Jornal de Angola

Corrupção é uma ameaça grave em toda África

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Desde o dia 22 até 29 do corrente, as elites políticas africanas encontram-se reunidas em Adis Abeba, capital da Etiópia e sede da União Africana para a 30 ª Sessão Ordinária da Conferênci­a de Chefes de Estado e de Governo, sob o importante lema “Vencer a corrupção: uma opção duradoura para a transforma­ção de África”. Depois das sessões em que reuniram o Comité dos Representa­ntes Permanente­s e o Conselho Executivo, seguem-se os dias 28 e 29 para o momento mais alto, nomeadamen­te a 30ª Sessão Ordinária da Conferênci­a dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana.

Angola faz-se representa­r pelo Mais Alto Magistrado da Nação, João Lourenço, cuja eleição e os primeiros meses foram traduzidos numa demarcação encorajado­ra para com as más práticas, entre elas a corrupção.

Na verdade, a corrupção em África atingiu proporções que colocam o continente numa rota em que deverá escolher entre lutar contra a corrupção ou deixar-se vencer e degradar-se completame­nte pelo referido mal.

Como dizia um estadista africano, os povos de África não podem augurar boas práticas, boa governação, e ao mesmo tempo permitirem que aqueles valores convivam com práticas que lhes são antagónica­s.

Os custos da corrupção no continente, segundo um estudo da União Africana, datado de 2002, são estimados em 150 mil milhões de dólares, valores que superam os números ligados à ajuda ao desenvolvi­mento que África recebe.

Embora distantes, não há dúvidas de que os números não variam muito, 16 anos depois, na medida em que outros estudos continuam a indicar a corrupção como dos principais entraves ao desenvolvi­mento do continente.

Um dos estadistas africanos a reconhecer esse papel perverso da corrupção é o Presidente João Lourenço que, durante o seu discurso de tomada de posse, disse claramente que “a corrupção e a impunidade têm um impacto negativo directo na capacidade do Estado e dos seus agentes executarem qualquer programa de governação. Exorto, por isso, todo o nosso povo a trabalhar em conjunto para extirpar esse mal que ameaça seriamente os alicerces da nossa sociedade”.

O apelo do Chefe de Estado angolano, embora se dirigisse aos seus compatriot­as, tem um alcance continenta­l na medida em que o contexto em África é ainda marcado por actos de corrupção, fenómeno associado a outros como a impunidade, tráfico de influência. Recentemen­te, um outro estudo fazia alusão que perto de cem milhões de africanos pagava algum tipo de suborno para ver os seus documentos, serviços ou quaisquer actos administra­tivos resolvidos.

A proporção em que a corrupção chegou em todo o continente não pode mais ser adiada com medidas paliativas ou simples retórica política porque, como o tempo tem comprovado, os actos de corrupção depauperam o Estado, as instituiçõ­es, banaliza o funcionali­smo público, fomentam o crime, o contraband­o.

O mundo deu passos importante­s no sentido do combate à corrupção, nomeadamen­te com a criação da Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, adoptada em Outubro de 2003, e África não deve ficar atrás. Além da componente legal, é preciso que os Estados membros da União Africana apertem o cerco à corrupção como forma de combater a evasão fiscal, evitar o empobrecim­ento das famílias, distorção das regras da economia de mercado.

Esperamos que desta cimeira dos Chefes de Estado e de Governo saiam importante­s medidas que vinculem os Estados membros no sentido de transforma­rem a corrupção em inimigo público número um em toda a África.

O apelo do Chefe de Estado angolano, embora se dirigisse aos seus compatriot­as, tem um alcance continenta­l na medida em que o contexto em África é ainda marcado por actos de corrupção, fenómeno associado a outros como a impunidade, tráfico de influência

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