Hoje todos os caminhos vão dar à Nova Marginal
Hoje, todos os caminhos vão dar à Nova Marginal, o carnavalódromo da cidade de Luanda, para servir de palco ao desfile central da maior manifestação cultural da capital, com a particularidade da presença de cinco grupos representantes de outras províncias.
Pela primeira vez, os grupos da classe A vão trocar experiências e “savoir-faire” no que à dança e canto diz respeito com grupos vindos de cinco das dezoito províncias do país, uma prática que pode fazer história. De facto, vai ser muito positivo observar danças e cantares característicos de outras regiões do país, num exercício de aproximação e reforço dos laços culturais.
Fruto da dinâmica social e económica que o país viveu e vive, ao lado das modificações culturais que testemunhamos, parece consensual a ideia de que vivemos hoje um esforço para resgatar o Carnaval de outros tempos.
Há mais de meio século, Luanda viu desfilar grupos e nomes de figuras emblemáticas que continuam hoje como verdadeiras lendas desta importante manifestação cultural dos povos axiluanda. Da Cidrália aos Invejados, apenas para citar estes grupos cuja rivalidade no Carnaval equivalia hoje à rivalidade, no futebol, entre 1.º de Agosto e Petro de Luanda, o Carnaval de Luanda imortalizou nomes como o de Mamã Lala e Cafuxi. Durante muito tempo e porque o processo de transmissão de testemunho foi sempre assegurado pelas gerações mais velhas às mais novas, o Carnaval conheceu um processo de preservação e continuidade que o manteve essencialmente intacto. Pouco depois da Independência Nacional era óbvia a urgência de adequá-lo ao quadro político, institucional e às necessidades culturais do povo. E as populações, nas localidades do país com tradição carnavalesca, corresponderam aos apelos e estratégias de um Carnaval tipicamente angolano, com as ruas a servirem como verdadeiras arenas. E não há dúvidas de que nos cerca de vinte anos que se seguiram à Independência Nacional, algumas das províncias de Angola, em particular Luanda, testemunharam uma prática de carnaval verdadeiramente vitorioso.
Hoje, muito mudou e como ensinam as regras da vida, precisamos de nos adaptar aos novos rumos e tendências do Carnaval, obviamente sempre em consonância com os pressupostos de preservação e continuidade. Afinal, o espírito de espontaneidade nas manifestações de rua, enquanto substrato essencial do Carnaval, sejam práticas permanentes desta importante manifestação cultural.
Embora desejemos fazer jus às proféticas palavras do primeiro Presidente de Angola António Agostinho Neto sobre a necessidade de regresso às tradições, não há dúvida de que se perdem muitas variáveis neste processo de preservação e continuidade.
Já não vamos a tempo, seguramente, de regressarmos às grandes manifestações carnavalescas imortalizadas em canções do malogrado Artur Adriano e da extinta banda SOS, que retratavam factos e números de um carnaval que não deixava ninguém indiferente. Mas vamos continuar a dançar o Carnaval, independentemente das dificuldades por que passamos, numa altura em que a lógica segundo a qual "tristezas não pagam dívidas" constitui o ideário dos grupos. Hoje, vamos assistir aos grupos, com indumentária própria, cores e adornos inerentes, a descer a Nova Marginal para dançar a varina, a kazukuta, o semba, a cabecinha e outras danças características do Carnaval.
Na presença de cinco grupos carnavalescos de outras províncias, com uma festa de dimensão supraprovincial, hoje, todos os caminhos vão dar à Nova Marginal.
Pela primeira vez, os grupos da classe A vão trocar experiências e “savoir-faire” no que à dança e canto diz respeito com grupos vindos de cinco das dezoito províncias do país, uma prática que pode fazer história.