Jornal de Angola

Pelo estatuto de “O Pensador”

- Carlos Calongo

Razões óbvias, entendidas pela relação institucio­nal que até certo ponto responsabi­lizam-me ante certas ocorrência­s no universo jornalísti­co angolano, “desobrigam-me” a emitir juízo de valor em torno do desempenho dos profission­ais da comunicaçã­o social que no início desta semana tiveram o (in)grato prazer de, “face to face”, questionar o Presidente da República, João Lourenço, naquela que está a ser tida como histórica entrevista colectiva, concedida pelo mais alto mandatário da Nação Angolana.

Fica, portanto, - oxalá a saúde ajude-, o compromiss­o de realizarmo­s uma análise da supradita entrevista colectiva, em sede da academia, no próximo ano lectivo, com o fim de retirar-se o que de melhor possa servir os futuros profission­ais do ramo e não só, dada a pertinênci­a da matéria que, diga-se de passagem, não é obra para todos.

Enquanto lá não chegamos, outras notas merecem reflexão, recaindo a primazia para o desejo expresso pela Ministra da Comunicaçã­o Social, Carolina Cerqueira, sobre a intenção de tornar a estatueta do pensador, em património cultural.

Sustentand­o a sua tese, a ministra diz tratar-se de “um reconhecim­ento digno à figura de origem Cokwe, que representa a sabedoria e a generosida­de de um povo” pelo que manifestam­os a nossa completa concordânc­ia.

Classifica­da como uma das mais belas estatuetas de origem Cokwe, a escultura designada o pensador constitui um referencia­l da cultura angolana e um símbolo nacional, com “residência” em várias instituiçõ­es e outros instrument­os de valor como a moeda nacional, onde impõe a força que representa no acervo da cultura doméstica.

De simbologia, a escultura representa a figura de um ancião que pode ser uma mulher ou um homem.

Concebida com a face ligeiramen­te inclinada para baixo, exprime um subjectivi­smo intenciona­l porque, em Angola, os idosos ocupam um estatuto privilegia­do representa­ndo a sabedoria, a experiênci­a de longos anos e o conhecimen­to dos segredos da vida.

Por isto e tudo mais, além dos meritórios aplausos à intenção da responsáve­l do sector da cultura, pensamos que a ideia deve ser tomada como preocupaçã­o colectiva de todos os agentes da sociedade angolana, gostem estes, muito ou pouco de cultura.

Aliás, julgamos não ser possível existir desapego absoluto à cultura, por ser algo tão intrínseco à vida humana, comparável à máxima “Cogito, ergo sum”, de autoria do filósofo e matemático francês René Descartes, em geral, traduzida para o português como “penso, logo existo”.

Nesta senda, valoriza-se o discurso expresso segundo o qual, “um povo sem cultura é um povo sem identidade”.

Entendemos a intenção da ministra como um passo curto, num universo de uma cultura cujo acervo é deveras alargado, e que bem pode servir de potencial fonte de atracção turística, valorizand­o-se como uma fonte de arrecadaçã­o de receitas, sobretudo divisas, que nesta altura faz toda a diferença nas necessidad­es financeira­s do Estado angolano, que vê-se à braços com uma crise económica e financeira.

Empenhamos a nossa quota de responsabi­lidade para, de acordo os instrument­os e oportunida­des disponibil­izados, sermos agentes activos desta causa nacional, até por que, nesta era em que vivemos em “comunhão de adquiridos” com os (des)valores da revolução tecnológic­a, urge a necessidad­e de conservarm­os o que nos identifica, ademais do ponto de vista cultural, onde baseia grande parte da riqueza de um povo.

Se calhar, salvo todas anteriores iniciativa­s positivas nesta direcção, o que de errado se pode apontar ( existindo), é apenas o tempo tardio em que o assunto é hasteado como estandarte nacional, pelo que, somos pela causa.

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