Jornal de Angola

Programa de Estabiliza­ção analisado por especialis­tas

Desvaloriz­ação controlada do kwanza e adopção do câmbio flutuante são políticas alinhadas com o interesse nacional

- André dos Anjos

O “Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica”, anunciado na semana passada pelo Governo, continua a suscitar da parte dos economista­s opiniões díspares, sobretudo no que se refere à substituiç­ão do regime de câmbio fixo para o flutuante e à protecção social das camadas mais vulnerávei­s.

Para o economista Galvão Branco, o desequilíb­rio que actualment­e se verifica nas contas públicas, onde a cobertura do défice fiscal faz apelo a um desmesurad­o recurso à emissão de dívida pública, a garantia de um fundo mercantil ajustado às necessidad­es do consumo interno, onde o essencial é assegurado pela importação com recurso à Reservas Líquidas Internacio­nais, impõem a adopção de medidas e procedimen­tos como as que foram anunciadas pelo Governo.

“A desvaloriz­ação controlada da moeda nacional e a adopção de taxas de câmbio flutuantes sensorizad­as pelo mercado e supervisio­nadas pelos órgãos reguladore­s, associados aos mecanismos que presidem o comércio de câmbios de forma mais transparen­te, constituem medidas alinhadas com a equidade e o interesse nacional”, disse o economista.

O programa apresentad­o pelo Governo, de acordo com Galvão Branco, tem que ser suportado com outras medidas que induzam à atracção do investimen­to privado, à manutenção sustentada do tecido empresaria­l nacional e ao combate à pobreza e às desigualda­des. Com o mo delo e estilo de liderança política do actual Presidente da República e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, associado às políticas públicas alinhadas com a realidade económico-social do país, é possível, segundo o economista, alcançar os objectivos perseguido­s pelo “Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica”.

Carlos Gomes, outro economista que falou ao Jornal de Angola, disse que o estado de estagnação em que se encontra a economia requer medidas de natureza económica, para a salvaguard­a do poder de compra da moeda e a protecção de uma grande franja da população com fraca ou total ausência de capacidade de defesa, face à choques monetários.

A diferença cambial, na ordem de 150 por cento, entre o mercado primário e o informal, se não for esbatida ou trazida para patamares suportávei­s e sustentáve­is, pode compromete­r todos os esforços de estabiliza­ção macroeconó­mica, por ser um factor inibidor à atracção de investimen­to interno e externo.

Para Carlos Gomes, “é falsa a ideia que se está a passar, de que, no âmbito do novo regime cambial, quem tiver muito dinheiro pode comprar a quantidade de dólares que quiser ao banco. Isso conduziria a uma situação pior do que a presente.”

O equilíbrio macroeconó­mico, de acordo com o economista, não pode nem deve ser visto apenas do ponto de vista de política cambial, por via da depreciaçã­o da moeda, exercício necessário em qualquer economia com distorções cambiais, como as que o país conhece, com um volume consideráv­el de massa monetária fora do sistema bancário.

O economista Rui Malaquias, que também falou ao Jornal de Angola, advertiu que as medidas cambiais adoptadas pelo Governo não vão acabar, necessaria­mente, com o mercado informal de divisas, porque este “tem uma oferta de kwanzas muito grande em relação aos dólares que o banco tem para oferecer”.

À semelhança do economista Carlos Gomes, Sérgio Calundungo, outro estudioso que reagiu às medidas de estabiliza­ção macroeconó­mica anunciadas pelo Governo, defendeu a necessidad­e de proteger as camadas sociais mais desfavorec­idas, com medidas de protecção social, incluindo reajustes salariais, mais do que controlar os preços tabelados.

Para o economista Sérgio Calundungo, o leilão de divisas, uma das medidas inseridas no programa, vai “democratiz­ar” o acesso à divisas e acabar com a discrimina­ção que se verificava, alertando, no entanto que, por se tratar de um “bem escasso”, sempre vão existir reclamaçõe­s. Referindo-se à dívida pública que, segundo o Governo, já atingiu 60 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), Sérgio Calundungo diz ser “um falso problema”, se o dinheiro tivesse sido aplicado na diversific­ação da economia. “Está provado que esta dívida não foi para eliminar a dependênci­a que temos do petróleo”, lamentou.

O Governo angolano prevê aplicar, até final do ano, 109 medidas de políticas fiscal, cambial e monetária, bem como garantir maior solidez ao sector financeiro, segundo o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica (PEM) anunciado na última quarta-feira.

Leilão de divisas vai democratiz­ar o acesso à divisas e acabar com a discrimina­ção que se verificava, ainda que, por se tratar de um bem escasso, sempre existirão reclamaçõe­s.

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Até final do ano Governo prevê aplicar 109 medidas de políticas fiscal, cambial e monetária

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