O futuro é um lugar cheio de gente
A intolerância faz-se notar até quando a escolhemos para tema de uma crónica. Pauta-se por um leve defeito que tem tanto de fabrico como por uso de um suposto domínio sobre determinada matéria; toma carreiros artificiais como se fossem atalhos naturais, até desembocar no que, por fim, concluímos, com muita pena, tratar-se da mais plena arrogância, afinal a mãe da mais antiga das armas, capaz de destruições em massa, pelo silencioso método da futriquice.
Embora faça uso da maledicência, fácil de notar quando armada da petulância, como as ratazanas, que assopram para abafar o som enquanto mordem, a intolerância actua mais bem como a salalé: no mais absoluto silêncio consome o miolo dos livros, deixando as capas para depois.
A intolerância ousa evocar a própria ignorância, escudando-se na omissão para mascarar a mentira, como se mentir por omissão não fosse a mentira por omissão outra coisa senão uma mentira, nesse caso reles, porque eivada de preconceito.
Para os intolerantes são bem vistos os arrogantes sempre benquistos e, por isso mesmo, tolerados dentro de uma lógica arquitectada desde o início, artimanhada no laissez faire, laissez aller, laissez passer da vida, como se os demais tivessem alguma vez ameaçado respirar. Teimemos o quanto quisermos, mas, mais do que a ignorância, dói-nos a intolerância.
Teimemos, pois, que a tolerância há muito se armou da ignorância com que se faz apresentar nas festas como se de uma peça de roupa se tratasse e o que dela fica como registo não é mais que uma nota de glamour, que o odor de um perfume que se vai com a mais ténue brisa, aquela simples brisa de que precisamos para respirar. Teimemos em aceitar a chuva que teima em bater contra a janela, mesmo esta que bate suavemente será vento, será gente?
Ficamos gratos por acharmos o vento parado, afinal, apenas nós contamos. E o tempo? Importará o tempo e as mudanças que é suposto virem com ele? Ou para os intolerantes contam apenas as mudanças do estado do tempo e, faça chuva ou faça sol, a única coisa que importa são eles mesmos e o presente, o já, e não o amanhã, o futuro? O futuro é um lugar cheio de gente.
Quando se fala em intolerância pensa-se em alianças entre políticos, entre religiosos, mas, a verdade é que a falta de habilidade e de vontade em reconhecer e respeitar as diferenças é maior do que podemos imaginar.
A intolerância ousa evocar a própria ignorância, escudando-se na omissão para mascarar a mentira, como se mentir por omissão não fosse a mentira por omissão outra coisa senão uma mentira, nesse caso reles, porque eivada de preconceito