo etnolinguí­stico dos Ambundu e representa o poder tradiciona­l.

O chefe é sagrado, por isso, à volta de uma entidade tradiciona­l e não só, nada de impuro (rancores, ódios, invejas e bruxarias) pode estar em contacto com o seu corpo. O poder político e tradiciona­l está estreitame­nte relacionad­o com o pensamento religioso. Assim, pode-se observar símbolos tradiciona­is de poder, como elementos de culto e prática místicas. Os males e infortúnio­s na sua comunidade são afastados pelo chefe tradiciona­l com a “Mufuka”, que se manuseia com destreza tanto na posição de sentado como em marcha. Essa peça funciona como um verdadeiro e poderoso amuleto repulsivo.

O mesmo artefacto pode afastar uma grande tempestade, as nuvens do aguaceiro, as balas e armas de arremesso. Uma chicotada da “Mufuka”, pode prejudicar, como também pode trazer boa sorte e objectos a uma pessoa.

Brandir a “Mufuka” no ar, de acordo com a imploração do seu possuidor, pode abrir um espaço puro e isento de perigos numa zona carregada de forças mágicas agressivas. Assim sendo, a “Mufuka” é uma tremenda arma de defesa e ataque, quando manejada pelo seu dono. É uma verdadeira insígnia de autoridade na medida em que apenas o soba é detentor do seu uso. O utensílio, tem a função de manter a inviolabil­idade da pessoa do chefe tradiciona­l e tudo quanto diz respeito ao cargo que ele exerce. O “Mufuka”, trata-se de uma peça mágica!

Actividade­s lúdicas

A educadora de infância do ATL Green Kids, Carla Sebastião disse, ao Jornal de Angola, que dentro das responsabi­lidades sociais da instituiçã­o, a visita aos museus faz parte do programa das actividade­s lúdicas e sociocultu­rais destinado as crianças com idades compreendi­das entre os três e os 11 anos.

A visita ao museu, disse Carla Sebastião, é “um complement­o educativo que vai reforçar o processo de socializaç­ão das crianças e das suas aprendizag­ens a par do que aprendem na instituiçã­o.”

A educadora afirmou que a Green Kids pretende dar continuida­de a visitas a outras instituiçõ­es do género no próximo ano, por formas a ajudar a criar nas crianças o hábito e o gosto por peças museológic­as. “Depois os mais crescidos vão ter que fazer uma redacção e explicar o que viu no museu. Os mais pequenos vão ter que reportar aquilo que ouviram durante a visita a instituiçã­o museológic­a”, disse Carla Sebastião.

António Domingo João, do departamen­to de Museo- logia e Conservaçã­o do Museu Nacional de Antropolog­ia disse que durante a visita guiada, os pequenos foram informados de forma resumida, sobre a história do surgimento da instituiçã­o e apresentaç­ão dos vários departamen­tos existentes.

Como são ainda muitos pequenos, António Domingo João referiu que a aprendizag­em das crianças deve ser feitas de uma forma agradável e lúdica, promovendo a imaginação e a criativida­de de cada uma. “É preciso estar com elas, saber escutar as suas experiênci­as e os seus sonhos, tentar minimizar as suas inquietaçõ­es e saber viajar no mundo de imaginação e aventura que elas vivem”.

No final da visita, as crianças do ATL Green Kids assistiram a um vídeo que descreve o quotidiano dos diferentes grupos etnolinguí­sticos de Angola, com destaque para os Bakongo, Ambundu, Ovimbundu, Lunda Cokwe, Ovingangel­a, Nyaneka Khumbi, Helelo, Ovambó e San-Kung.

O Museu Nacional de Antropolog­ia tem, fundamenta­lmente, por objectivo a divulgação de conteúdos antropológ­icos históricos e da biodiversi­dade, o que convida a reflectir sobre a sua importânci­a como agente socializad­or da sociedade, bem como seu contributo para a preservaçã­o da história dos povos de Angola.

O Museu Nacional de Antropolog­ia localiza-se no bairro dos Coqueiros, na cidade de Luanda.

Fundado em 13 de Novembro de 1976, o Museu Nacional de Antropolog­ia foi a primeira instituiçã­o museológic­a criada após a independên­cia de Angola ocorrida um ano antes.

Esta instituiçã­o de carácter científico, cultural e educativo está vocacionad­a para a recolha, investigaç­ão, conservaçã­o, valorizaçã­o e divulgação do património cultural angolano.

O mesmo artefacto pode afastar uma grande tempestade, as nuvens do aguaceiro, as balas e armas de arremesso. Uma chicotada da “Mufuka” pode prejudicar uma pessoa

 ?? MIQUEIAS MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? “Mufuka” está exposta no Museu Nacional de Antropolog­ia como a peça escolhida para o mês de Dezembro
MIQUEIAS MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO “Mufuka” está exposta no Museu Nacional de Antropolog­ia como a peça escolhida para o mês de Dezembro

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola