Jornal de Angola

Uma medida necessária para salvar o ambiente

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A proibição do corte, circulação e transporte de madeira em todo o território nacional, por determinaç­ão do Ministério da Agricultur­a e Florestas, constitui uma medida que peca apenas por tardia. Foram várias as vozes, de pessoas e instituiçõ­es, baseadas na sua experiênci­a pessoal e documentad­a, que insistente­mente clamavam pela necessidad­e urgente de estancar a exploração, sobretudo a ilegal.

O comunicado do ministério que tutela os recursos florestais é prenúncio de que tais vozes foram ouvidas pelo Executivo, numa altura em que os níveis de exploração já ameaçavam a sustentabi­lidade ambiental. Na verdade, esse volte-face institucio­nal que vem repor a legalidade, contraria a posição avançada em tempos por uma entidade, que defendia que os níveis de exploração eram proporcion­ais ao potencial florestal do país.

“Os níveis médios no corte de madeira estão nos limites aceitáveis. Os volumes de madeira abatida em média, nos últimos 3/5 anos rondam os 200 mil metros cúbicos, representa­ndo cerca de 40 por cento da capacidade anual de corte possível”, dizia no princípio do mês passado o secretário de Estado para as Florestas, durante uma conferênci­a de imprensa conjunta entre os ministério­s da Agricultur­a e Florestas, do Comércio e da Indústria.

Não fosse o trabalho desenvolvi­do pela comunicaçã­o social, o posicionam­ento de numerosas individual­idades e instituiçõ­es, alarmadas pelos níveis de corte e circulação de madeira, de certa maneira descontrol­ada, estaríamos a conviver com relatos da contínua exploração.

Já era assustador­a a forma como as comunidade­s assistiam de forma desenfread­a à circulação de camiões abarrotado­s de madeira pelas estradas do país. As principais zonas de exploração, onde se observava o corte e circulação inclusive de espécie de madeira proibida, reclamavam por intervençã­o urgente.

Não era possível continuar a assistir um pouco por todo país a uma espécie de “calvície florestal” a que Angola estava a ser submetida por conta de actividade­s de exploração da madeira, curiosamen­te promovida maioritari­amente por estrangeir­os e com a óbvia conivência de nacionais.

Sem quaisquer sentimento­s de xenofobia, reconhecem­os todos que, contrariam­ente aos níveis de exploração rudimentar e plenamente sustentáve­is desencadea­dos por nacionais, a entrada em cena de estrangeir­os mudou completame­nte o quadro da situação. A devastação estava a instalar-se aceleradam­ente e não é por acaso que um estudo do Governo angolano, entre 2010 e 2012 com o intuito de averiguar a actual situação, apontava para a redução de 22 por cento dos polígonos florestais na região central do país.

Por isso, dizemos que ainda bem e em muito boa hora as autoridade­s despertara­m para um problema que já atingia contornos de acção criminosa em termos ambientais.

Como diz a experiênci­a, mais vale tarde que nunca. Agora podemos regozijar-nos com a medida assumida pelo Ministério da Agricultur­a e Florestas, que visa pôr fim à exploração da madeira em todo o país.

Em todo o caso, acreditamo­s que está na hora não apenas da proibição do corte, circulação e transporte de madeira em todo o território nacional, mas igualmente de implementa­r um apertado mecanismo de controlo. Não podemos perder de vista que, embora o comunicado seja claro relativame­nte às consequênc­ias para os incumprido­res, alguns operadores vão procurar romper com a imposição legal. É preciso que as autoridade­s mantenham rédea curta em todos os operadores para a observânci­a escrupulos­a do aviso, proporcion­ando meios para o controlo e sensibiliz­ando as comunidade­s para a vigilância e denúncia.

Não era possível continuar a assistir um pouco por todo país a uma espécie de “calvície florestal” a que Angola estava a ser submetida por conta de actividade­s de exploração da madeira, curiosamen­te promovida maioritari­amente por estrangeir­os e com a óbvia conivência de nacionais

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