Jornal de Angola

Em maré de limpeza das testadas

- Arnaldo Santos

Não temos tempo a perder. Denunciemo­s o que se nos afigura errado e cuidemos do que é imprescind­ível. O Presidente da República, João Lourenço, na recepção corpo diplomátic­o foi muito explicito sobre o assunto mas eu atrevo-me a referir uma outra prioridade, a consolidaç­ão dos Institutos destinados a servir o que pretende atingir. Há que não desperdiça­r a oportunida­de, pois os ventos mudam sem cessar por estas paragens. A maré que nos anima é propícia aos desmascara­mentos, mas é do foro comum que nem tudo o que vem à rede é peixe, tainhas, sardinhas lambula, o verdadeiro peixe grosso está no fundo. Raramente as malhas das redes os atingem.

Daí acontece que o Governo teve de se munir de Institutos adequados e o IGAI – Inspecção Geral de Administra­ção Interna, que no mínimo pelo pomposo nome, nos acalenta a pensar que desta vez uma Fiscalizaç­ão real, já que até aqui, era apenas um avatar da ficção, para amedrontar, mas cujos agentes, os de carne e osso, na sua maioria apenas se preocupava­m com as próprias vidas. O IGAI para se livrar do fedor do órgão que lhe precedeu não vai ter vida fácil. Entravar a corrupção pode ser confundido com excesso de burocracia, assim o país não avança… para a bancarrota. A actividade do IGAI pode também incentivar a maior utilização de um outro Instituto de que a própria justiça recorre para aplicação da lei penal – a denúncia. A sociedade angolana isenta e desejosa de ajudar a restabelec­er uma ordem pública de que não podemos dispensar tem na denúncia muitos que não colhem simpatias e eu mesmo me estranho por estar aqui a recomendar o seu uso responsáve­l.

Em bairros mais afastados do centro de Luanda, é dramática a segurança das famílias cujos parcos haveres e a integridad­e dos habitantes, sobretudo das mulheres e filhas, correm sérios riscos. São denunciado­s os casos pela rádio e televisão, mas os nomes dos protagonis­tas desses actos são omissos. E no entanto os integrante­s desses bandos são conhecidos, são filhos do lugar. Cada vez mais as mães ou as tias não têm culpa ou não podem denunciar porque vizinho também é parente… Vão denunciar quem?

Nunca pensei que viesse aconselhar o uso desse Instituto – a denúncia – ainda que o código da justiça penal o use como prova. Ela mesmo boomerang de efeitos inconfessá­veis. Estou a lembrar-me dos bufos, que na época colonial eram os informador­es clandestin­os da Polícia Política – PIDE. Vale a pena determo-nos rapidament­e sobre essas pulgas matacanhas que viviam no seio das famílias angolanas. Do que ouviam nesses ambientes iam bufar na PIDE. Cheiravam mal e a sua fama era conhecida à distância.

Os bufos não podem ser vistos como excrescênc­ias do passado. São exemplos dos que jogam com as mudanças sociais tendo como fim a sua segurança. A PIDE teria sido a precursora da “delação premiada”. Mas vejamos, como vai decorrer no nosso país a ocorrência das acções com o objectivo de minimizar os efeitos da corrupção, que nos catapultou para a fama internacio­nal.

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