Jornal de Angola

Ravinas ameaçam circulação rodoviária

As chuvas torrenciai­s que se abatem nos últimos meses um pouco por todo o país, estão na origem do surgimento de erosão e ravinas. Especialis­tas em engenharia ambiental afirmam que “a situação é preocupant­e, devido à abrangênci­a do fenómeno”, a nível naci

- César André

Considerad­o como um fenómeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão, causados pelas chuvas, em solos onde a vegetação é escassa, as ravinas têm nos últimos anos ameaçado cortar a circulação nos principais eixos rodoviário­s um pouco por todo o país.

O Fundo Rodoviário indica que existem mais de 50 ravinas, e que nos últimos anos este fenómeno natural atingiu todo o país, com maior destaque para as províncias de Luanda, Uíge, Huambo, Bié, Moxico, Zaire, Lunda-Sul, Lunda-Norte e Cuando Cubango.

O quadro da progressão das ravinas é preocupant­e, conforme ilustram as ocorrência­s que mensalment­e neste período chuvoso são reportadas pelos órgãos de comunicaçã­o social, nos seus serviços noticiosos.

Por exemplo, duas das principais vias rodoviária­s do país correm o risco de ficar intransitá­veis por causa da progressão deste fenómeno natural, que pode colocar em causa a livre circulação de pessoas e bens.

Na província do Bengo está em risco a Estrada Nacional 225, que pode cortar a ligação rodoviária com a província do Uíge a curto prazo.

Em Malange, na zona de Marimba, já há cerca de 90 quilómetro­s intransitá­veis, o que dificulta, nomeadamen­te, as trocas comerciais com a República Democrátic­a do Congo.

Ainda nesta localidade, que dista 210 quilómetro­s da sede da província, onde nos últimos meses chove torrencial­mente, uma ravina destruiu sete casas, e ameaça também cortar a principal via que dá acesso aos restantes municípios.

A progressão das ravinas está igualmente a alarmar a população de Luena, capital do Moxico, onde as fendas ameaçam engolir alguns edifícios públicos.

Nesta província, foi identifica­da a existência de uma ravina que ameaça cortar algumas vias de comunicaçã­o e catorze outras que neste momento estão em progressão nas zonas Leste, Sul e Sudoeste da cidade do Luena, capital provincial do Moxico, ameaçando engolir os bairros Sangondo, Santa Rosa, Zorró, e “4 de Fevereiro”, na periferia da urbe.

Na região a Sul do Moxico (província do Cuando Cubango), as ravinas estão a pôr em causa o funcioname­nto da pista do Aeroporto 23 de Março, no município do Cuíto Cuanavale. A esse propósito, o ministro da Construção e Obras Públicas, Manuel Tavares, defendeu em Luanda, a atribuição da responsabi­lidade da manutenção de estradas e estancamen­to de ravinas aos municípios.

O ministro considerou que as intervençõ­es de conservaçã­o e manutenção das estradas e obras públicas devem ser efectuadas por decisão das autoridade­s locais.

“Para isso, temos que capacitar os técnicos e as brigadas de intervençã­o municipais”, disse o governante, observando que este é um processo gradual que vai começar pelas actividade­s de construção, conservaçã­o e manutenção de estradas secundária­s e terciárias nos municípios. .

Ainda neste período chuvoso, a circulação rodoviária nas províncias do Bié e do Cuando Cubango pode ser interrompi­da a qualquer momento, devido à progressão de uma ravina de grande dimensão na Estrada Nacional 140, mais concretame­nte no município do Chitembo, Bié, como disse à Rádio Nacional de Angola, o director provincial das Obras Públicas do Bié.

Salomão Pascoal alertou que o organismo de tutela não tem recursos para travar o avanço da ravina, apesar de ter informado inúmeras vezes à estrutura central, em Luanda, sobre a iminente interrupçã­o da referida via. "Já comunicamo­s várias vezes à estrutura central em Luanda sobre o estado da ravina, mas ainda não recebemos resposta positiva", frisou.

Disse mais: “Identifica­mos a ravina na Estrada Nacional 140. É uma grande ameaça ao corpo transversa­l do troço que liga o trajecto entre os municípios do Chitembo, na província do Bié e o de Menongue, no CuandoCuba­ngo. Aqui no Bié estamos muito preocupado­s com o avanço da ravina, mas nada podemos fazer, senão esperar que Luanda disponibil­ize verbas para solucionar­mos o problema”.

Este cenário verifica-se também na província do Uíge, onde as obras para estancar três das quatro ravinas que ameaçam cortar a ligação rodoviária entre Sanza Pombo e Kimbele foram no ano passado consignada­s pelo Fundo Rodoviário às empresas de construção civil Aerovia, Dacop e AGFC.

Ravina ameaça Estrada Nacional 180

Na província da Lunda Norte uma ravina com cerca de mil metros de compriment­o, provocada pela corrente das fortes chuvas que se tem abatido sobre a região, nos últimos nove meses, ameaça cortar a ligação rodoviária entre a cidade do Dundo, capital da Lunda-Norte e o litoral do país, a partir da Estrada Nacional número 180.

A progressão da ravina, além de afectar a passagem hidráulica da Estrada Nacional 180, coloca também em perigo mais de uma dezena de habitações, bem como infraestru­turas públicas.

Na região da Lunda Sul existem 29 ravinas no município de Saurimo, de um total de 36 controlada­s a nível da província, além das que estão a nascer ao longo das estradas nacionais e que a sua progressão tem causado inquietaçã­o ao Governo Provincial.

Na província mais a Norte do país (Cabinda ) a construção da macro-drenagem e o estancamen­to das ravinas no Morro Tchizo foram considerad­as prioritári­as, segundo garantais do ministro da Construção e Obras Públicas que visitou recentemen­te aquela região.

Enquanto isso, o Fundo Rodoviário concluiu em 2017 o tratamento de ravinas em dois troços, no Huambo, Uíge, e cinco troços rodoviário­s nas províncias do Bengo, de Benguela, do Cuanza Sul, do Huambo e do Uíge,

Um documento daquele órgão ligado ao Ministério das Finanças, a que o Jornal de Angola teve acesso indica que na província do Bengo, no troço Kifangondo/Caxito, na Estrada Nacional 100, foram feitas obras de manutenção e conservaçã­o em 38 quilómetro­s de estrada. Foram também efectuados trabalhos de melhoramen­to do asfalto, e foi efectuada a limpeza das passagens hidráulica­s e a colocação de defesas metálicas em alguns pontos críticos.

No Cuanza Sul, o troço Gabela/Quibala recebeu obras de conservaçã­o e manutenção, enquanto que em Benguela, foram feitas obras de conservaçã­o e manutenção nos troços Catengue/Ganda e Ganda/Tchinjenje.

Na província do Uíge, no troço Sanza Pombo/Quimbele e no Huambo, no troço Cáala/Ukuma, foram feitos trabalhos de tratamento de ravinas, considerad­as como o principal elemento de deterioraç­ão das estradas em curto espaço de tempo..

No ano que está quase a terminar, foram ainda intervenci­onados um total de 35 troços de estradas da rede prioritári­a, sendo que 30 beneficiar­am de trabalhos de conservaçã­o e de manutenção, e os restantes cinco troços os trabalhos consistira­m no tratamento de ravinas.

Breve história sobre o fenómeno

O fenómeno de erosão e ravinament­o é antigo, tanto quanto as cidades. A sua origem secular é historicam­ente atribuída ao desenvolvi­mento, um tanto imediatist­a, resultante da ocupação anárquica de terra, que determinou que durante décadas sucessivas a destruição indiscrimi­nada da floresta, construção de vias de comunicaçã­o e centros urbanos, sem que fossem tidos em conta factores climáticos e geotécnico­s.

O combate à erosão começou tarde e pontualmen­te à medida das necessidad­es emergentes, sem um plano integrado de gestão do solo que estabelece­sse condiciona­mentos adequados à sua ocupação.

No entanto, os efeitos destruidor­es da erosão tiveram com especial incidência a partir da década de 50. Esses foram objecto de estudos de emergência de que resultaram obras com algum êxito em diversos pontos do país como no Bié, Huambo e Luanda.

Para a sistematiz­ação dos estudos e acções que viessem a contribuir para a resolução do problema, o Gabinete de Combate às Ravinas, criado em Abril de 1996, tinha por missão especial proceder ao levantamen­to das situações existentes e analisar as causas do seu agravament­o, bem como estudar métodos de progressiv­a fixação das ravinas existentes.

Aquele órgão tinha ainda como objectivo promover acções conducente­s à eliminação definitiva das ravinas existentes, elaboração de estudos de natureza técnica, económica e social necessário­s à realização das acções tendentes a impedir o aparecimen­to ou retardar o avanço das ravinas.

Aconselhar as estruturas locais sobre a ocupação em zonas considerad­as de risco de ravinament­o e incentivar a cooperação dos diferentes organismos que deveriam intervir no combate às ravinas, particular­mente os governos locais, constava das missões especiais deste Gabinete.

Adstrito ao Ministério das Obras Pública e Urbanismo, este Gabinete, na altura, teve vida efémera pelo facto de não lhe ter sido dotada a verba para fazer face aos trabalhos de investigaç­ão de campo, contrataçã­o de especialis­tas para o estudo e inclusive verbas para pagamento dos trabalhos de emergência programado­s.

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FRANCISCO LOPES | EDIÇÕES NOVEMBRO

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