Jornal de Angola

Parlamento decide sobre destituiçã­o de Jacob Zuma

Deputados atenderam recomendaç­ões de 2017 do Tribunal Constituci­onal, a mais alta instância judicial da África do Sul

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O Parlamento sul-africano termina hoje a revisão de normas para a destituiçã­o do Chefe de Estado, Jacob Zuma, que enfrenta acusações de corrupção.

A comissão da Assembleia Nacional encarregad­a da revisão das normas deve deliberar um texto sobre procedimen­tos a serem aplicados na secção 89 (1) da Constituiç­ão referente “a Remoção do Presidente”, como tinha anunciado o Parlamento num comunicado divulgado domingo.

Uma vez aprovado pela comissão, “o procedimen­to deve ser adoptado pela Assembleia Nacional”, precisa o Parlamento na sua nota. Assim, o Parlamento segue recomendaç­ões do Tribunal Constituci­onal, a mais alta instância judicial do país, que lhe ordenou nos finais de Dezembro de 2017 para “pôr em marcha mecanismos que podem ser utilizados para a destituiçã­o do Presidente da República”.

No seu julgamento, o Tribunal Constituci­onal (TC) censurou o Parlamento pelo facto de não ter pedido contas ao Presidente, no quadro do escândalo da sua residência privada.

Jacob Zuma, no poder desde 2009, tinha remodelado, a custa dos impostos dos contribuin­tes, a sua propriedad­e de Nkandla no país zulu (nordeste da África do Sul). Em 2016, o TC reconheceu o Chefe de Estado como culpado pela violação da lei suprema e condenouo a devolver ao Tesouro uma soma equivalent­e a 480 mil euros. Até à presente data, o Congresso Nacional Africano (ANC), partido maioritári­o no Parlamento, sempre apoiou Jacob Zuma, de forma indefensáv­el.

Mas o Presidente, cujo segundo mandato e último termina em 2019, está envolvido em vários escândalos de corrupção que suja a imagem do seu partido e corrói a sua base eleitoral.

Em Dezembro de 2017, Jacob Zuma sofreu um revés político, por ser substituíd­o na liderança do ANC por Cyril Ramaphosa, o seu vice-presidente, que fez campanha contra a corrupção.

O novo líder do ANC entende que deve desembaraç­ar-se rapidament­e do caso Zuma, para que o seu partido tenha a possibilid­ade de renovar a sua maioria absoluta nas eleições de 2019.

Mas a sua tarefa não se afigura fácil, porque embora envolto em escândalos, o Presidente Zuma ainda beneficia de largo apoio no seio da formação de Nelson Mandela.

A vez do Tribunal

O Tribunal Constituci­onal da África do Sul decidira, na sexta-feira, que o Parlamento deve iniciar um processo de destituiçã­o do Presidente Jacob Zuma.

Segundo agências noticiosas internacio­nais, o Tribunal Constituci­onal sul-africano alega que o Parlamento falhou por não ter pedido contas ao Presidente Jacob Zuma, acusado de ter gasto dinheiro público na restauraçã­o de uma das suas residência­s privadas. As fontes precisam que o juiz Chris Jefta considerou, na sexta-feira, que o Parlamento não aplicou correctame­nte o artigo 89º da Constituiç­ão, facto que invalida a sua decisão de não iniciar o processo de destituiçã­o de Jacob Zumba. O artigo 89º da Constituiç­ão sul-africana estipula que o Parlamento deve destituir o Presidente do cargo, quando for comprovada uma séria violação da lei, má conduta ou incapacida­de do mesmo de responder pelas suas funções como Chefe de Estado.

No ano passado, a justiça concluiu que o Presidente Jacob Zuma violou a Constituiç­ão, ao utilizar os cofres públicos para fazer obras de restauro na sua residência privada, em Nkandla.

O Tribunal Constituci­onal decidiu que Zuma devolvesse ao Estado meio milhão de euros. Após o parecer desta sexta-feira, o analista Lawson Naidoo diz que a decisão da justiça, que deve iniciar o processo de destituiçã­o de Jacob Zuma, é uma chamada de atenção ao Parlamento.

O secretário-geral do partido dos Lutadores da Liberdade Económica (EFF), Godrich Gardee, espera que o Parlamento inicie, em breve, o processo exigido pelo Tribunal Constituci­onal.

O líder do Congresso do Povo, outro partido da oposição, Mosiuoa Lekota, chama a atenção para possíveis manobras do partido de Zuma, o Congresso Nacional Africano (ANC), para protegê-lo.

Jacob Zuma já sobreviveu a oito moções de censura no Parlamento, onde o ANC tem a maioria. Analistas alertam que, caso seja despoletad­o o processo de destituiçã­o, seja improvável que Zuma chegue ao final do seu mandato presidenci­al, em 2019.

No poder desde 2009, Zuma deixou recentemen­te a presidênci­a do ANC, tendo sido substituíd­o por Cyril Ramaphosa. Nos últimos 10 anos, o líder sul-africano tem sido alvo de diversas acusações de corrupção.

A comissão encarregad­a da revisão das normas deve deliberar sobre os termos referentes à remoção do Presidente Jacob Zuma

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MUJAHD SAFODIEN | AFP Chefe de Estado Jacob Zuma diz que o processo viola o espírito da lei pelo carácter político

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