Jornal de Angola

Comércio de marfim está proibido na China

Numa medida de grande impacto político, a China, um dos maiores mercados mundiais de marfim, anunciou ontem que já está em vigor uma lei que proíbe o tráfico daquele produto. Trata-se de uma medida que responde a um apelo da ONU

- Victor Carvalho

A imprensa oficial chinesa deu ontem grande destaque ao cumpriment­o da decisão, anunciada pelo Presidente Xi Jinping ainda antes do final de 2017, que dava conta da proibição do comércio interno de marfim.

O anúncio da entrada em vigor a partir de 1 de Janeiro deste ano dessa proibição vem confirmar o empenho das autoridade­s em acertar o passo com as Nações Unidas que a meio do ano passado haviam “recordado” que a China tinha decidido, em 2015, proibir o comércio de marfim.

Nessa altura, o próprio presidente chinês, Xi Jinping, reconheceu algum atraso na conclusão da legislação em relação a essa matéria, tendo sido ele próprio a anunciar em Novembro de 2017 que estava já tudo pronto para que o seu país pudesse agora cumprir a palavra dada em 2015. Trata-se de uma decisão com um grande impacto político a nível internacio­nal pois permite corrigir a falha no cumpriment­o de uma promessa feita em 2015 e que estava a custar ao país algum ostracismo sempre que se falava de defesa do Ambiente ou da protecção dos animais.

Já em 2017 que a comerciali­zação de marfim no interior da China havia conhecido um declínio, uma vez que as autoridade­s policiais estavam a desenvolve­r um controle muito apertado junto dos principais locais de venda do produto antecipand­o trabalho para poder depois defender a aplicação da lei agora aprovada.

Esse controlo fez com que os contraband­istas tivessem que redobrar cuidados no envio de marfim para o mercado chinês, o que provocou uma baixa de 80 por cento no total do produto disponível e de 65 por cento nos valores em circulação. De acordo com dados oficiais divulgados pelas autoridade­s chinesas, desde Março do ano passado foram encerradas 67 fábricas e lojas de preparação e venda de diamantes, havendo ainda 105 que serão agora fechadas. “A partir deste momento haverá tolerância zero para quem violar a lei e continuar a comerciali­zar marfim. Trata-se de uma questão de Estado que tudo faremos para defender”, disse o ministro chinês das Florestas e do Ambiente no seu site disponível na rede social Weibo.

A agência de notícias Xinhua, por seu lado, dá conta da existência de uma ampla campanha de sensibiliz­ação para o combate ao tráfico e venda de marfim e que conta com a participaç­ão de celebridad­es locais, tanto do mundo do desporto como do espectácul­o, entre eles o conhecido basquetebo­lista Yao Ming.

O Fundo Mundial para a Defesa da Natureza já reagiu à decisão agora implementa­da pela China, sublinhand­o que está “deliciado por ver o maior mercado mundial de marfim fechar as suas portas”. “Isto é um passo muito significat­ivo e prova que existem esforços internacio­nais muito sérios para a protecção dos elefantes africanos”, referiu o director daquela organizaçã­o para África, Fred Kumah.

Porém, como muitas vezes acontece nos meandros políticos, a legislação que a China vai agora accionar tem algumas lacunas. Neste caso, o problema é que Hong Kong fica de fora da alçada da lei, o que é estranho uma vez que se trata da principal região de comerciali­zação de marfim em todo o país. A imprensa chinesa faz referência a esta “lacuna” legislativ­a, e tenta tranquiliz­ar as pessoas adiantando que “em breve” também em Hong Kong “será totalmente proibida a comerciali­zação de diamantes”.

Mas, os mais cépticos acham que a inclusão de Hong Kong na lei que já está em vigor desde o início do ano, poderá demorar ainda algum tempo uma vez que está muito dinheiro em jogo e que “existem interesses políticos que podem influencia­r um certo adiamento da imposição da directiva assinada pelo Presidente chinês, Xi Jinping.

É que já em 1975 a China havia aderido, sem efeitos práticos, a uma convenção que proibia a comerciali­zação de marfim e mais tarde, em 1990, a uma lei internacio­nal aprovada nas Nações Unidas que também bania a venda do produto.

Os mais cépticos acreditam que a inclusão de Hong Kong na lei que já está em vigor poderá demorar ainda algum tempo uma vez que está muito dinheiro em jogo e outros interesses políticos

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Medidas do Governo contra o tráfico na China oferecem maior tranquilid­ade aos elefantes em território de países africanos como a Costa do Marfim

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