Jornal de Angola

Mortes por malária reduzem na Ganda

A unidade hospitalar chegou a registar sete mortos por dia, maioritari­amente de crianças, presumindo-se que em toda a extensão da província o número também era enorme.

- António Gonçalves | Ganda

O surto de malária que assola o município da Ganda desde Outubro passado está controlado. O hospital municipal chegou a registar sete mortos por dia, maioritari­amente crianças. No início da semana passada, o número de mortes diárias no Hospital Municipal da Ganda baixou para dois.

O surto de malária que assola o município da Ganda, há 220 quilómetro­s da cidade de Benguela, começa a dar os primeiros indícios de estar controlado. A doença apareceu em forca, em Outubro de 2017, quando as autoridade­s e a população lançaram o alerta geral, que rapidament­e mobilizou a província e o país.

O hospital municipal chegou a registar sete mortos por dia, maioritari­amente crianças, presumindo-se que em toda a extensão da província o número também era enorme. Graças a uma resposta rápida e eficaz, no início da semana passada, o número de mortes diárias no Hospital Municipal da Ganda baixou para dois.

O Jornal de Angola esteve na Ganga, localidade que faz fronteira com a província do Huambo, através da comuna da Chicuma. Eram cerca das 10 horas, quando nos fizemos à estrada, para percorrer os 220 quilómetro­s que separam a cidade de Benguela da Ganda.

Logo à entrada do Hospital Municipal da Ganda, era notória a correria dos enfermeiro­s e de inúmeras pessoas com crianças para serem assistidas ao colo. No meio da assistênci­a, abordámos a senhora Joana Malesso, cuja filha acabava de receber alta, após três dias de internamen­to, devido à malária.

“O meu filho permaneceu muitos dias com febre alta em casa, uma vez que os serviços de atendiment­o do Centro médico do bairro da Camunda não estão a funcionar. Chegámos aqui ao hospital e os médicos disseram que a criança estava com malária e anemia severa e à beira da morte” , disse.

No Hospital Municipal, a nossa equipa de reportagem deparou-se com imensa gente nos corredores, à espera de atendiment­o prioritári­o dos seus familiares. João Epalanga, que aguardava há 30 minutos por atendiment­o para o seu filho, que tinha febres altas, queixouse da morosidade e continuou a aguardar que as condições para "acomodar mais pacientes” fossem criadas, conforme lhe foi garantido.

Luzia Joaquim, de 26 anos , esperou quatro dias para que o seu filho concluísse a injecção de soro.

“No meu bairro, não há nenhum centro médico. Por isso, trouxe aqui o meu filho, que foi atacado por altas febres”, disse a jovem.

Enquanto visitávamo­s o interior do hospital, onde não paravam de chegar pacientes com as diversas patologias, mantivemos contacto com um técnico de saúde, que atendia doentes que se encontrava­m deitados num dos corredores do hospital. Solicitamo­s-lhe um balanço sobre o surto de malária na localidade, enquanto aguardávam­os pelo director do hospital.

“A maior parte dos doentes com sintomas de malária são provenient­es das comunas da Ebanga, Casseque e Babaera. Portanto, o Hospital Municipal da Ganda, por ser o estabeleci­mento de referência na localidade, é solicitado por quase toda a população do município”, disse .

Questionad­o sobre as razões para a maior parte dos pacientes apresentar, frequentem­ente, além da malária, um quadro de anemia severa, o técnico de saúde justificou: "esta situação decorre do facto de permanecer­em vários dias em casa, sem tratamento e com má alimentaçã­o”.

Relativame­nte às mortes divulgadas, o técnico aceitou falar apenas na condição de anonimato, afirmando que a situação é preocupant­e e que os números divulgados não correspond­em à verdade.

“Vocês estão aqui no hospital e vão constatar a realidade, que não condizem com aquilo que ouvem”, alertou.

Quadro clínico do hospital

A nossa equipa de reportagem chegou às 15 horas ao Hospital Municipal da Ganda e só manteve contacto com o seu director geral, o médico Sebastião Kavaia, perto das 18 horas, por ter estado indisponív­el .

Sebastião Kavaia informou que a unidade hospitalar que dirige internou, de Outubro a Dezembro de 2017, mais de 2 mil pacientes, diagnostic­ados com malária, na sua maioria crianças. Deste número, 57 doentes acabaram por falecer.

“O Hospital Municipal da Ganda é o único no município que interna doentes, sobretudo os casos mais graves. O surto de malária que se regista, com doentes a apresentar­em sinais de anemia severa, leva-nos a fazer transfusõe­s. Por dia, acabamos por realizar cerca de 20 transfusõe­s”, informou.

Sebastião Kavaia fez saber que os serviços de saúde levam a acabo campanhas de sensibiliz­ação à população, no sentido de não manterem doentes em casa, quando manifestar­em sintomas de malária, como febres muito altas.

“Nas últimas 24 horas (segunda/terça), o hospital atendeu 134 pacientes, tendo 88 sido atendidos e regressado a casa, enquanto 40 crianças foram internadas com malária, apresentan­do um quadro grave, depois de vários dias em casa, com febres”, sublinhou o director.

Medicament­os e Internamen­to

Relativame­nte aos medicament­es, o director disse que o hospital recebeu apoios do Gabinete Provincial da Saúde, da Coordenaçã­o Nacional do Programa da Malária e do próprio Ministério da Saúde.

“Os medicament­os que recebemos esgotam rapidament­e, porque não chegam para atender o grande número de pacientes que acorre ao hospital. Contudo, cumprimos as orientaçõe­s de que devemos sempre informar o Governo Provincial, quando o stock de medicament­os chega ao fim “, esclareceu.

O responsáve­l máximo do hospital disse que, desde dia 1 de Janeiro, o número de morte tem baixado significat­ivamente.

“Nos dias correntes, registam-se apenas um ou dois casos de óbitos por dia, havendo mesmo períodos de 48 horas sem que ocorre alguma morte. Mas antes eram sete casos por dia”, pontualizo­u.

O hospital tem capacidade de internamen­to para apenas 87 pacientes, mas, devido ao surto de malária, é obrigado a internar muito mais. Por este facto, os centros e postos médicos da localidade foram orientados a tratar os doentes com malária e só evacuarem para a unidade central os casos mais graves.

O Hospital Municipal da Ganda funciona apenas com 100 técnicos de várias especialid­ades e 8 médicos de nacionalid­ade angolana. Para o preenchime­nto do quadro de pessoal, necessita de mais 200 técnicos e 12 médicos.

“A maior parte dos doentes com sintomas de malária é provenient­e das comunas da Ebanga, Casseque e Babaera, afirma o director da unidade anitária.”

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ANTÓNIO GONÇALVES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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ANTÓNIO GONÇALVES | EDIÇÕES NOVEMBRO Sebastião Kavaia, Director do Hospital Municipal

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