Postos de saúde encerrados por abandono de técnicos
Em 2012, depois de o Panguila passar para o município do Dande, os postos de saúde deixaram de funcionar. Os técnicos regressaram a Cacuaco e levaram consigo todos os equipamentos e medicamentos que se encontravam no interior dos mesmos
Três postos médicos, inaugurados em 2010 no perímetro do Projecto Modular do Panguila, no Bengo, foram invadidos e transformados em residências, constatou ontem o Jornal de Angola no local.
O presidente da Comissão de Moradores do Projecto Modular do Panguila, Isolde Sangama, que confirmou o facto, avançou que as unidades sanitárias, que funcionaram até finais de 2012, ficaram abandonadas depois da transferência da localidade, que dependia administrativamente do município de Cacuaco, província de Luanda, para o município do Dande, no Bengo.
Isolde Sangana explicou que, antes da invasão, os equipamentos e medicamentos que se encontravam armazenados nos postos tinham sido transportados para locais incertos. Depois disso, as três estruturas permaneceram cerca de um ano em estado de abandono.
“Em 2012, depois do Panguila passar para o Dande, os postos de saúde deixaram de funcionar. Os técnicos regressaram a Cacuaco e levaram todos equipamentos e medicamentos que se encontravam no interior dos mesmos”, disse, acrescentando que “foi depois de um ano que os populares resolveram ocupar as infraestruturas”.
Segundo Isolde Sangama, há dois anos que os ocupantes ilegais foram notificados pela Direcção Municipal de Saúde do Dande no sentido de abandonarem o local. Mas, persiste a ocupação. “Os cidadãos continuam a residir naquelas estruturas, alegando que já não sabem mais para onde ir”, referiu.
O responsável lembrou que a maioria dos moradores chegou ao local em 2003, provenientes do Cazenga, Cacuaco, Maianga, Rocha Pinto, Kinanga e, principalmente, da Chicala II, e ainda da Favela da Marginal de Luanda.
“A maioria são cidadãos reassentados. Chegaram aqui quando o Governo resolveu tirar as populações que vi viam em vários pontos críticos de Luanda. O Projecto Modular do Panguila possui 900 residências. Cada uma delas acomodava mais de três famílias”, recordou.
Centro Médico do Panguila
“A partir do momento em que os postos médicos deixaram de funcionar, o centro médico do Panguila começou a registar grandes enchentes”, disse a morador do sector 8, Laurinda Natal, de 35 anos.
Laurinda Natal, mãe de uma menina de oito meses, defendeu a necessidade de a única unidade de saúde pública em serviço na localidade oferecer também serviços de parto, assistência materno-infantil e de ginecologia.
“Aqui, no Panguila, a maioria das famílias é de baixa renda. Muitas mulheres não dispõem de recursos financeiros para se deslocarem para outras localidades em busca de tais serviços”, disse. O centro médico do Panguila, inaugurado a 15 de Novembro de 2003, tem um banco de urgência que atende 24 horas por dia. A unidade oferece serviços de laboratório de análises clínicas, medicina geral, pe diatria, área do Programa Alargado de Vacinação (PAV) e um Centro de Testagem Voluntária (CTV).
A unidade sanitária conta com três médicos, sendo um de pediatria e dois de medicina geral. Dispõe ainda de 30 técnicos, entre enfermeiros e especialistas de laboratório. Em média diária, o centro do Panguila atende mais de 70 pacientes.
O director de enfermagem do centro, Fernando Capiápia, disse que as doenças mais frequentes no Panguila são a malária, diarreias agudas, tosses e infecções res- piratórias, e referiu que devido ao débil saneamento básico, o número de casos aumenta significativamente, sobretudo na época chuvosa.
Fernando Capiápia esclareceu que o Sistema Nacional de Saúde determina que uma unidade, com a mesma tipologia do centro de saúde do Panguila, não deve colocar pacientes em observação até um período acima das 72 horas.
“Isso significa que todo o paciente que dá entrada no nosso centro, com problemas graves de saúde, só pode permanecer no centro no máximo até três dias. Passado esse período, deve ser transferido para um hospital”, explicou. O centro, que dispõe de seis camas, sendo três em cada uma das duas salas de observação (masculina e feminina), necessita de mais 12 técnicos de enfermagem para melhorar o atendimento à população.
“Temos poucos efectivos. Basta um dos técnicos sair de férias e já fica difícil manter os turnos em pleno funcionamento. Vamos aguardar que nos próximos concursos públicos consigamos ter mais enfermeiros para o nosso centro”, disse Fernando Capiápia, assegurando que o número de médicos é suficiente para atender a procura.
Poucas escolas
No Panguila, existem cinco escolas públicas, das quais duas do ensino primário, três do I ciclo e uma do II ciclo do ensino secundário. Conta ainda com cinco colégios privados.
Apesar de acolherem milhares de alunos da iniciação à 12.ª classe, as escolas públicas e privadas do Panguila estão à altura de dar resposta aos milhares de crianças fora do sistema normal do ensino.
Com mais de 50 mil habitantes, Panguila tem mais de oito mil residências para realojar inicialmente os cidadãos que habitavam em zonas de risco na capital do país.
A maioria são cidadãos reassentados. Chegaram aqui quando o Governo resolveu transferir as populações que viviam em vários pontos críticos de Luanda