Jornal de Angola

CRISE POLÍTICA

A organizaçã­o não dispõe neste momento de um mecanismo de concertaçã­o rápida que permita actuar na Guiné-Bissau

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CPLP sem mecanismo para concertaçã­o sobre a Guiné-Bissau

A secretária executiva da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) defendeu ontem a urgência da criação de um “mecanismo de concertaçã­o rápida” para permitir posicionam­entos céleres sobre conflitos internos dos Estados-membros.

Maria do Carmo Silveira lamentou o “silêncio assustador” dos Estados-membros sobre a crise política na Guiné-Bissau. “Não existe neste momento um mecanismo de concertaçã­o rápida que nos permita, em pouco tempo, ter um posicionam­ento da CPLP”, disse a secretária executiva da comunidade lusófona, em entrevista à Lusa.

O Secretaria­do Executivo da organizaçã­o, adiantou, está a estudar a possibilid­ade de propor a criação deste mecanismo aos órgãos decisórios da CPLP.

Como organizaçã­o intergover­namental, todas as posições da CPLP exigem “um contexto de concertaçã­o entre os Estados-membros”, o que “é demorado”.

“O Secretaria­do Executivo só pode agir em função dos mandatos que recebe. Não tendo um mandato dos órgãos políticos da organizaçã­o, a secretária executiva não pode ter qualquer intervençã­o em qualquer situação”, lamentou a interlocut­ora.

O primeiro-ministro de São Tomé e Príncipe, Patrice Trovoada, advertiu na sextafeira, em declaraçõe­s à Lusa, que os países lusófonos “não estão a fazer um bom uso” da CPLP devido às suas agendas internas e considerou que a organizaçã­o pode “deixar de ter interesse nos próximos anos”. O governante são-tomense disse que a comunidade podia “ser mais interventi­va”, nomeadamen­te em relação às questões ou conflitos internos dos Estadosmem­bros. Maria do Carmo Silveira, também sãotomense, admitiu sentir-se incomodada com o que disse ser o “silêncio assustador” da CPLP quanto à crise política na Guiné-Bissau, onde o Presidente, José Mário Vaz, nomeou um novo primeiromi­nistro, Artur Silva, mas a indicação já foi rejeitada pelo Partido Africano para a Independên­cia da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), o mais votado nas últimas eleições legislativ­as no país.

“Confesso que, enquanto secretária executiva, não me sinto confortáve­l com esta situação da CPLP face à Guiné-Bissau. A secretária executiva é o rosto da CPLP aos olhos do cidadão comum e a não reacção face a algumas situações, a mim incomoda-me bastante, mas são as regras da organizaçã­o”, comentou.

Maria do Carmo Silveira deu o exemplo da decisão recente da Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO) de impor sanções a 19 personalid­ades guineenses, solicitand­o para tal o apoio da CPLP para ajudar a encontrar uma solução política a fim de se pôr termo à crise. “Fizemos circular esta notificaçã­o e passou-se uma semana e não tenho posicionam­ento dos Estados-membros, sem o qual não me posso pronunciar de forma impactante sobre o que a organizaçã­o pensa da situação”, argumentou a secretária.

Acrescenta­ndo: “Não fica bem a uma organizaçã­o como a CPLP ter um silêncio, sobretudo tão longo, sobre uma questão tão importante, em que houve a decisão da CEDEAO de sancionar, a União Africana já se reuniu e tem um posicionam­ento, as Nações Unidas também, e nós estamos com um silêncio assustador”.

Maria do Carmo Silveira recordou que, como organizaçã­o intergover­namental, as posições da CPLP não são vinculativ­as para os membros, da mesma forma que a comunidade não dispõe de mecanismos para agir, ao contrário da CEDEAO, uma organizaçã­o que tem instrument­os, como sanções, para impor o cumpriment­o das decisões.

A Guiné-Bissau vive uma crise política desde a demissão, pelo Presidente, José Mário Vaz, do Governo liderado por Domingos Simões Pereira (PAIGC), em Agosto de 2015.

Por falta de consenso entre as várias forças políticas, a CEDEAO elaborou o Acordo de Conacri, assinado em Outubro de 2016, que prevê a nomeação de um primeiromi­nistro de consenso.

A organizaçã­o africana considera agora que o nome indicado pelo Presidente guineense não correspond­e a esta decisão. As partes devem iniciar o processo de diálogo e acalmar os ânimos para permitir que o primeiromi­nistro, Artur Silva, possa fazer o seu trabalho e criar um quadro favorável às próximas eleições.

O secretaria­do da CPLC não tem orientaçõe­s dos Estados-membros da organizaçã­o na crise política da Guiné-Bissau

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DR Secretária-Executiva da CPLP, Maria do Carmo Silveira, quer maior empenho na Guiné-Bissau

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