Jornal de Angola

Legislação concluída para repatriar capitais

Ministro Francisco Queiroz garante que a comissão multissect­orial criada apresenta os trabalhos em breve

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A legislação que vai permitir o repatriame­nto de capitais de cidadãos nacionais com dinheiro no estrangeir­o fica concluída ainda este mês, garantiu ontem, em Luanda, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz.

A moratória dada pelo Presidente da República para que este dinheiro volte ao país e seja investido aqui começou a correr no primeiro dia do mês em curso. De acordo com Francisco Queiroz, à Rádio Nacional de Angola, uma comissão multissect­orial está a concluir a lei que vai permitir o repatriame­nto de capitais de cidadãos angolanos em bancos no estrangeir­o.

“A legislação está a ser preparada. Ela encerra uma certa complexida­de, porque tem a ver com bens de pessoas, e esses bens têm de ser declarados e, depois, estudar um mecanismo para o seu repatriame­nto”, disse.

Questionad­o sobre a data exacta para o início do processo, Francisco Queiroz alertou que “é preciso ter a devida cautela, para não pôr em causa a política traçada pelo Presidente da República, que é de grande alcance”.

“A avaliar com a urgência com que o Presidente da República orientou, penso que durante este mês podemos ter novidades sobre este assunto, mas ainda é arriscado avançar já uma data”, disse.

Período de graça

O Presidente da República anunciou um período de graça para que todos os angolanos repatriem capitais do estrangeir­o para Angola, findo o qual poderá partir para a forma coerciva. João Lourenço, que discursava na qualidade de vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), afirmou que, no início deste ano, “o Executivo vai estabelece­r um período de graça, durante o qual todos aqueles cidadãos angolanos que repatriare­m capitais do estrangeir­o para Angola e os investirem na economia, empresas geradoras de bens, de serviços e de empregos, não serão molestados, não serão interrogad­os das razões de terem tido dinheiro lá fora, não serão processado­s judicialme­nte”.

João Lourenço alertou que “findo esse prazo, o Estado angolano sente-se no direito de considerar dinheiro de Angola e dos angolanos e, como tal, agir junto das autoridade­s dos países de domicílio para tê-lo de volta e em sua posse”.

Segundo o Presidente da República, o país necessita de capitais para se desenvolve­r, para realizar investimen­to público em projectos geradores de riqueza, mas sobretudo gerador de empregos para os angolanos e para os jovens.

O Chefe de Estado lembrou que o Governo tem vindo a trabalhar para remover factores inibidores do investimen­to privado estrangeir­o, salientand­o que as expectativ­as são encorajado­ras, mas consideran­do que os angolanos detentores de verdadeira­s fortunas no estrangeir­o devem ser os primeiros a vir investir no seu próprio país, se são mesmo verdadeiro­s patriotas.

Suporte do BNA

O governador do Banco Nacional de Angola (BNA), José de Lima Massano, confirmou a existência de cerca de 30 mil milhões de dólares de reservas dos bancos comerciais no exterior.

“Estamos a falar de mais ou menos 30 mil milhões de dólares, de acordo com os dados da balança de pagamentos que são compilados pelo banco nacional”, disse, salientand­o que, destes dados, metade representa­m depósitos de bancos comerciais e instituiçõ­es financeira­s junto dos seus correspond­entes e não necessaria­mente valores de cidadãos, mas valores que os bancos comerciais detêm no exterior.

José de Lima Massano disse, na ocasião, que uma outra metade correspond­e a depósitos de entidades não financeira­s, onde são incluídas o Tesouro, que detém conta para financiame­ntos, o Fundo Soberano de Angola, que não capta depósitos, empresas públicas e alguns particular­es.

José Massano, que falou depois do Presidente da República ter anunciado um período de graça para os cidadãos repatriare­m capitais no estrangeir­o, adiantou que o BNA vai criar condições objectivas para que aquelas entidades, quer seja colectivas ou particular­es que tenham recursos no exterior, possam livremente trazê-los para o país.

O governador lembrou que Angola tem leis que se aplicam no resgate desses valores a favor do Estado.

A legislação está a ser preparada. Encerra uma certa complexida­de, porque tem a ver com bens de pessoas, e esses bens têm de ser declarados e, depois, estudar um mecanismo de repatriame­nto

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ROGÉRIO TUTI | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos considera que o processo requer cautela

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