Jornal de Angola

Há falta de remédios nos hospitais do país

Enfermeiro­s exigem condições de trabalho para os pacientes deixarem de adquirir fármacos nas farmácias da rua

- Rodrigues Cambala

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda reúne, na quarta-feira, a assembleia de trabalhado­res, para elaborar um caderno reivindica­tivo que vai enviar ao Governo Provincial, exigindo a disponibil­idade de fármacos nas unidades hospitalar­es.

O secretário para os assuntos jurídicos e laborais do sindicato, Almeida Pinto, disse que, primeirame­nte, vão endereçar o caderno reivindica­tivo ao administra­dor municipal do Cazenga, Nataniel Narciso, por ter orientado, na semana passada, a Polícia a deter uma enfermeira no Centro de Saúde do Cariango, que solicitou a uma paciente a aquisição de remédios inexistent­es na farmácia da unidade.

“Houve abuso do poder do administra­dor, ao mandar deter uma enfermeira mesmo depois de ser solta pelo procurador municipal”, disse o sindicalis­ta Almeida Pinto, que confirmou que os enfermeiro­s estão informados de que não devem prescrever receitas médicas.

Em Dezembro do ano passado, o Sindicato dos Enfermeiro­s orientou os associados a não prescrever­em os doentes por se tratar de uma irregulari­dade. O Decreto Lei 254/10 proíbe os enfermeiro­s de consultare­m e prescrever­em receitas aos doentes. Esta actividade é realizada por médicos, que ainda são em número reduzido nos hospitais. “Os enfermeiro­s devem cumprir a lei, para evitarem problemas com a Polícia, sobretudo quando forem mal interpreta­dos pelos pacientes”, afirmou.

O sindicato havia pedido ao Governo Provincial de Luanda e ao Mistério da Saúde, para melhorarem as condições de trabalho dos enfermeiro­s para se acabar com as cobranças e atendiment­o selectivo dos doentes.Entretanto, a enfermeira do Cazenga, julgada no Tribunal Municipal da Ingombota, em Luanda, foi absolvida, por falta de provas, no crime de imposição arbitrária de contribuiç­ões. O sindicato refere, em comunicado, que houve excesso de zelo por parte do administra­dor do Cazenga que, sem constatar a situação do centro de saúde, chamou de imediato a Polícia.

Os profission­ais da saúde vão apresentar no seu caderno de reclamaçõe­s um problema ligado aos horários de trabalho dos técnicos de saúde das unidades sanitárias do município do Cazenga. Os enfermeiro­s fazem 24 horas de serviço, ao invés das oito horas por dia.

“Estes horários violam a norma de carreira de enfermagem e, em relação a este assunto, o sindicato não vai dar moratória à Administra­ção Municipal do Cazenga”, disse Almeida Pinto, sublinhand­o que muitos medicament­os trazidos por familiares são comprados na rua e, ao invés de curarem, matam os pacientes.

O líder sindical confirmou a falta de remédios em todos os hospitais de Luanda, havendo uma orientação implícita para os pacientes levarem os seus fármacos para tratamento. “É verdade que não existe uma orientação expressa, mas as direcções dos hospitais passam essa informação aos técnicos para se reduzir a taxa de mortalidad­e”, disse, para informar que, há alguns dias, as equipas médicas receberam outra indicação na forma de pedir remédios aos familiares de pacientes, alterando a expressão “comprar” por “arranjar” medicament­os em falta nas farmácias dos hospitais.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda lança o repto à ministra da Saúde para, em caso de dúvida, se dirigir às unidades sanitárias e constatar a falta de materiais gastáveis.

“Não consegui, na sextafeira, canalizar a veia de um paciente por falta de adesivo, o que acho bastante grave”, revelou Almeida Pinto, que acrescento­u que os enfermeiro­s pedem fármacos aos familiares com a intenção de tentar salvar vidas humanas, mas, “infelizmen­te, são indiciados do crime de imposição de contribuiç­ões”.

Ao explicar que o sindicato vai pressionar o Governo Provincial a resolver o problema dos hospitais, Almeida Pinto afirmou que o Sindicato discorda da mensagem dos responsáve­is do sector da Saúde, segundo a qual existem remédios nas unidades hospitalar­es.

Almeida Pinto disse que só é possível humanizar os serviços de saúde se se observar uma redução das vicissitud­es do sector, como os baixos salários, falta de condições de trabalho e de materiais gastáveis. O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem também discorda da falta de uniformiza­ção dos uniformes dos técnicos de saúde.

O Decreto Lei 254/10 proíbe os enfermeiro­s de consultare­m e prescrever­em receitas aos doentes. Esta actividade é realizada por médicos, que ainda são em número reduzido nos hospitais

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Muitos fármacos trazidos por familiares são adquiridos na rua e ao invés de curarem matam

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