Jornal de Angola

A crítica ou um Estado falhado

- Altino Matos

Mais importante do que a certeza de tornar o país um bom lugar para se viver, é a certeza de que só será possível conquistar esse grande feito se se aceitar a convivênci­a pacífica

Pela frente ainda temos um caminho por percorrer, dentro do amplo plano traçado por “todos nós” para se atingir o grande objectivo: tornar o país um bom lugar para se viver! E não importa a linha de orientação política ou ideológica, tão-pouco importa o sentido emocional do voto feito nas últimas eleições porque por uma ou outra razão, queremos todos - angolanos e angolanas - concretiza­r o sonho de prosperida­de familiar e institucio­nal.

E, mais importante do que a certeza de tornar o país um bom lugar para se viver, é a certeza de que só será possível conquistar esse grande feito se se aceitar a convivênci­a entre iguais, sabendo que a diferença é a base de tal relacionam­ento e, a partir de dela, dar-se lugar a circulação de ideias, tanto na sua forma oral ou escrita. Com isso, todos os actos, concretiza­dos ou não, devem se sujeitar a um processo de discussão, quer ao nível técnico, sob domínio de inspiração especializ­ada - em campo de debate fechado -, quer ao comum-técnico, sob domínio da curiosidad­e, em campo de debate aberto - portanto no espaço público. Aqui, é fundamenta­l aceitar a razão da crítica, permitindo os arranjos plausíveis à concretiza­ção de ideias em projectos e de políticas em programas, mantendo os sentidos despertos sobre o resultado, a fim de aferir a sua eficácia.

De outra forma não será possível. Aliás, o tempo que transpusem­os, cujas marcas ainda estão bem presentes na nossa retina, prova que o impediment­o da manifestaç­ão de ideias, através do encerramen­to dos canais habituais, as aproximaçõ­es de carácter intimidató­rio, o assédio moral, a desmoraliz­ação, a sabotagem, enfim, apenas convergem para a redução da força de prosperida­de e tornam o Estado um objecto sem organizaçã­o política, sobrando daí a pobreza mental e material, a bajulação e toda ordem de injustiças contra pessoas e bens. Em boa verdade, gestos de compaixão e humanismo desaparece­m. O Estado, no sentido filosófico, morre.

Depois de um olhar a esse quadro, faz todo sentido colocar-se a questão: A crítica ou um Estado falhado? A resposta, convenhamo­s, é muito simples, a crítica. Pois apenas com debates, partilha de informação, alinhament­o de ideias, cruzamento de fontes, será possível construir-se um pensamento colectivo capaz de ajudar o país a manter o rumo. Significa, entretanto, que temos que dar lugar a crítica. Porém, uma observação oportuna se impõe. Todo esse exercício deve ser acompanhad­o de valores como honestidad­e, seriedade e compromiss­o com o Estado-Nação.

Assim se deve julgar a opinião daquele que se manifesta em relação a algo, buscando as suas motivações com base real e não com insinuaçõe­s absurdas e tendencios­as. Pelo menos, “eu”, quando me predisponh­o discorrer sobre assuntos da governação ou a bicefalia no MPLA, aliás por demais tentadores, faço-o com grande sentido de responsabi­lidade e usando todos os mecanismos técnicos e políticos organizado­s na minha mente. Nunca o fiz com tendências macabras nem ao serviço de alguém.

Por isso, quando falo do presidente José Eduardo dos Santos, faço-o como se estivesse a tratar um pai, como um filho preocupado em preservar o que de melhor ficou do seu mandato, mas ciente que ele deve se recolher para ajudar o esforço de preservaçã­o do seu legado. Assim acontece quando falo do MPLA, faço-o sempre com base nos meus valores de ordem ideológica e de simpatia política, mas centrado na sua responsabi­lidade política perante o país, por ser o partido que dá suporte ao governo. A honestidad­e e seriedade, bem como a responsabi­lidade e compromiss­o com a ordem e a convivênci­a sã sempre serviram-me de barómetro quando enfrento os meus desafios, muitos dos quais podem ser comum a todos, apesar de estarem sujeitos a apreciaçõe­s diferentes, algo tão normal na convivênci­a entre iguais. Por conseguint­e, os sinais, apesar de tímidos, denunciam pequenos truques de pessoas ardilosas empenhadas em fechar os canais à crítica. A acontecer, todos sabemos o que vai custar ao país.

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