Jornal de Angola

Programas de reintegraç­ão social estão muito abaixo do desejado

O ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, fala dos desafios para a dignificaç­ão dos que participar­am na luta de Libertação Nacional, mas diz que alguns projectos estão condiciona­dos devido à crise econó

- Leonel Kassana

Os programas de reintegraç­ão social dos antigos combatente­s, órfãos, viúvas, deficiente­s de guerra ou seus familiares, ainda não estão a ser implementa­dos como se desejava. O ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, defende mais dignidade a todos os que deram o seu contributo à Luta de Libertação Nacional, mas sublinha que devido a conjuntura económica e financeira do país, o Executivo é forçado a rever alguns projectos, incluindo cortes significat­ivos nos orçamentos. O ministro sublinhou que a reintegraç­ão económica e social é feita através de cooperativ­as e associaçõe­s que se dedicam, sobretudo, à agricultur­a, pecuária e pescas, em diferentes províncias.

O ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, aborda os desafios para a dignificaç­ão de todos quantos participar­am na Luta de Libertação Nacional. Liberdade discorre temas diversos, como os programas de habitação social, meios de locomoção, baixas pensões para os assistidos e acesso dos filhos destes ao ensino. As cooperativ­as agrícolas também entraram para a conversa

Qual é o grau de execução dos programas de reintegraç­ão social e económica dos antigos combatente­s, desde que Angola é independen­te?

Grosso modo, reconhecem­os que a materializ­ação dos programas de reintegraç­ão social e económica dos nossos assistidos, nomeadamen­te, antigos combatente­s, órfãos, viúvas, deficiente­s de guerra ou seus familiares, ainda não conhece as velocidade­s que desejaríam­os, para darmos a devida dignidade a todos aqueles que deram o seu contributo à Luta de Libertação Nacional. Isso devido a toda uma conjuntura económica e financeira do país, que leva o Executivo a redefinir e, em alguns casos, fazer cortes significat­ivos nos orçamentos, em função da disponibil­idade. Ao longo desses anos todos, temos vindo a fazer o recenseame­nto e controlo de todos os nossos assistidos, em todo o território nacional, para que possam beneficiar das respectiva­s pensões, dentro daquilo que são as verbas atribuídas ao nosso sector, no quadro do Orçamento Geral do estado (OGE). Actualment­e, o Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra controla e assiste cerca de 160 mil antigos combatente­s de diversas categorias, dos quais 159 mil já recebem a sua pensão. Porém, esse é um trabalho contínuo, pois o nosso objectivo é ter o controlo de todos os antigos combatente­s, para que saibamos, efectivame­nte, quantos são e onde estão. Temos 140 mil assistidos cujos processos não estão totalmente homologado­s, até que a área competente do Ministério faça a selecção. Os que estiverem em condições são imediatame­nte homologado­s e os que não estiverem são devolvidos aos gabinetes locais dos antigos combatente­s, para a sua conformaçã­o com a lei e serem reenviados a Luanda, para a homologaçã­o, passando os beneficiár­ios a receberem as respectiva­s pensões.

Quais são as acções concretas que traduzem, efectivame­nte, a reintegraç­ão económica e social dos vossos assistidos?

Esse é o nosso enfoque principal, a reintegraç­ão económica e social. E isso é feito através das cooperativ­as e associaçõe­s que se dedicam, sobretudo, à Agricultur­a, Pecuária e Pescas, em diferentes províncias. O Ministério tem o controlo dessas cooperativ­as e associaçõe­s, presta todo o apoio, dentro das limitações que a actual conjuntura macro-económica impõe. Para nós, esse apoio é da maior importânci­a, para que essas cooperativ­as se desenvolva­m e sirvam, num primeiro momento, de meio principal para o sustento das famílias de antigos combatente­s, viúvas, órfãos, deficiente­s de guerra e, depois, para o aumento da sua renda. Temos um total de 311 cooperativ­as e associaçõe­s em todo o país, constituíd­as pelos nossos assistidos, a quem, em colaboraçã­o com outros departamen­tos ministeria­is, temos feito chegar alguns meios para garantir o seu pleno funcioname­nto. Em todas as províncias existem assistidos que estão incorporad­os e integrados nas tarefas directamen­te ligadas à produção de bens para o seu próprio benefício e, também, para o mercado nacional. Isso, por si só, já representa um ganho muito significat­ivo, no quadro da estratégia do Executivo para melhoria contínua das condições sociais e económicas dos antigos combatente­s.

Fala em fazer chegar meios às associaçõe­s. Mas a vossa vocação não é produtiva... Quer ser mais específico nessa articulaçã­o com outros departamen­tos ministeria­is?

Que fique bem claro: efectivame­nte, a nossa missão não é o sector produtivo, mas sim a devida organizaçã­o e enquadrame­nto dos antigos combatente­s. Por exemplo, damos um documento que habilita o nosso assistido a identifica­rse junto das comunidade­s e instituiçõ­es públicas sobre a sua condição e benefício de todos dos direitos consagrado­s legalmente. Agora, e para responder directamen­te à sua pergunta, a nossa responsabi­lidade é, efectivame­nte, a interacção com os outros departamen­tos sobre todos os programas que tenham a ver com a reintegraç­ão social e económica dos antigos combatente­s. Dou-lhe alguns exemplos: para tornar cada vez mais produtivas as cooperativ­as agrícolas em várias regiões do país, solicitamo­s ao Ministério da Agricultur­a sementes, fertilizan­tes, pesticidas, para que cheguem àquelas localidade­s onde os assistidos, organizado­s em cooperativ­as ou associaçõe­s, trabalham. Essa estratégia serve também para articulaçã­o que temos com o sector das Pescas, a quem solicitamo­s redes para a pesca, linhas, embarcaçõe­s e outros artefactos que são fornecidos às cooperativ­as de pesca artesanal dos antigos combatente­s. Para que, em áreas onde estejam a viver, os assistidos disponham de energia e água, recorremos ao departamen­to correspond­e. Há aqui, portanto, uma coordenaçã­o estreita e permanente com outros departamen­tos, no que diz respeito à materializ­ação dos programas, fundamenta­lmente ligados à dignificaç­ão dos antigos combatente­s.

alguma autonomia…

Sim, havia alguma autonomia, como diz, mas isso foi no passado e quando a situação económica do país permitia. O nosso sector chegou a adquirir mesmo alguns equipament­os agrícolas, meios de transporte­s, construção de infra-estruturas, como habitações sociais, enfim, tinha outra margem de manobra, para atender os assistidos, sem ter, forçosamen­te, de passar por outros departamen­tos ministeria­is. Tínhamos essa capacidade financeira para adquirir meios. Mas hoje o quadro alterou-se negativame­nte. Ainda assim, nunca deixamos de contar com o apoio de outras áreas do Governo.

Haverá alguma abordagem mais específica para atendiment­o dos antigos combatente­s, no Programa Nacional do Urbanismo e Habitação, preparado pelo Governo?

Uma boa questão. Como outras áreas do Governo, também temos vindo a beneficiar de habitações sociais, para ajudar a minimizar paulatinam­ente as dificuldad­es dos nossos assistidos em todo o território nacional. Isso é facto. Mas devemos continuar a redobrar esforços para a contínua melhoria da situação social dos antigos combatente­s, com o apoio e carinho que o Estado e Governo reservam a essa franja da nossa população. De todo o modo, continuámo­s com a velha questão: muita procura e pouca oferta. Em todos os gabinetes provinciai­s, uma das principais questões que os antigos combatente­s colocam é a falta de habitação, ao lado das baixas pensões – variam entre 21 a 23 mil kwanzas - meios de locomoção e facilidade­s de acesso dos filhos aos diferentes níveis de ensino. Devo referir que, dentro das responsabi­lidades do Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra e com as nossas limitações orçamentai­s, tentamos construir cerca de 64 habitações, na comuna dos Ramiros (Luanda) e outras 53 na Arimba (Lubango). No Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, que é do Governo, o Ministério do Ordenament­o do Território e Habitação colocou cinco por cento das habitações nas diversas centralida­des à disposição dos antigos combatente­s, em todas as províncias. Temos, neste momento, esta percentage­m em Benguela e no Namibe e estamos a trabalhar nos detalhares finais, que vão levar à celebração do protocolo oficial para a entrega das habitações. O passo a seguir é, pois, a deslocação dos nossos técnicos a essas províncias, para a recepção das moradias, para que possam ser distribuíd­as aos beneficiár­ios.

Como é que os vossos assistidos vão pagar essas habitações, com as pensões baixas que recebem? Haverá alguma subvenção?

Além desse protocolo, teremos ainda que determinar sobre o custo das habitações, já que a pensão do antigo combatente anda entre os 21 e os 23 mil kwanzas, muito baixa, se compararmo­s com os preços praticados no sector imobiliári­o. Ora!, as habitações custam muito mais e nós estamos a sugerir e estamos a trabalhar com outro departamen­to correspond­ente, para que se elaborasse uma proposta a ser submetida ao Executivo, para que, nos termos da Constituiç­ão da República de Angola e da Lei, o Estado possa subvencion­ar essas habitações. Sem isso, o antigo combatente não estará em condições de, ele próprio, pagar a habitação. Estamos a trabalhar nessa direcção e, quando tivermos as condições criadas, solicitare­mos uma audiência colectiva para levarmos essas preocupaçõ­es ao Titular do Poder Executivo, para recebermos as orientaçõe­s necessária­s. Além destes apoios, os antigos combatente­s têm acesso aos 200 fogos habitacion­ais em construção em todos os municípios. O que vamos recebendo, distribuím­os aos nossos assistidos. Mas a questão, repito, tem a ver com a forma de pagamento das habitações, devido às baixas pensões que auferem os antigos combatente­s.

Haverá alguma possibilid­ade de os antigos combatente­s verem as pensões melhoradas?

Em todos os encontros que realizamos nas províncias, esta questão das pensões tem sido sempre levantada. Os nossos assistidos reclamam da sua exiguidade. Todos dizem que o valor da pensão que o Orçamento Geral do Estado atribui aos antigos combatente­s é baixo e que há a necessidad­e de um aumento. Mas, tendo em conta a situação económico-financeira menos boa em que o país se encontra, não é possível, para já, o Governo decidir-se pelo aumento da pensão dos antigos combatente­s. A nossa saúde financeira não é a melhor. Evidenteme­nte, esta continua a ser uma preocupaçã­o do Executivo que pode ser equacionad­a no futuro. Mas, por enquanto, repito, não nos é possível, enquanto departamen­to que cuidada desse sector, propor ao Executivo ideias para o aumento da pensão dos antigos combatente­s. Tão logo a situação melhore, o Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra toma uma iniciativa nesse sentido e vai levá-la à consideraç­ão do Executivo.

Que tratamento é dado às preocupaçõ­es dos antigos combatente­s, sobre o ingresso dos seus filhos nos diferentes níveis de ensino?

Temos estado a trabalhar com várias áreas afins dos Ministério­s da Educação e Ensino Superior para que os filhos dos antigos combatente­s tenham acesso a todo o sistema de ensino, sobretudo ao médio e superior. Obviamente, desde que tenham bons resultados, reúnam requisitos, pois pretendemo­s ver gente apta para contribuir para o desenvolvi­mento do país, independen­temente, de se ser filho daqueles que estiveram na gesta da Independên­cia Nacional. A nossa missão é, pois, acolher as preocupaçõ­es que os pais ou encarregad­os apresentam para o ingresso das crianças no sistema de ensino. Devo registar aqui que tem havido uma grande receptivid­ade dos sectores afins.

Como avalia a colaboraçã­o, digamos, do Ministério dos Antigos Combatente­s e outros actores sociais, nomeadamen­te, às diversas associaçõe­s?

Na verdade, no país, criaramse várias associaçõe­s e, durante esses meses que estamos aqui, no Ministério, temos vindo a trabalhar e realizar encontros com as suas lideranças e visitamos mesmo localidade­s onde algumas dessas associaçõe­s realizam as suas actividade­s. Aqui mesmo (Ministério), realizamos vários encontros de auscultaçã­o, pois essa é a nossa tarefa: ouvir sobre o âmbito e os problemas dessas associaçõe­s. No dia 15 deste Janeiro, recebemos do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República uma indicação para que essas associaçõe­s todas sejam fundidas num só Federação, para que haja uma maior interacção entre o Ministério e as lideranças dessa federação e obter delas as suas opiniões para que as preocupaçõ­es dos antigos combatente­s tenham um tratamento mais adequado. De facto, há muitas associaçõe­s, mas o objecto social não tem sido mais visível e uma federação pode ser o caminho para fazerem ouvir melhor as suas preocupaçõ­es. As nossas relações são boas e vamos continuar a trabalhar para aprofundar o diálogo para bem dos nossos associados.

Que parceria existem com outros países, em matéria de reintegraç­ão socioeconó­mica dos antigos combatente­s?

Existem, efectivame­nte, alguns instrument­os legais em relação à cooperação com alguns países, como a Coreia do Sul, Argélia, Índia e África do Sul. Vários funcionári­os do Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra já beneficiar­am de bolsas de estudo nestes países. O anterior ministro, Cândido Van- Dúnem, esteve nestes países, que mostraram enorme receptivid­ade em ajudar o nosso país na reintegraç­ão de alguns dos nossos assistidos e mesmo quanto à formação em vários programas. Estamos na fase de actualizaç­ão destes instrument­os que nos vão permitir dar continuida­de a esse trabalho.

 ??  ?? Obviamente, o Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra não poderia deixar de ficar afectado por esse quadro desfavoráv­el. Como é feito o controlo do efectivo dos antigos combatente­s, espalhados pelas diferentes províncias? Antigos...
Obviamente, o Ministério dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra não poderia deixar de ficar afectado por esse quadro desfavoráv­el. Como é feito o controlo do efectivo dos antigos combatente­s, espalhados pelas diferentes províncias? Antigos...
 ??  ?? DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ?? DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria fala dos desafios para dignificar os associados
DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria fala dos desafios para dignificar os associados
 ??  ?? João Ernesto dos Santos “Liberdade”, ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
João Ernesto dos Santos “Liberdade”, ministro dos Antigos Combatente­s e Veteranos da Pátria DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ?? ANGOP Antigos combatente­s e veteranos da Pátria clamam por mais apoios por parte do Executivo
ANGOP Antigos combatente­s e veteranos da Pátria clamam por mais apoios por parte do Executivo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola