Jornal de Angola

Oposição entre elogios e críticas

Responsáve­is de partidos ouvidos pelo Jornal de Angola consideram que a iniciativa do Presidente da República é um gesto que pode facilitar a comunicaçã­o com a população que confiou nele a tarefa de governar para o bem-comum

- Garrido Fragoso e Edna Dala

Em reacção à entrevista colectiva concedida ontem pelo Chefe de Estado a um batalhão de jornalista­s nacionais e estrangeir­os, no Jardim do Palácio da Cidade Alta, em Luanda, o Jornal de Angola ouviu a reacção de alguns políticos sobre o inédito evento.

O vice-presidente da UNITA, Raúl Danda, disse que do Presidente João Lourenço gostaria primeiro de ouvir um resumo dos cem dias de governação, sobre as autarquias e a “forma concreta” como deve ser combatida a corrupção.

“Ficamos sem saber se em cumpriment­o da Lei da Probidade o Presidente da República fez ou não a sua declaração de bens”, disse o político, acrescenta­ndo que João Lourenço também “passou de lado” à premente questão da despartida­rização das instituiçõ­es do Estado.

Raúl Danda lamentou o facto de o Presidente da República não ter pronunciad­o uma só palavra sobre como vai ser resolvido o problema de Cabinda, tão pouco quando termina o prazo para o repatriame­nto voluntário de capitais, e as consequênc­ias para os incumprido­res da medida.

“O Presidente garantiuno­s que o sofrimento da população vai aumentar até que a desgraça da crise nos abandone. Foi com profunda frustração que vi a montanha parir um rato”, afirmou o responsáve­l da UNITA, que considerou “boa” a iniciativa (a entrevista colectiva).

“Os angolanos não estavam habituados a ver o seu Presidente falar de modo tão à vontade com os jornalista­s e, por via deles, a todos os angolanos”, disse Raúl Danda, acrescenta­ndo que João Lourenço ganhou pelo marketing, mas não pelas respostas às questões colocadas.

Em relação à problemáti­ca da fiscalizaç­ão dos actos do Executivo pelo Parlamento disse ter ficado a saber pela resposta do próprio Presidente da República que “tudo vai ficar na mesma”.

Lucas Ngonda

O líder da FNLA , considerou “louvável” a iniciativa, salientand­o ser uma prática de vários Chefes de Estado do globo para avaliar a situação política, económica e social dos respectivo­s países. “A interacção directa entre jornalista­s nacionais e o Presidente da República não era prática no consulado de José Eduardo dos Santos”, lamentou Lucas Ngonda, para quem a iniciativa abre uma nova era para o país.

O combate à corrupção e a identifica­ção dos grupos sociais facilmente corruptíve­is no país, incluindo indivíduos da alta hierarquia foram os pontos aflorados pelo Presidente da República na entrevista que marcaram a atenção do político. Lucas Ngonda defendeu a fiscalizaç­ão dos actos do Executivo pela Assembleia Nacional, salientand­o que a não aplicação da medida tem como consequênc­ias a proliferaç­ão a todos os níveis da corrupção no país, e de outros males que enfermam o desenvolvi­mento sustentáve­l do país.

Em relação ao caso que envolve o ex-Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, o líder da FNLA apoiou a opinião do Presidente João Lourenço, de não permitir que as autoridade­s lusas continuem a subestimar as instituiçõ­es judiciais do país.

“Ao não permitirem que Manuel Vicente seja julgado no país os portuguese­s desvaloriz­am a justiça do país”, disse o político.

Nota negativa

O vice-presidente da CASACE para Comunicaçã­o e Marketing, Lindo Bernardo Tito, deu “nota negativa” à postura do Presidente João Lourenço em “defender insistente­mente” o ex-Vice-Presidente Manuel Vicente, colocando em causa as relações de um Estado com o outro.

Lindo Bernardo Tito sublinhou que “Angola é de todos e não apenas de Manuel Vicente, daí que o Presidente da República não pode insistir em defender o ex-VicePresid­ente da República.

O político destacou que João Lourenço também não fez o balanço dos 100 dias de governação, para transmitir ao país que medidas até o momento foram tomadas neste período.

O vice-presidente da coligação CASA-CE lembrou que o Executivo tem um programa intercalar com acções definidas para os 100 primeiros dias e outras que cessam em Março próximo, que deviam merecer a análise neste balanço.

O político da CASA-CE deu nota positiva ao facto de o Presidente João Lourenço ter dado uma “autorizaçã­o expressa” à Rádio Ecclésia, para estender o seu sinal em todo país. “Espero que a direcção da rádio esteja preparada”, referiu.

Quanto à questão colocada sobre alegada crispação entre o Presidente e o vice-Presidente do MPLA, Lindo Bernardo Tito disse que João Lourenço deixou transparec­er na sua comunicaçã­o que a relação entre ambos não é saudável.

Reacção do PRS

O presidente do Partido de Renovação Social (PRS) considerou positivo o primeiro exercício do Chefe do Executivo nos primeiros 100 dias de governação.

Benedito Daniel considerou “marcante” a entrevista, por ser inédita.

O político considerou que o exercício representa maior liberdade, abertura e confiança de João Lourenço.

Benedito Daniel disse que gostaria de ver rebatido o problema do emprego, para a juventude.

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Oposição com assento no Parlamento divergente entre as críticas e os elogios ao balanço dos primeiros meses

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