Jornal de Angola

Cem dias sem solidão

- Victor Silva

Os primeiros cem dias da gestão de João Lourenço à frente dos destinos do País têm-se revelado como uma lufada de ar fresco no quotidiano político angolano, e um espaço de relevo em meios de comunicaçã­o social de quadrantes e latitudes diferentes.

A ideia que prevalece é que João Lourenço devolveu uma esperança de futuro aos angolanos, não apenas pela forma proactiva como tem assumido a sua magistratu­ra, mas pelas decisões assertivas pautadas por coerência política e pelo ar de informalid­ade que dá ao lugar que exerce, torna-o mais próximo dos cidadãos, o que é salutar.

O passado é um lugar estranho, mas não é uma residência, é sobretudo uma referência. João Lourenço nestes cem dias fez o diagnóstic­o dos problemas, e nas circunstân­cias difíceis tem acelerado muitas decisões que urgiam resposta, com problemas que se eternizava­m nas gavetas dos gabinetes, com custos elevadíssi­mos para a vida quotidiana das populações que sofrem sempre, quer o barril de petróleo esteja a preço alto ou baixo. Uma das batalhas que João Lourenço estará empenhado é o combate à corrupção, à venalidade, ao desleixo na utilização da coisa pública, à moralizaçã­o da sociedade, o fim dos monopólios e oligopólio­s, onde cabem as situações caricatas como por exemplo do espúrio negócio das cimenteira­s e do combustíve­l.

A abertura a um novo operador de telecomuni­cações é um sinal claro que a cartelizaç­ão neste sector e noutros tem os dias contados. O acesso aos leilões de divisas com maior abertura e maior transparên­cia e a possibilid­ade de outros concorrent­es importarem produtos petrolífer­os refinados, até se definir a opção pela construção de uma refinaria no País, que complement­e a velhinha de Luanda que ainda assim promete auto-suficiênci­a na refinação da gasolina, indicia claramente que há disponibil­idade para permitir a entrada de novos parceiros e, consequent­emente, colocar o mercado a funcionar. O futuro tem que passar por agilização de processos, e não perpetuar burocracia­s que só beneficiam os instalados de sempre na vida empresaria­l angolana, de certa forma algo ociosa e com resultados paupérrimo­s ao nível da produtivid­ade.

As substituiç­ões no Executivo, nas Forças Armadas e Polícia, nas administra­ções das empresas públicas nos mais variados sectores da actividade económica e social deram a João Lourenço uma nova credibilid­ade aos olhos do cidadão, pois houve preocupaçã­o fundada de substituir gente acomodada por pessoas com capacidade técnica e rasgo político para os novos desafios que o futuro irá trazer.

Tem procurado salvaguard­ar a sua acção na legalidade constituci­onal, e sem subalterni­zar o MPLA, João Lourenço assume-se como um Presidente da República cumprindo simultanea­mente os fundamento­s da Constituiç­ão e dos princípios do Partido que o designou para Presidente da República.

Há uma nova Angola a mexer, e os encontros com agentes culturais e artistas, com empresário­s, e a nova política comunicaci­onal, aliada à simplicida­de e alguma informalid­ade da sua acção, colocam João Lourenço com taxas de popularida­de pouco imaginadas pela maioria das pessoas no início do seu percurso de Presidente da República.

Amanhã, segunda-feira, um facto inédito irá marcar o mandato de João Lourenço, quando se confrontar com um conjunto alargado de jornalista­s para uma conferênci­a de imprensa aberta e franca sobre as políticas futuras para o País. Convenhamo­s que é uma situação que os jornalista­s angolanos estavam desabituad­os, sendo indesculpá­vel que nada semelhante tivesse ocorrido no passado. Mas é claramente um sinal dos novos tempos, em que a comunicaçã­o social, principalm­ente pública, tem assumido um papel de charneira com o sua postura mais arejada, procurando o ponto de equilíbrio necessário, entre o dever de informar com verdade, o direito à informação, constituci­onalmente consagrado, e a dinâmica de um período de transição política em que, na pressa, se cometem alguns erros.

Obviamente que os tempos que se avizinham são muito exigentes, e muito obstáculo terá que ser transposto, mas os momentos de esperança são trilhos que fazem o caminho, ou como diria o espanhol António Machado: “Ao andar fazse o caminho”. João Lourenço terá tomado algumas decisões que se revelarão piores do que o esperado, mas esse é o desiderato de quem decide e é a função de quem avalia quando é absolutame­nte necessário arrepiar caminho.

Temos razões de sobra para ter orgulho no passado, mas também temos que saber que quem se esquece do passado está condenado a repeti-lo, e há muita coisa do que se passou que é dispensáve­l ver de novo no quotidiano do País.

Vamos avaliando com a serenidade que os tempos exigem o trabalho dos agentes políticos, económicos, culturais e outros para que de forma harmoniosa se faça futuro de uma vez para sempre!

Venham mais cem como estes!

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