O direito à tolerância
Os últimos dias ficaram indelevelmente marcados pelo rescaldo, que aliás ainda está a ser feito, da entrevista colectiva que o Presidente da República, em muito boa hora, decidiu dar no jardim da Cidade Alta a um grupo de jornalistas nacionais e estrangeiros.
Do que lá foi perguntado e dito muito se já falou e escreveu. Uns concordam com as respostas dadas pelo Presidente João Lourenço, enquanto outros acham que ele podia ter sido um pouco mais assertivo na abordagem de algumas das questões colocadas. Mas, nos finalmente, todos concordam que o desempenho de João Lourenço merece uma nota altamente positiva, sobretudo tendo em linha de conta que foi a primeira vez que o Presidente da República deu o “corpo às balas” perante um “batalhão” de jornalistas, fazendo-o com a descontracção própria de quem tinha a lição bem estudada. Ou seja, sabendo ao que ia e que, por isso, lhe bastava ser coerente consigo próprio para conseguir essa nota positiva.
As respostas, que alguns apontam não ter sido suficientemente esclarecedoras, foram encaradas pela opinião pública com a tolerância que merecidamente deve ser dada ao Presidente da República por este apenas ter escassos 100 dias de governação.
Os jornalistas que estiveram na Cidade Alta, os outros protagonistas da entrevista colectiva sem os quais ela não se poderia realizar, terão que ser igualmente credores dessa mesma tolerância, sendo absolutamente injustas as acusações que lhes foram feitas através, sobretudo, das redes sociais. Se para o Presidente da República era a primeira vez que estava perante um “batalhão de jornalistas” para durante uma hora responder a perguntas, também para estes era a primeira vez que estavam a participar numa entrevista colectiva para questionar o mais alto mandatário da Nação, ainda por cima numa cerimónia que estava a ser amplamente escrutinada através das transmissões em directo que as rádios, a TPA e a Zimbo estavam a efectuar para todo o país.
Tal como no futebol, onde todos os comentadores de bancada se julgam “treinadores”, também no jornalismo os “opinadores” das redes sociais se julgam jornalistas, tecendo diversas considerações técnicas sobre uma profissão que não dominam.
São, na minha opinião, injustas as acusações que foram feitas ao desempenho de alguns dos jornalistas que estiveram na entrevista colectiva com o Presidente João Lourenço, como injusta e intolerante é também a posição que a direcção da Rádio 2000 assumiu para com o seu colaborador que tomou a decisão pessoal de vir da Huíla a Luanda, ao que disse a expensas próprias, para participar activamente no evento.
Uma decisão que que se elogia, pois revela a irreverência da juventude e deixa perceber estar-se perante um jornalista de corpo inteiro que viu na entrevista colectiva com o Presidente da República um acontecimento de claro interesse público. Por isso, não merece o futuro que essa estação privada de rádio aparentemente lhe reservou e que tolerantemente poderá e deverá ainda rever.
Sou da opinião de que a importância desta entrevista colectiva, em termos de expressão do interesse público, justificava que estivéssemos perante posições mais tolerantes em relação aos que nela intervieram, sem qualquer excepção.
O país está a viver uma nova realidade para a qual todos os sectores da sociedade se estão ou terão que adaptar. Acontece isso na classe política, tal como em diferentes sectores da sociedade. Os jornalistas, obviamente, não podem ficar de fora desta inevitabilidade.
Tal como no futebol, onde todos os comentadores de bancada se julgam “treinadores”, também no jornalismo os “opinadores” das redes sociais se julgam jornalistas, tecendo diversas considerações técnicas sobre uma profissão que não dominam