Manifestantes exigem saída do Chefe de Estado
Autoridades ordenaram o corte dos serviços de Internet e SMS antes das manifestações contra o Governo de Kabila
A situação na República Democrática do Congo (RDC) esteve ontem ao rubro depois de grupos de manifestantes da oposição terem saído às ruas das principais cidades do país, incluindo a capital, Kinshasa, para protestar contra a permanência no poder do Presidente Joseph Kabila.
Apesar da proibição decretada pelas autoridades, milhares de congoleses aderiram aos protestos convocados por líderes da oposição e da sociedade civil, tendo sido dispersados pela polícia que teve de recorrer à utilização de gás lacrimogéneo.
Agências de notícias reportaram sobre duas mortes como consequência da carga policial contra uma igraja. De acordo com a France Press, as vítimas mortais eram duas crianças que faziam parte de um coro católico.
Segundo ainda as referidas agências internacionais, o Governo da República Democrática do Congo ordenou no sábado às empresas de telecomunicações que cortassem a Internet e as mensagens de texto por todo o país antes das manifestações. “É por razões de segurança do Estado”, disse o ministro das telecomunicações do país, Emery Okundji, à Reuters. “Em resposta à violência que está a ser preparada o Governo tem o dever de tomar todas as medidas para proteger as vidas dos congoleses”, disse na ocasião.
O ministro congolês escreveu uma carta aos fornecedores de telecomunicações a exigir que todos os serviços de Internet e mensagens fossem suspensos à partir das 18h00 de sábado, ainda que alguns utilizadores continuassem a ter acesso duas horas depois. Entretanto, o corte mantém-se até novas ordens do Governo.
A RDC enfrenta uma situação de instabilidade política desde que o Presidente se recusou a abandonar o cargo em Dezembro do ano passado. Alguns activistas católicos anunciaram manifestações para algumas das maiores cidades do país para exigir ao Presidente, Joseph Kabila, que não altere a Constituição para tentar se candidatar a um terceiro mandato, e que liberte os presos políticos.
Apesar da situação se ter acalmado nos últimos meses, a República Democrática do Congo é assolada por uma onda de violência desde a crise política de Dezembro do ano passado, quando o Presidente Joseph Kabila se recusou a abandonar o poder no final do seu segundo mandato que deveria ser também o último, segundo a Constituição, e foi adiando novas eleições, que agora estão marcadas para Dezembro de 2018. No ano passado, as forças de segurança da RDC mataram dezenas de manifestantes durante protestos contra o Presidente Kabila e muitos cidadãos temem que o país se volte a afundar num novo conflito civil. Algumas manifestações marcadas por líderes da oposição têm sido abafadas pelas autoridades na RDC, mas desta vez o apoio dos activistas católicos – que gozam de grande credibilidade no país, já que 40 por cento da população é católica – uniu as forças da oposição. Ainda assim, os líderes católicos não formalizaram qualquer apoio às manifestações.
As autoridades de Kinshasa já tinham cortado os serviços de Internet e SMS numa manifestação contra o Governo em Janeiro de 2015. E limitou também o acesso a algumas redes sociais, tal como fizeram outros países africanos nos últimos dois anos.
Polícia investe
A polícia congolesa investiu ontem de manhã, com gás lacrimogéneo, contra os fiéis católicos reunidos em distintas igrejas de Kinshasa, numa tentativa de evitar manifestações contra o Presidente Joseph Kabila.
Duas crianças de um coro católico morreram em consequência da actuação da polícia, segundo a France Press. Dezenas de pessoas ficaram feridas, incluindo líderes religiosos, quando as forças de segurança impediram as missas dominicais e dispersaram os fiéis.
Unidades policiais patrulham as ruas para impedir quaisquer manifestações, justamente um ano depois do fim do mandato constitucional do Presidente Kabila.
A Agência France Press noticiou que líderes de um “Comité Laico de Coordenação” pedem a Kabila para que declare publicamente que não se candidatará às próximas eleições e a aprovação de um “calendário eleitoral consensual”, ao invés do actual, que prevê eleições para 23 de Dezembro de 2018.
Duas crianças de um coro católico morreram em consequência da operação policial em Kinshasa e dezenas de outras pessoas, incluindo líderes religiosos, ficaram feridas