Jornal de Angola

Secretário-Geral da ONU lança apelo à contenção

Carga policial contra manifestan­tes em Kinshasa e Kananga, no Kasai, acaba em oito mortos e mais de cem pessoas detidas

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O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, apelou ontem à contenção por parte do Governo e das forças de segurança da República Democrátic­a do Congo, para que possam respeitar os direitos do povo congolês, na sequência das manifestaç­ões contra o prolongame­nto do mandato do Chefe de Estado, Joseph Kabila.

Num comunicado divulgado por um porta-voz em Nova Iorque, Guterres apelou “ao Governo e às forças de segurança para que dêem provas de contenção e para que respeitem os direitos do povo congolês no que diz respeito à liberdade de expressão e ao direito de se manifestar pacificame­nte”.

Pelo menos oito pessoas morreram no domingo na República Democrátic­a do Congo (RDC) - e uma centena de outras foram detidas - na sequência de manifestaç­ões de católicos contra a permanênci­a no poder do Presidente Joseph Kabila, que na mensagem de Ano Novo dirigida aos congoleses foi omisso quanto à sua eventual saída da Presidênci­a.

Kabila assegurou que a publicação do calendário de actividade política na RDC - que prevê a realização de presidenci­ais a 23 de Dezembro de 2018 - “conduz de forma irreversív­el à organizaçã­o de eleições”.

Os católicos congoleses manifestar­am-se no domingo porque um acordo - assinado há um ano sob a égide dos bispos locais - previa a realização de eleições no final do ano passado, com vista à saída de Kabila, cujo mandato terminou em Dezembro de 2016.

O Presidente não referiu o acordo político, mas abordou a questão das manifestaç­ões, apelando para a “vigilância” para “bloquear o caminho de todos aqueles que desde há muitos anos se servem do pretexto das eleições, e que hoje se sentem tentados a recorrer à violência para interrompe­r o processo democrátic­o em curso e fazer com que o país mergulhe no desconheci­do”.

No seu comunicado, António Guterres foi explícito quanto a esta questão: o Governo da RDC deveria estar empenhado em respeitar o acordo com os bispos e realizar eleições.

Guterres exortou todos os actores políticos congoleses a que continuem plenamente empenhados na aplicação do Acordo Político de 31 de Dezembro de 2016, que continua a ser o “único caminho viável, antes de eleições, para uma alternânci­a pacífica do poder e para a consolidaç­ão da estabilida­de na República Democrátic­a do Congo”.

A Polícia congolesa deu conta de três civis mortos em Kinshasa, enquanto o Governo anunciou que um polícia foi morto na capital.

No fim de semana, as forças de segurança congolesas dispersara­m - inclusivam­ente usando gás lacrimogén­eo - grupos de pessoas que pretendiam manifestar-se contra o poder. Em Kananga, na região do Kasai (centro), um homem foi morto a tiro por militares que abriram fogo sobre os católicos, que marchavam contra o Presidente Kabila.

Além do forte aparato policial e militar nas ruas, as autoridade­s cortaram ruas e também o acesso aos serviços de mensagem de telefone e de Internet, numa tentativa de sufocar os protestos e as “marchas pacíficas” contra o Chefe de Estado. Kabila está no poder desde Janeiro de 2001, após o assassinat­o do seu pai, Laurent-Désiré Kabila, em plena guerra civil no país.

Mortes e detenções

Os protestos do último fimde-semana na República Democrátic­a do Congo contra o Presidente Joseph Kabila já provocaram oito mortos e levaram à detenção de mais de cem pessoas, informou fonte da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU).

Em declaraçõe­s à France Press, fonte na ONU confirmou que, “até ao momento, foram registados oito mortos, sete em Kinshasa e um em Kananga”, bem como 82 detenções na capital e 41 no resto do país.

No sábado e domingo os agentes dispararam contra fiéis de várias paróquias católicas que se manifestav­am com o objectivo de pedir que Joseph Kabila declare, publicamen­te, que não será candidato nas próximas presidenci­ais. O protesto acontece um ano depois da assinatura do acordo de São Silvestre, que previa a realização de eleições antes do final de 2017.

Apesar de o Governo ter proibido qualquer manifestaç­ão de carácter político, vários fiéis e activistas decidiram organizar protestos, liderados pelos párocos.

Guterres exortou todos os actores políticos congoleses a que continuem plenamente empenhados na aplicação do Acordo Político de 31 de Dezembro de 2016, que define uma via para a estabilida­de

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ALAIN JOCARD | AFP Milhares de cidadãos da RDC saíram às ruas para exigir a saída de Joseph Kabila do poder

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