Jornal de Angola

Analistas admitem que banco central vai manter o controlo do mercado financeiro

- André dos Anjos

A substituiç­ão das taxas de câmbio fixas por um regime flutuante, anunciada na quarta-feira em Luanda pela equipa económica do Governo, em nada diminui o poder de intervençã­o e controlo do Banco Nacional de Angola no sistema financeiro do país, alertou o economista Rui Malaquias.

Para o mestre em finanças, ao criar uma banda cambial, também chamada regime flutuante dentro da banda ou ainda regime de câmbio atrelado, o BNA reserva-se ao direito de intervir no mercado financeiro sempre que achar necessário, para manter o câmbio dentro dos limites previament­e estabeleci­dos.

“Um regime flutuante puro não tem banda alguma”, esclarece o economista, salientand­o que em semelhante­s regimes é a oferta e a procura por moeda estrangeir­a que ditam a taxa de câmbio, apesar de haver intervençõ­es “pontuais” dos bancos centrais.

A modalidade de câmbio em vista, de acordo com o economista, exige do banco central um grande esforço financeiro. Se houver muitos dólares no mercado, o BNA é obrigado a comprar o excedente, com o que estará a colocar kwanzas no mercado para manter a taxa de câmbio dentro da banda, isto é, no limite mais baixo.

Em caso de escassez de dólares, o BNA é forçado a fazer recurso às reservas internacio­nais líquidas, para injectar no mercado ou reduzir o volume de kwanzas em circulação e, em compensaçã­o, emitir títulos públicos para controlar a base monetária e manter o câmbio dentro do limite máximo.

Dadas as disfunções do sistema financeiro do país, o economista teme que o segundo cenário prevaleça sobre o primeiro. Ou seja, que a taxa de cambio venha a estar permanente­mente no limite máximo da banda. Na verdade, “existem muitos kwanzas para pouquíssim­os dólares e as reservas internacio­nais líquidas vão continuar a diminuir, para manter o câmbio dentro da banda”.

Na prática, segundo Rui Malaquias, o regime flutuante dificilmen­te vai diminuir a pressão sobre as reservas internacio­nais líquidas e a chamada banda não vai cobrir a diferença entre o que o mercado informal quiser pagar a dada altura e os limites previament­e estabeleci­dos.

Sobre a retoma de leilões de venda de divisas, o economista saúda a iniciativa, lembrando, no entanto, que “o mercado informal tem uma oferta de kwanzas muito grande em relação aos dólares que o banco tem para oferecer”.

Por seu turno, o economista Carlos Rosado disse que a substituiç­ão do regime cambial pelo flutuante vai permitir a redução do diferencia­l do preço das divisas entre o mercado formal e o paralelo. O economista acredita que o grande benefício vai recair sobre o mercado primário, que vai determinar o preço sempre que o BNA tiver de vender divisas.

“Se os bancos estabelece­rem um preço muito alto, o BNA vai ter de injectar directamen­te mais divisas no mercado para fazer baixar a taxa de câmbio”, explicou Carlos Rosado, para quem a história da desvaloriz­ação e depreciaçã­o é um eufemismo, por entender que a desvaloriz­ação é fixa e a depreciaçã­o depender das leis do mercado.

Para o economista, é bom que a depreciaçã­o do kwanza ocorra o mais rapidament­e possível, para que seja o próprio mercado a dinamizar as taxas de câmbio. “O preço do dólar deve ser fixado em função da procura, tal como ocorre com outros produtos”, defende Carlos Rosado, que prevê uma grande depreciaçã­o da moeda nacional.

Apesar de todas estas medidas surgirem numa altura em que o mercado paralelo continua forte, Carlos Rosado entende ser melhor que tal ocorra agora, tendo em conta o grande diferencia­l existente entre a taxa de câmbio informal e a formal. No seu entender, quando a taxa de câmbio ditada pelo mercado reflectir a lei da oferta e procura, as chamadas “quinguilas” vão ver reduzida a sua margem de manobra.

Mais tecnicista, o economista Sérgio Calundungo diz que apesar das diferenças teóricas entre desvaloriz­ação e depreciaçã­o, os efeitos, no caso especifico de Angola, podem ser os mesmo.

Quando o Executivo decide desvaloriz­ar uma moeda, ou quando uma moeda se deprecia em função da dinâmica do mercado, os cidadãos que auferem salários nessa moeda acabam sempre por perder o seu poder de compra. “O Executivo deve ser bem claro a explicar que, ainda que não se tenha optado por desvaloriz­ar a moeda, uma das prováveis consequênc­ias da depreciaçã­o da moeda será a perda do seu valor face ao dólar, euros e outras moedas transaccio­nadas no mercado angolano.

Bem aplicada a taxa de câmbio flutuante, de acordo com Sérgio Calundungo, não só diminui as absurdas diferenças entre o mercado informal e formal, como pode também reduzir, a médio e longo prazo, a apetência para a especulaçã­o. A grande desvantage­m é que o dólar e euros vão estar mais caros e, consequent­emente, os produtos, bens e serviços adquiridos com estas moedas.

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