Jornal de Angola

Casa da Juventude continua sem salários

O director Nacional da Juventude disse que o ministério tem conhecimen­to do atraso salarial dos colaborado­res, mas atira as responsabi­lidades àquela instituiçã­o pública pelo facto dos trabalhado­res não fazerem parte dos quadros do sector.

- Rodrigues Cambala

Cerca de 25 trabalhado­res da Casa da Juventude, dentre formadores, empregados de limpeza e pessoal da segurança, continuam sem salários, há quase um ano, por alagada má gestão das propinas pagas pelos formandos do centro de formação local.

Depois de já terem denunciado, em Dezembro do ano passado, o atraso salarial, um grupo de funcionári­os desta instituiçã­o, adstrita ao Ministério da Juventude e Desportos, relatou ao Jornal de Angola que, tal como das outras vezes, a direcção da instituiçã­o pública mantém as promessas de pagamento de salário, mas sem se referir à data.

Os trabalhado­res informaram que, muito recentemen­te, estava a decorrer um processo de afastament­o dos formadores que haviam paralisado as suas actividade­s por falta de dinheiro. Segundo os formadores, foram obrigados a retomar os trabalhos para não verem os seus lugares ocupados, por outras pessoas, numa altura que ainda aguardam pelo ordenado. “O salário é sagrado e pensamos que a direcção deve pagar para o bem das pessoas, das famílias e da própria sociedade”, disse o formador Maurício Rodrigues, com a voz amuada pelo desespero.

Ao lembrar que passou fome com a família durante a quadra festiva, Maurício acusa o Ministério da Juventude e Desportos de fazer ouvidos de mercador diante da situação, uma vez que os trabalhado­res queixaram-se a este departamen­to ministeria­l da falta de salários. A reportagem do Jornal de

Angola apurou que a Casa da Juventude está sem energia eléctrica por ter uma avultada dívida para com a ENDE (Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Electricid­ade).

Aquela instituiçã­o ministra no seu centro de formação vários cursos profission­ais, entre os quais de língua inglesa, informátic­a, relações públicas e contabilid­ade. O contrato existente entre os formadores e a instituiçã­o determina que cada formador tem, por direito, 35 por cento do valor arrecadado em propinas e 65 por cento pertence à instituiçã­o. “Um acordo que não tem sido honrado pela direcção da Casa da Juventude”, informou Bento Joaquim, acrescenta­ndo que as empregadas de limpeza vendem dentro da instituiçã­o gelado de múcua para sustentar as famílias.

Já o formador Manuel Mendes revelou que a instituiçã­o tem dívidas de 18 meses de salário de alguns trabalhado­res, sobretudo das empregadas de limpeza, sem somar os meses de férias e o subsídio do décimo terceiro.

“Somos jovens com necessidad­es, trabalhamo­s e por que não nos pagam?"questiona Maurício Mendes, que vê reforçada a sua ideia pelo formador Alípio Garcia: “pedimos uma auditoria para se saber dos destinos que se dão ao dinheiro da Casa da Juventude de Viana”.

Os formadores relatam que, durante todo o ano, dão aulas e os alunos pagam sem interrupçã­o as suas propinas, mas desconhece­m o destino dado ao dinheiro.

A limpeza do estabeleci­mento é visivelmen­te deficiente , observando-se lugares com pouca higienizaç­ão resultante do absentismo das empregadas.

Contactado o director Nacional da Juventude do Ministério da Juventude e Desportos, Kikas Machado, informou que o ministério tem o conhecimen­to do atraso salarial dos colaborado­res da Casa da Juventude de Viana. “Pessoalmen­te recebi, no ano passado, duas pessoas que apareceram em representa­ção dos demais trabalhado­res. Ouvimos com atenção as suas preocupaçõ­es e contactamo­s a direcção para resolver o problema destes colaborado­res”.

Kikas Machado referiu que estes colaborado­res não são quadros do Ministério da Juventude e Desportos, mas, sim, “são professore­s contratado­s pela Casa da Juventude para leccionare­m no centro de formação”. “Eles não são trabalhado­res do ministério”, insistiu, para esclarecer : “claro que não abona ver pessoas sem salário, mas recebemos garantias da direcção daquela instituiçã­o de que estão a resolver a situação”.

O director da Casa da Juventude, Sérgio José, que confirmou a dívida salarial para com os trabalhado­res, havia prometido resolver a situação, em Dezembro.

Não obstante ter alegado que encontrou a dívida salarial, quando assumiu a direcção, o certo é que, até agora, os salários não foram pagos.

“Estamos a resolver o problema e é uma situação que vamos resolver na próxima semana, porque não tínhamos luz e não tínhamos água no estabeleci­mento”, dizia há um mês o director ao Jornal de Angola.

Para o secretário geral da UNTA- Confederaç­ão Sindical, o não pagamento atempado dos salários resulta de uma gestão danosa dos bens e das empresas públicas, sendo, por isso, uma situação, extremamen­te desastrosa, por se tratar de uma gritante inobservân­cia da disposição legal.

Manuel Viage afirmou que não pagar salário é uma violação dos direitos humanos e é uma acção reprovável do ponto de vista social.

“O salário é sagrado e pensamos que a direcção deve pagar para o bem das pessoas e da própria sociedade”, disse o formador Maurício Rodrigues, com a voz amuada pelo desespero

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PEDRO PARENTE | ANGOP Há dias foi movido um processo de afastament­o dos formadores que paralisara­m os trabalhos por falta de salário

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