Exército iraniano trava manifestantes
A situação no Irão continua preocupante, com os manifestantes a ocuparem as ruas das principais cidades. O exército diz estar pronto a travar os protestos, enquanto a Rússia acusa os EUA de se quererem aproveitar de tudo o que está a acontecer
Milhares de pessoas voltaram a sair às ruas do Irão, nos últimos dois dias, para protestarem contra o regime e exigirem a tomada de medidas que lhes facilitem suportar o actual aumento do custo de vida.
Em quase todas as cidades do país as pessoas expressaram o seu descontentamento contra o governo e os ayatolas, numa onda que cresce a cada dia que passa embora as autoridades insistam em dizer que têm a situação totalmente controlada.
Na região o desenvolvimento dos acontecimentos está a ser seguido com extrema atenção, com a Arábia Saudita (principal crítica regional ao regime de Teerão) a insistir com os Estados Unidos para a necessidade de uma tomada de posição forte que inclua a comunidade internacional, especialmente ao nível das Nações Unidas.
Mas enquanto o mundo aguarda por novos desenvolvimentos, as autoridades iranianas tentam minimizar a importância do problema, apresentando-o como uma questão meramente interna.
Isso não impede que o Chefe do Estado-Maior do Exército tivesse vindo a público esta semana para dar a garantia de que as forças de segurança estão prontas para intervir, se necessário, e acabar com as manifestações anti-governamentais que duram há mais de uma semana e nas quais já morreram mais de duas dezenas de pessoas.
Segundo o chefe do exército, citado pela imprensa local, “esta contestação é tão pequena que uma simples parte da nossa polícia foi capaz de pará-la. Por isso, podem ter a certeza de que o Exército está pronto para enfrentar os joguetes do Grande Satanás”.
Pelo facto das manifestações anti-governamentais estarem a decorrer em várias cidades do Irão, é ainda difícil ter uma ideia da sua real dimensão, em grande parte devido à restrição de acesso por parte dos meios de comunicação social independentes e ao bloqueio das redes sociais verificado nos últimos dias.
De acordo com a agência de notícias oficial, o governo já levantou ontem o bloqueio ao Instagram, uma das redes sociais usadas no Irão para mobilizar os manifestantes. Porém, o acesso à aplicação de mensagens mais usada no país, o Telegram, continuava bloqueado.
O ministro do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, estimou que “no máximo 42 mil pessoas participaram nos protestos, o que não é muito numa nação de 80 milhões”.
Mas, no dia anterior, o comandante dos Guardas da Revolução, o major-general Mohammad Ali Jafari, dizia que o número de “desordeiros” não excedia os 15 mil a nível nacional. O presidente dos EstadosUnidos, Donald Trump, tem feito tweets quase diários para mostrar o apoio do seu país aos manifestantes atacando contundentemente o regime de Teerão.
No início da semana, a embaixadora dos EUA junto das Nações Unidas, Nikki Haley, afirmou que Washington estava a tentar marcar uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para discutir as manifestações no Irão. Esta intenção foi criticada já pela Rússia, país considerado aliado do Irão e um dos membros permanentes do Conselho de Segurança, tal como os EUA. O ministro adjunto dos Negócios Estrangeiros russo chegou mesmo a classificar esta iniciativa de “prejudicial e destrutiva”.
“Os assuntos internos do Irão não têm nada a ver com o papel do Conselho de Segurança da ONU, que é o de garantir a manutenção da paz e segurança internacionais”, terá afirmado Sergei Ryabkov citado por diversas agências internacionais. Por sua vez, o presidente francês afirmou ontem que as alterações políticas no Irão devem ser provenientes do povo iraniano, e não a partir do exterior
Emmanuel Macron, em declarações à France Press, acrescentou que “o papel da comunidade internacional deverá ser o de permanecer atenta e exigente”, para assegurar que os direitos dos manifestantes sejam respeitados.
O Governo levantou ontem o bloqueio ao Instagram, uma das redes sociais usadas no Irão para mobilizar os manifestantes, mas o acesso à aplicação de mensagens Telegram continua bloqueado