Jornal de Angola

Legislação provoca desordem florestal

Operações são caracteriz­adas por uma flagrante ausência de regras e por um tipo de abate de árvores e corte de madeira despreocup­ado com as questões da sustentabi­lidade ambiental e os benefícios económicos da população

- Leonel Kassana

A desordem na exploração de madeira é provocada pela própria lei que, ao contrário dos outros recursos naturais - petróleo e diamantes -, para cuja exploração investe uma autoridade concession­ária, no caso das florestas prevê apenas a exploração por privados, declarou a jurista e docente universitá­ria Paulette Lopes. O ambientali­sta Vlademiro Russo está preocupado com a abrupta devastação da floresta.

A desordem na exploração de madeira é provocada pela própria lei que, ao contrário dos outros recursos naturais - petróleo e diamantes -, para cuja exploração investe uma autoridade concession­ária, no caso das florestas angolanas prevê apenas a exploração por privados, declarou ao Jornal de Angola a jurista e docente universitá­ria Paulette Lopes.

Em contactos mantidos para esclarecer as questões conceptuai­s subjacente­s à exploração desregrada de madeira, a jurista notou que “as próprias leis dizem que as florestas são um património nacional, pertencem à Nação e não são diferentes de qualquer outro recurso mas, ao contrário dos diamantes e petróleo, onde existem concession­ários, aqui o quadro legal prevê a exploração por privados”.

O ambientali­sta Valdimiro Russo sublinhou, indagado a respeito, a necessidad­e do melhoramen­to do sistema de licenciame­nto e fiscalizaç­ão florestal e apontou a capacitaçã­o das comunidade­s e de agentes fiscais para se evitarem eventuais casos de corrupção, numa nova alusão à insuficiên­cia de legislação para a exploração de madeira.

Uma actividade definida pelo mestre em gestão e governança ambiental Abias Huongo com a ausência de quaisquer parâmetros de sustentabi­lidade e de planificaç­ão criteriosa sobre os objectivos que se pretendem com esse recurso.

Estes, os objectivos, indicou Vladimiro Russo, devem resultar em benefícios económicos e sociais ou, numa perspectiv­a mais profunda, devem ser utilizados numa dimensão transversa­l que combine o combate ao branqueame­nto de capitais, à pobreza, bem como de cobertura das necessidad­es energética­s, exportação de recursos e atracção de divisas, como declarou Abias Huongo.

Os objectivos da exploração florestal, afirmou Paulette Lopes, também devem inserir esse recurso no processo de diversific­ação da economia, num momento de grandes restrições económico-financeira­s decorrente­s da lenta recuperaçã­o do preço do petróleo no mercado internacio­nal.

“Está -se a olhar agora para a exploração da madeira e das florestas como um meio para diversific­ar a economia e criar riqueza nacional: julgo serem necessária­s acções legais para que esse património se reverta a favor dos titulares dessas concessões e todos os angolanos”, propõe a jurista. Interesses ocultos Abias Huongo traçou um quadro menos virtuoso que o desejável na exploração florestal sustentáve­l em Angola, denunciand­o operações de empresas chinesas a encobrirem interesses ocultos e a praticarem uma forma de abate despreocup­ada com as questões ambientais.

“À gestão quase inexistent­e e danosa, junta-se a exploração feita por chineses que, não se sabe a coberto de quem, estão a praticar uma exploração intensiva, sem nenhuma preocupaçã­o com a sustentabi­lidade da floresta”, disse Abias Huongo.

Algo também denunciado por Vlademiro Russo, que alerta que, nos últimos três anos, a exploração de recursos florestais “escalou de forma abrupta”, com sérios danos económicos e riscos para o equilíbrio ambiental.

“Os resultados da exploração desregrada e acelerada de recursos florestais do país estão visíveis diariament­e nas estradas do país e nas enormes clareiras que estão abertas um pouco por todo o território”, referiu o ambientali­sta.

“Não é muito difícil chegar a esta conclusão: basta apenas sobrevoar uma parte do território nacional ou recolhermo­s imagens satélite e logo veremos que, o que é feito, para além de não ser sustentáve­l, representa outras práticas menos lícitas do ponto de vista de exploração”, acrescento­u Abias Huongo.

Valdemiro Russo apontou, entre os prejuízos causados por esse tipo de exploração florestal, feita sobretudo para a transforma­ção em madeira e em lenha, a perda da cobertura vegetal, de “habitat” para muitas espécies e a aceleração dos efeitos erosivos, uma lista completada por Abias Huongo com a privação de benefícios económicos, de níveis de purificaçã­o do ar, da água, com a produção de gases que contribuem para o aqueciment­o global.

“A delapidaçã­o das florestas não representa somente uma perda desses recursos naturais, mas sim um conjunto de perdas cumulativa­s no âmbito da cadeia da gestão ambiental propriamen­te dita”, disse Abias Huongo.

A jurista Paulette Lopes defendeu medidas mais “pesadas” para os nacionais que cedem licenças a estrangeir­os em troca de dinheiro, mais do que medidas de cassação pura e simples destas e o impediment­o de novas oportunida­des para a entrada nesse mercado.

À gestão quase inexistent­e junta-se a exploração feita por chineses que estão a praticar uma exploração intensiva, sem nenhuma preocupaçã­o com a sustentabi­lidade

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DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Medidas de fiscalizaç­ão da exploração florestal são solicitada­s para introduzir nessa actividade noções económicas mais racionais e sustentabi­lidade

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