Mortes por malária reduzem na Ganda
A unidade hospitalar chegou a registar sete mortos por dia, maioritariamente de crianças, presumindo-se que em toda a extensão da província o número também era enorme.
O surto de malária que assola o município da Ganda desde Outubro passado está controlado. O hospital municipal chegou a registar sete mortos por dia, maioritariamente crianças. No início da semana passada, o número de mortes diárias no Hospital Municipal da Ganda baixou para dois.
O surto de malária que assola o município da Ganda, há 220 quilómetros da cidade de Benguela, começa a dar os primeiros indícios de estar controlado. A doença apareceu em forca, em Outubro de 2017, quando as autoridades e a população lançaram o alerta geral, que rapidamente mobilizou a província e o país.
O hospital municipal chegou a registar sete mortos por dia, maioritariamente crianças, presumindo-se que em toda a extensão da província o número também era enorme. Graças a uma resposta rápida e eficaz, no início da semana passada, o número de mortes diárias no Hospital Municipal da Ganda baixou para dois.
O Jornal de Angola esteve na Ganga, localidade que faz fronteira com a província do Huambo, através da comuna da Chicuma. Eram cerca das 10 horas, quando nos fizemos à estrada, para percorrer os 220 quilómetros que separam a cidade de Benguela da Ganda.
Logo à entrada do Hospital Municipal da Ganda, era notória a correria dos enfermeiros e de inúmeras pessoas com crianças para serem assistidas ao colo. No meio da assistência, abordámos a senhora Joana Malesso, cuja filha acabava de receber alta, após três dias de internamento, devido à malária.
“O meu filho permaneceu muitos dias com febre alta em casa, uma vez que os serviços de atendimento do Centro médico do bairro da Camunda não estão a funcionar. Chegámos aqui ao hospital e os médicos disseram que a criança estava com malária e anemia severa e à beira da morte” , disse.
No Hospital Municipal, a nossa equipa de reportagem deparou-se com imensa gente nos corredores, à espera de atendimento prioritário dos seus familiares. João Epalanga, que aguardava há 30 minutos por atendimento para o seu filho, que tinha febres altas, queixouse da morosidade e continuou a aguardar que as condições para "acomodar mais pacientes” fossem criadas, conforme lhe foi garantido.
Luzia Joaquim, de 26 anos , esperou quatro dias para que o seu filho concluísse a injecção de soro.
“No meu bairro, não há nenhum centro médico. Por isso, trouxe aqui o meu filho, que foi atacado por altas febres”, disse a jovem.
Enquanto visitávamos o interior do hospital, onde não paravam de chegar pacientes com as diversas patologias, mantivemos contacto com um técnico de saúde, que atendia doentes que se encontravam deitados num dos corredores do hospital. Solicitamos-lhe um balanço sobre o surto de malária na localidade, enquanto aguardávamos pelo director do hospital.
“A maior parte dos doentes com sintomas de malária são provenientes das comunas da Ebanga, Casseque e Babaera. Portanto, o Hospital Municipal da Ganda, por ser o estabelecimento de referência na localidade, é solicitado por quase toda a população do município”, disse .
Questionado sobre as razões para a maior parte dos pacientes apresentar, frequentemente, além da malária, um quadro de anemia severa, o técnico de saúde justificou: "esta situação decorre do facto de permanecerem vários dias em casa, sem tratamento e com má alimentação”.
Relativamente às mortes divulgadas, o técnico aceitou falar apenas na condição de anonimato, afirmando que a situação é preocupante e que os números divulgados não correspondem à verdade.
“Vocês estão aqui no hospital e vão constatar a realidade, que não condizem com aquilo que ouvem”, alertou.
Quadro clínico do hospital
A nossa equipa de reportagem chegou às 15 horas ao Hospital Municipal da Ganda e só manteve contacto com o seu director geral, o médico Sebastião Kavaia, perto das 18 horas, por ter estado indisponível .
Sebastião Kavaia informou que a unidade hospitalar que dirige internou, de Outubro a Dezembro de 2017, mais de 2 mil pacientes, diagnosticados com malária, na sua maioria crianças. Deste número, 57 doentes acabaram por falecer.
“O Hospital Municipal da Ganda é o único no município que interna doentes, sobretudo os casos mais graves. O surto de malária que se regista, com doentes a apresentarem sinais de anemia severa, leva-nos a fazer transfusões. Por dia, acabamos por realizar cerca de 20 transfusões”, informou.
Sebastião Kavaia fez saber que os serviços de saúde levam a acabo campanhas de sensibilização à população, no sentido de não manterem doentes em casa, quando manifestarem sintomas de malária, como febres muito altas.
“Nas últimas 24 horas (segunda/terça), o hospital atendeu 134 pacientes, tendo 88 sido atendidos e regressado a casa, enquanto 40 crianças foram internadas com malária, apresentando um quadro grave, depois de vários dias em casa, com febres”, sublinhou o director.
Medicamentos e Internamento
Relativamente aos medicamentes, o director disse que o hospital recebeu apoios do Gabinete Provincial da Saúde, da Coordenação Nacional do Programa da Malária e do próprio Ministério da Saúde.
“Os medicamentos que recebemos esgotam rapidamente, porque não chegam para atender o grande número de pacientes que acorre ao hospital. Contudo, cumprimos as orientações de que devemos sempre informar o Governo Provincial, quando o stock de medicamentos chega ao fim “, esclareceu.
O responsável máximo do hospital disse que, desde dia 1 de Janeiro, o número de morte tem baixado significativamente.
“Nos dias correntes, registam-se apenas um ou dois casos de óbitos por dia, havendo mesmo períodos de 48 horas sem que ocorre alguma morte. Mas antes eram sete casos por dia”, pontualizou.
O hospital tem capacidade de internamento para apenas 87 pacientes, mas, devido ao surto de malária, é obrigado a internar muito mais. Por este facto, os centros e postos médicos da localidade foram orientados a tratar os doentes com malária e só evacuarem para a unidade central os casos mais graves.
O Hospital Municipal da Ganda funciona apenas com 100 técnicos de várias especialidades e 8 médicos de nacionalidade angolana. Para o preenchimento do quadro de pessoal, necessita de mais 200 técnicos e 12 médicos.
“A maior parte dos doentes com sintomas de malária é proveniente das comunas da Ebanga, Casseque e Babaera, afirma o director da unidade anitária.”