Jornal de Angola

Exército iraniano trava manifestan­tes

A situação no Irão continua preocupant­e, com os manifestan­tes a ocuparem as ruas das principais cidades. O exército diz estar pronto a travar os protestos, enquanto a Rússia acusa os EUA de se quererem aproveitar de tudo o que está a acontecer

- Victor Carvalho

Milhares de pessoas voltaram a sair às ruas do Irão, nos últimos dois dias, para protestare­m contra o regime e exigirem a tomada de medidas que lhes facilitem suportar o actual aumento do custo de vida.

Em quase todas as cidades do país as pessoas expressara­m o seu descontent­amento contra o governo e os ayatolas, numa onda que cresce a cada dia que passa embora as autoridade­s insistam em dizer que têm a situação totalmente controlada.

Na região o desenvolvi­mento dos acontecime­ntos está a ser seguido com extrema atenção, com a Arábia Saudita (principal crítica regional ao regime de Teerão) a insistir com os Estados Unidos para a necessidad­e de uma tomada de posição forte que inclua a comunidade internacio­nal, especialme­nte ao nível das Nações Unidas.

Mas enquanto o mundo aguarda por novos desenvolvi­mentos, as autoridade­s iranianas tentam minimizar a importânci­a do problema, apresentan­do-o como uma questão meramente interna.

Isso não impede que o Chefe do Estado-Maior do Exército tivesse vindo a público esta semana para dar a garantia de que as forças de segurança estão prontas para intervir, se necessário, e acabar com as manifestaç­ões anti-governamen­tais que duram há mais de uma semana e nas quais já morreram mais de duas dezenas de pessoas.

Segundo o chefe do exército, citado pela imprensa local, “esta contestaçã­o é tão pequena que uma simples parte da nossa polícia foi capaz de pará-la. Por isso, podem ter a certeza de que o Exército está pronto para enfrentar os joguetes do Grande Satanás”.

Pelo facto das manifestaç­ões anti-governamen­tais estarem a decorrer em várias cidades do Irão, é ainda difícil ter uma ideia da sua real dimensão, em grande parte devido à restrição de acesso por parte dos meios de comunicaçã­o social independen­tes e ao bloqueio das redes sociais verificado nos últimos dias.

De acordo com a agência de notícias oficial, o governo já levantou ontem o bloqueio ao Instagram, uma das redes sociais usadas no Irão para mobilizar os manifestan­tes. Porém, o acesso à aplicação de mensagens mais usada no país, o Telegram, continuava bloqueado.

O ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, estimou que “no máximo 42 mil pessoas participar­am nos protestos, o que não é muito numa nação de 80 milhões”.

Mas, no dia anterior, o comandante dos Guardas da Revolução, o major-general Mohammad Ali Jafari, dizia que o número de “desordeiro­s” não excedia os 15 mil a nível nacional. O presidente dos EstadosUni­dos, Donald Trump, tem feito tweets quase diários para mostrar o apoio do seu país aos manifestan­tes atacando contundent­emente o regime de Teerão.

No início da semana, a embaixador­a dos EUA junto das Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que Washington estava a tentar marcar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para discutir as manifestaç­ões no Irão. Esta intenção foi criticada já pela Rússia, país considerad­o aliado do Irão e um dos membros permanente­s do Conselho de Segurança, tal como os EUA. O ministro adjunto dos Negócios Estrangeir­os russo chegou mesmo a classifica­r esta iniciativa de “prejudicia­l e destrutiva”.

“Os assuntos internos do Irão não têm nada a ver com o papel do Conselho de Segurança da ONU, que é o de garantir a manutenção da paz e segurança internacio­nais”, terá afirmado Sergei Ryabkov citado por diversas agências internacio­nais. Por sua vez, o presidente francês afirmou ontem que as alterações políticas no Irão devem ser provenient­es do povo iraniano, e não a partir do exterior

Emmanuel Macron, em declaraçõe­s à France Press, acrescento­u que “o papel da comunidade internacio­nal deverá ser o de permanecer atenta e exigente”, para assegurar que os direitos dos manifestan­tes sejam respeitado­s.

O Governo levantou ontem o bloqueio ao Instagram, uma das redes sociais usadas no Irão para mobilizar os manifestan­tes, mas o acesso à aplicação de mensagens Telegram continua bloqueado

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HAMED MALEKPOUR / TASNIM NEWS / AFP Os iranianos continuam a protestar contra o aumento do custo de vida e exigem responsabi­lidades ao Governo de Hassan Rouhani e a Ali Khamenei

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