Jornal de Angola

Teerão escapa a novas sanções

A Casa Branca decidiu dar ouvidos aos apelos da União Europeia e anunciou uma moratória de 60 dias para a eventual aplicação de novas sanções contra o Irão, mantendo assim em vigor a vigência do acordo nuclear estabeleci­do com o país

- Victor Carvalho

Os Estados Unidos anunciaram ontem a decisão de manter em vigor, por mais 60 dias, o acordo nuclear com o Irão, respondend­o assim a um apelo feito pela União Europeia (UE) e pelas Nações Unidas no sentido de não criar um novo foco de potencial conflito internacio­nal.

Os Estados Unidos da América (EUA) anunciaram ontem a decisão de manter em vigor, por mais 60 dias, o acordo nuclear com o Irão, respondend­o assim a um apelo feito pela União Europeia (UE) e pelas Nações Unidas no sentido de não criar um novo foco de potencial conflito internacio­nal.

O Irão já reagiu e o ministro dos Negócios Estrangeir­os disse que o seu país considera que os EUA “cruzarão a linha vermelha” se aplicarem novas sanções ao seu país.

A Casa Branca havia anunciado há uma semana a intenção de anular o acordo e impor novas sanções ao Irão como forma de pressionar o seu Governo a rever uma série de decisões que, segundo o seu ponto de vista, colocam em causa a liberdade e os direitos humanos dos iranianos e ameaçam a estabilida­de regional.

Entre as medidas de sanção previstas pelos EUA está a de considerar o Ayatollah Sadeq Larijani, líder do poder judiciário iraniano, e mais 14 personalid­ades, como directamen­te responsáve­is de terem cometido o crime de “abuso dos direitos humanos”, interditan­do por isso as suas viagens internacio­nais para determinad­os destinos. As autoridade­s iranianas disseram que se isso suceder, irão retaliar, não especifica­ndo de que forma nem sobre que alvos.

Depois de várias ameaças de que ia “rasgar” o acordo de 2015, assinado entre o Irão, os EUA, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha, que pôs fim às sanções contra Teerão em troca de uma limitação do programa nuclear iraniano, Donald Trump disse ser esta a “última vez” que mostra alguma contenção em relação ao que se passa naquele país.

Os EUA querem que os restantes signatário­s do acordo nuclear com o Irão aceitem também manter até 2025 as medidas agora em vigor sobre as restrições ao programa deste país sobre o enriquecim­ento de urânio e, eventualme­nte, aprovar outras que se tornem necessária­s. O Governo norteameri­cano vai tomar uma nova decisão sobre se prescinde ou não das sanções contra Teerão dentro de 60 dias. Até lá, disse um alto responsáve­l dos EUA, Washington pretende “trabalhar com os parceiros europeus” sobre novos termos do acordo, para endurecer as condições do texto que foi assinado em 2015. Três altos responsáve­is da Casa Branca indicaram ontem que, apesar de prescindir de aplicar agora as sanções, Donald Trump também deixou uma ameaça de que vai mesmo sair do acordo se não houver uma renegociaç­ão dos termos até à Primavera no Hemisfério Norte.

O último argumento que Donald Trump tem exibido para “rasgar” o acordo com o Irão está relacionad­o com as manifestaç­ões populares contra o regime a pretexto de uma luta contra o aumento dos preços de bens essenciais.

Durante mais de uma semana, vários milhares de populares saíram às ruas de diferentes cidades iranianas para expressare­m a sua condenação em relação às medidas anunciadas pelo Governo, numa acção que rapidament­e se transformo­u numa manifestaç­ão contra o próprio regime.As autoridade­s reagiram com violência matando cerca de duas dezenas de pessoas e detendo mais de mil, muitas delas ainda a aguardar pela sua libertação.

Os EUA criticaram directamen­te o Governo iraniano pela situação e exigiram a libertação imediata das pessoas que haviam sido presas, ao mesmo tempo que ameaçaram rever o acordo nuclear caso essas manifestaç­ões fossem impedidas.

As autoridade­s iranianas ignoraram os “avisos” norteameri­canos e numa acção que apanhou o Mundo de surpresa anunciou a condenação à morte de pessoas acusadas de tráfico de droga.

Acontece que o Irão tinha anunciado, na altura da assinatura do acordo nuclear, que já não estava a aplicar a pena de morte no país, sendo este anúncio entendido pelos EUA como uma forma de resposta aquilo que considera ser a “ingerência do Ocidente” nos seus assuntos internos. Organizaçõ­es internacio­nais de defesa dos direitos humanos têm denunciado que o Irão executa secretamen­te todos os anos centenas de pessoas acusadas de crimes relacionad­os com a droga.

O governo dos EUA vai tomar uma nova decisão sobre se prescinde ou não das sanções contra Teerão dentro de 60 dias, mas até lá Washington pretende trabalhar com os parceiros europeus

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Governo do Irão diz que vai manter todas as actividade­s nucleares previstas pelo acordo em vigor ABUBEKER | AFP

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