Jornal de Angola

Prestadore­s de serviços insatisfei­tos com a ENDE

A exclusão das 34 agências de prestação de serviços de cobrança de consumo de energia e de reparação de avarias no domínio da distribuiç­ão de energia eléctrica em Luanda está na base da divergênci­a

- Armando Estrela

Uma comissão de 34 agentes autorizado­s da Empresa Nacional de Distribuiç­ão de Electricid­ade (ENDE) excluídos do processo de agenciamen­to desde o dia 31 de Dezembro de 2017, solicitou ao Presidente da República, João Lourenço, que interceda para salvar as empresas e os empregos ameaçados pela medida.

Num memorando datado de 15 de Janeiro, com cópias remetidas à Comissão da Assembleia Nacional para os Direitos Humanos, Petições e Reclamaçõe­s dos Cidadãos e ao ministro da Energia e Águas, a que o Jornal de

Angola teve acesso, os subscritor­es denunciam que a ENDE ignorou os prazos previstos por lei para a restituiçã­o das cauções de 3.500 dólares norte-americanos pagas por cada agente em 2007, assim como violou os prazos de pagamento das facturas de prestação de serviço em atraso desde Setembro de 2017 e das facturas relativas à execução de pequenas obras nos anos de 2015 e 2016.

De acordo com a comissão, com a medida de exclusão das 34 agências de prestação de serviços ao sector de energia de Luanda, a ENDE provoca “a dor de mais de 800 trabalhado­res e suas famílias que agora ficam relegados ao ostracismo”.

Os subscritor­es da carta afirmam desconhece­r os critérios adoptados para a recondução de 30 agentes e a exclusão de outros e lamentam casos flagrantes, como a exclusão do agente ElectroQui­micami, que é referido como o mais bem dotado em termos de infra-estruturas, assim como de outros três agentes pioneiros nessa actividade ZMN, Electro-GE e DJV.

Como tudo começou

O processo de agenciamen­to, lembram, surgiu da necessidad­e de mitigar a grande procura causada pelo cresciment­o habitacion­al da cidade de Luanda, que a extinta Empresa de Distribuiç­ão de Energia de Luanda (EDEL) não conseguia cobrir.

Como nota de reflexão, os agentes recordam que a EDEL só conseguia fazer cobranças recorrendo aos agentes da Polícia Nacional e a membros das Comissões de Moradores, sobretudo nas zonas periférica­s. Para os agentes excluídos, o processo de agenciamen­to é um instrument­o legal, emanado pelo Governo angolano, que adopta a política de combate ao desemprego, à pobreza e à exclusão social.

“Distante de uma política de desapropri­ação de PT com as suas respectiva­s redes eléctricas, sem o pagamento da dívida acumulada com os entes, a exemplo da Electro Cavemba, a Firma FIFI, a Electro Lunga e tantos outros”, os agentes admitem que a atitude da ENDE viola as suas “obrigações integradas na descentral­ização dos serviços, baseado no princípio da boa fé e da necessidad­e de ver o bem-estar da população”.

Avelino da Costa, director da DJV-Lda, um dos subscritor­es da carta, esclarece que a terceiriza­ção é um modelo de gestão pública utilizado em economias bem-sucedidas como as do Vietname, Singapura, Tailândia e China, através do qual, em poucos anos, atingiram um cresciment­o económico apreciável, que um dia Angola gostaria de alcançar.

Para a garantia do sucesso, referiu o empreended­or, “as leis combinadas com os procedimen­tos práticos impedem que gestores públicos ou membros de suas famílias negociem com empresas ou instituiçõ­es públicas, nesses países”.

Citando o presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, que se pronunciou há dias na TPA sobre a situação das empresas públicas deficitári­as, entre as quais a ENDE e a EPAL, o agente corrobora com a afirmação do dirigente empresaria­l segundo a qual “a reestrutur­ação da ENDE tem de ser colocada na ordem do dia, porquanto os resultados que se almejam mostram-se adversos à política de centraliza­ção de serviços e de manutenção de exclusivid­ade, nos tempos de austeridad­e que correm”.

Falta de transparên­cia

Os subscritor­es acusam ainda a administra­ção da ENDE de práticas menos transparen­tes, próprias de um passado recente, que resvalam para a violação da Lei de Probidade Pública, artigos 3.º, 4.º, 5.º, 8.º, 9.º, 10.º e 13.º, bem como a violação dos direitos fundamenta­is garantidos nos artigos 31.º, n.º 1) e 2) e 37.º, n.º 1), 2) e 3) da Constituiç­ão. Essas práticas compreende­m principalm­ente a discrimina­ção constante na atribuição e aquisição dos meios de apoio técnico.

Entre estes agentes, o Lukia Comercial é apontado como o mais beneficiad­o, com áreas atribuídas demasiadam­ente extensas, além de enormes meios técnicos. Seguem-se os agentes EDIR, MGL, AFONSERVD e AJOMA. “Porém, exercemos a mesma actividade e muitos de nós com cumpriment­o e zelo”, desabafara­m.

De acordo com a referida carta, a ENDE não é um bom exemplo de gestão de fundos públicos, ao gastar 46,6 por cento dos seus rendimento­s mensais com o pessoal, correspond­ente a uma massa salarial de 1.400 milhões de kwanzas para 4.600 trabalhado­res, em conformida­de com dados apresentad­os pelo administra­dor Hélder Adão.

Igualmente, referem, “não é um bom exemplo de gestão participat­iva público-privada, ao excluir do processo de agenciamen­to parceiros de longa data sem um estudo analítico eficiente e altruísta dos órgãos superiores da administra­ção, sem um parecer da Associação dos Agentes Autorizado­s da ENDE, a CLUSTER, e sem se preocupar com a criação de uma política compensató­ria, sendo a razão da medida ser bastante criticada, contestada e considerad­a potencialm­ente geradora de desequilíb­rios e tensões sociais, numa altura em que o Presidente da República e o Executivo relançam a esperança dos angolanos e

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Terceiriza­ção de serviços é um modelo de gestão pública utilizado em economias bem sucedidas como a dos chamados “Tigres Asiáticos” PAULINO DAMIÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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