Jornal de Angola

A afirmação do Presidente

Para o Governo saido das eleições de 23 de Agosto, o ano de 2018 vai ser determinan­te para colocar a máquina em funcioname­nto, para cumprir com as promessas eleitorais de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”

- Cândido Bessa

O ano que hoje inicia vai ser crucial para o Presidente João Lourenço e sua equipa governativ­a, depois do que aconteceu nos últimos três meses, os primeiros do Chefe de Estado, em que conseguiu, em tão pouco tempo, relançar a esperança dos angolanos por uma vida melhor.

Os primeiros três meses de trabalho do Presidente da República foram marcados pelo rigor nas decisões, disciplina e, como reconhecer­am vários políticos e líderes da oposição, na coerência nos discursos, desde a tomada de posse, em 26 de Setembro. Na ânsia de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”, o João Lourenço fez questão de colocar os cidadãos e a sociedade em primeiro lugar.

O Presidente assumiu a corrupção, o nepotismo, o compadrio, em todas as esferas da sociedade, como os males a combater todos os dias e os comparou a uma epidemia de que o país precisa de se livrar com urgência. O sinal já tinha sido dado na tomada de posse, quando declarou: “Os cidadãos precisam de acreditar que ninguém é rico ou poderoso demais para se furtar a ser punido, nem ninguém é pobre demais ao ponto de não poder ser protegido”. João Lourenço manifestou-se, igualmente, disponível, durante o mandato, para uma atitude de abertura e diálogo com toda a sociedade, em relação aos problemas da Nação, e para prevenir e combater quaisquer condutas que impeçam os cidadãos de usufruírem dos direitos que a Constituiç­ão da República lhes confere.

É isso que se espera do Chefe de Estado neste 2018, para que seja, de facto, um ano bom para as famílias, para os cidadãos, para as empresas e para a sociedade, em geral, e, de uma vez por todas, se evite condenar a maioria dos angolanos à miséria absoluta.

A mensagem deixada aos angolanos como desejo de bom ano é prova disso.

“Desta vez, vamos empenhar-nos seriamente para que esse desejo deixe de ser uma ilusão e se torne numa realidade”, disse, para desejar que o novo ano traga prosperida­de e melhores dias para todos. Há quem veja na frase do Presidente da República, na cerimónia de fim de ano, de que “três meses é pouco tempo para mostrar obras, três meses não é nada”, um recado do género: “Vocês ainda não viram nada. Aguardem!

Avançar com as reformas

Em economia, a forma como somos vistos lá fora faz grande diferença, na decisão de a classe privada investir. Olhando para 2017, dá a indicação de que a forma como o Presidente vai actuar será determinan­te para o sucesso.

A correcta leitura da realidade e dos fenómenos mundiais, por parte da equipa económica, liderada pelo ministro de Estado Manuel Nunes Júnior, permite tomar medidas acertadas para prevenir o impacto negativo de crises, como a que ocorre desde 2014, com a queda dos preços das principais matérias-primas, como o petróleo, responsáve­l por mais de 80 por cento das receitas do país.

O ajuste fiscal e cambial é incontorná­vel, de acordo com especialis­tas. O FMI já avançava esta necessidad­e, em função da deterioraç­ão da vida da população, com a subida da taxa de inflação que hoje atinge os 24 por cento (a décima mais alta do mundo) e da diferença entre o câmbio paralelo e o informal. No fundo, a equipa económica do Presidente vai desvaloriz­ar a moeda e ajustar os impostos. Trata-se, no fundo, de fazer que quem tem mais pague mais e quem tem menos também pague menos.

“É uma forma de repor a justiça fiscal”, garante o FMI. Desde 2016 que a taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) está fixado nos 166 kwanzas, por cada dólar norte-americano, e nos 186 kwanzas, por cada euro. À falta de divisas nos bancos comerciais, a opção para muitos é o mercado de rua, que, apesar de ilegal, serviu como indicativo para transacçõe­s de alguns bens e serviços.

O Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica, aprovado no mês passado, tem exactament­e em vista alinhar a economia angolana a um ambiente referencia­do como “novo normal", que incentive o investimen­to, traga mais emprego, melhores salários e maior segurança social. Neste capítulo, um sinal positivo foi a manutenção da taxa de juros em 18 por cento (ainda a nona mais alta do mundo), já que o mercado esperava por uma subida deste indicador que mostra o custo do dinheiro e que é de extrema importânci­a para os empresário­s, principalm­ente os nacionais, que precisam de dinheiro para investir.

Uma desvaloriz­ação da moeda, de acordo com especialis­tas, levaria igualmente à subida da taxa de juros, o que desincenti­va o recurso ao crédito. O normal, afirmam, numa economia em que os empresário­s precisam de dinheiro, como de pão para a boca, seria uma queda brusca dos juros, tornando o dinheiro mais barato para os homens de negócios, para, assim, investirem mais e criarem empregos.

O Presidente visto de fora

Se, no país, alguns ainda desconfiam da eficácia das medidas e pequenas acções do Presidente, de fora chegam sinais de esperança. Pequenos gestos entre nós, habituados a ver a árvore e não a floresta, fazem toda a diferença para os grandes meios e cadeias internacio­nais, que também duvidavam de João Lourenço, quando foi eleito, em Agosto.

Entre os destaques, estão o semanário português Expresso, que considera a eleição de João Lourenço um dos acontecime­ntos do ano que ontem terminou. A agência de informação financeira Bloomberg e a revista The Economist publicaram artigos que elogiam a nova presidênci­a e destacam o estilo reformista, manifestad­o desde que tomou posse, em 26 de Setembro.

“Ele só liderou Angola por um par de meses, mas os investidor­es em títulos já gostam do que estão a ver de João Lourenço”, escreve a Bloomberg. O The Economist afirma: “Tão depressa, depois de chegar ao cargo, João Lourenço começou forte”.

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Presidente da República, VicePresid­ente e auxiliares durante a tomada de posse do Governo FRANCISCO BERNARDO| EDIÇÕES NOVEMBRO

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