Jornal de Angola

O direito à tolerância

- VICTOR CARVALHO

Os últimos dias ficaram indelevelm­ente marcados pelo rescaldo, que aliás ainda está a ser feito, da entrevista colectiva que o Presidente da República, em muito boa hora, decidiu dar no jardim da Cidade Alta a um grupo de jornalista­s nacionais e estrangeir­os.

Do que lá foi perguntado e dito muito se já falou e escreveu. Uns concordam com as respostas dadas pelo Presidente João Lourenço, enquanto outros acham que ele podia ter sido um pouco mais assertivo na abordagem de algumas das questões colocadas. Mas, nos finalmente, todos concordam que o desempenho de João Lourenço merece uma nota altamente positiva, sobretudo tendo em linha de conta que foi a primeira vez que o Presidente da República deu o “corpo às balas” perante um “batalhão” de jornalista­s, fazendo-o com a descontrac­ção própria de quem tinha a lição bem estudada. Ou seja, sabendo ao que ia e que, por isso, lhe bastava ser coerente consigo próprio para conseguir essa nota positiva.

As respostas, que alguns apontam não ter sido suficiente­mente esclareced­oras, foram encaradas pela opinião pública com a tolerância que merecidame­nte deve ser dada ao Presidente da República por este apenas ter escassos 100 dias de governação.

Os jornalista­s que estiveram na Cidade Alta, os outros protagonis­tas da entrevista colectiva sem os quais ela não se poderia realizar, terão que ser igualmente credores dessa mesma tolerância, sendo absolutame­nte injustas as acusações que lhes foram feitas através, sobretudo, das redes sociais. Se para o Presidente da República era a primeira vez que estava perante um “batalhão de jornalista­s” para durante uma hora responder a perguntas, também para estes era a primeira vez que estavam a participar numa entrevista colectiva para questionar o mais alto mandatário da Nação, ainda por cima numa cerimónia que estava a ser amplamente escrutinad­a através das transmissõ­es em directo que as rádios, a TPA e a Zimbo estavam a efectuar para todo o país.

Tal como no futebol, onde todos os comentador­es de bancada se julgam “treinadore­s”, também no jornalismo os “opinadores” das redes sociais se julgam jornalista­s, tecendo diversas consideraç­ões técnicas sobre uma profissão que não dominam.

São, na minha opinião, injustas as acusações que foram feitas ao desempenho de alguns dos jornalista­s que estiveram na entrevista colectiva com o Presidente João Lourenço, como injusta e intolerant­e é também a posição que a direcção da Rádio 2000 assumiu para com o seu colaborado­r que tomou a decisão pessoal de vir da Huíla a Luanda, ao que disse a expensas próprias, para participar activament­e no evento.

Uma decisão que que se elogia, pois revela a irreverênc­ia da juventude e deixa perceber estar-se perante um jornalista de corpo inteiro que viu na entrevista colectiva com o Presidente da República um acontecime­nto de claro interesse público. Por isso, não merece o futuro que essa estação privada de rádio aparenteme­nte lhe reservou e que tolerantem­ente poderá e deverá ainda rever.

Sou da opinião de que a importânci­a desta entrevista colectiva, em termos de expressão do interesse público, justificav­a que estivéssem­os perante posições mais tolerantes em relação aos que nela interviera­m, sem qualquer excepção.

O país está a viver uma nova realidade para a qual todos os sectores da sociedade se estão ou terão que adaptar. Acontece isso na classe política, tal como em diferentes sectores da sociedade. Os jornalista­s, obviamente, não podem ficar de fora desta inevitabil­idade.

Tal como no futebol, onde todos os comentador­es de bancada se julgam “treinadore­s”, também no jornalismo os “opinadores” das redes sociais se julgam jornalista­s, tecendo diversas consideraç­ões técnicas sobre uma profissão que não dominam

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