Jornal de Angola

Turquia ameaça ampliar acção contra milícia curda

Exército turco intensific­a ataques contra aliados dos EUA em Afrin e Moscovo teme o descarrila­r das negociaçõe­s de paz

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O Presidente da Turquia, Recep Erdogan, ameaçou ontem expandir a ofensiva militar turca no enclave de Afrin para outras cidades do norte da Síria para eliminar a presença de uma milícia curda considerad­a por ele como “terrorista” o que agrava ainda mais a situação na região, com os Estados Unidos a admitirem a ameaça de um confronto entre forças turcas e americanas.

Num discurso transmitid­o pela televisão, Recep Erdogan prometeu “limpar” Manbij, localidade a algumas centenas de quilómetro­s do leste de Afrin, e “não deixar nenhum terrorista até a fronteira iraquiana”.

Após a ofensiva de Afrin, baptizada de “Ramo de Oliveira”, “limparemos Manbij dos terrorista­s”, garantiu Erdogan, no sétimo dia da operação realizada pelo Exército turco e pelos rebeldes sírios pró - Ancara nesse território curdo na Síria.

O objectivo da operação é expulsar de Afrin a milícia curda das Unidades de Protecção do Povo (YPG), considerad­a “terrorista” por Ancara, mas aliada dos Estados Unidos na luta contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

As posições de Recep Erdogan preocupam os Estados Unidos que têm ainda os rebeldes curdos como aliados principais no combate às forças governamen­tais sírias fiéis ao Presidente Bashar al-Assad.

Enquanto os rebeldes sírios apoiados por Ancara tentam, desde sábado, pressionar as linhas curdas com a ajuda da aviação e artilharia turcas, a administra­ção semiautóno­ma de Afrin pediu na quinta-feira que o Governo de Damasco actue para impedir esses ataques.

A operação militar turca reforçou as tensões entre Ancara e Washington, enquanto as declaraçõe­s de Erdogan correm o risco de alimentar o fogo.

“Depois, continuare­mos a nossa luta até que não reste nenhum terrorista até a fronteira iraquiana”, acrescento­u Erdogan.

Essas declaraçõe­s marcam um endurecime­nto no discurso oficial na Turquia. Até então, Ancara concentrav­a a sua luta contra a presença das YPG ao oeste do rio Eufrates, onde estão Afrin e Manbij. Agora, porém, parece determinad­a a agir também ao leste do rio, na direcção da fronteira iraquiana.

Além de Manbij, as forças americanas estão presentes ao lado das YPG em várias regiões a leste do Eufrates.

Em conversa por telefone na quarta-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, terá dito a Erdogan para evitar “qualquer acção que possa provocar um confronto entre as forças turcas e americanas”.

“Alguns nos pedem com insistênci­a para que façamos o necessário para que esta operação seja curta (...) Esperem. Começou há sete dias. Quanto tempo durou o Afeganistã­o? Quanto tempo durou o Iraque?”, rebateu Erdogan.

Ao reiterar as suas críticas ao apoio - especialme­nte logístico - dos Estados Unidos às YPG, o Presidente turco declarou: “os terrorista­s passeiam pela região com bandeiras americanas”.

Com as ameaças de Erdogan contra Manbij, “uma confrontaç­ão militar directa entre o Exército turco e as forças americanas é possível”, alertara Anthony Skinner, analista do escritório de consultori­a Verisk Maplecroft, para quem as relações Ancara e Washington estão “à beira do precipício”.

Os curdos da Síria, marginaliz­ados há tempos no país, aproveitar­am a retirada das forças militares de Damasco do norte no início do conflito, em 2011, para estabelece­r a sua autonomia a partir de 2012.

Além disso, em favor da sua aliança com os Estados Unidos, os combatente­s curdos expandiram os seus território­s, para o desespero da Turquia, que os vê como uma ameaça à sua segurança.

Processo de paz em perigo

A Rússia admitiu quartafeir­a que a operação militar lançada pela Turquia contra as milícias curdas no noroeste da Síria é um “perigoso desafio” para o processo de paz no país.

“Isso é o que está a acontecer agora na zona de Afrine, onde as Forças Armadas da Turquia realizam uma operação militar conjunta com unidades da oposição síria”, declarou Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeir­os russo, numa conferênci­a de imprensa.

Zakharova assinalou que qualquer “atraso no restabelec­imento da unidade da sociedade síria traz desafios novos e perigosos”.

A operação das forças militares turcas aumentou as tensões entre Ancara e Washington, enquanto as declaraçõe­s de Erdogan correm o risco de alimentar o fogo

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Exército da Turquia promete “varrer terrorista­s” até à fronteira com o Iraque AFP

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