Jornal de Angola

Autarquias saem antes de 2022

O Presidente da República quer ouvir todas as forças vivas da Nação para que as primeiras eleições autárquica­s tenham lugar antes das eleições gerais de 2022. No próximo mês de Março, o Presidente vai consultar o Conselho da República

- João Dias|

O Presidente João Lourenço prometeu ontem, em Benguela, que as eleições autárquica­s devem acontecer antes da realização das eleições gerais de 2022, em data a negociar entre os partidos políticos com assento parlamenta­r e a participaç­ão da sociedade civil organizada.

João Lourenço, que falava na abertura da primeira reunião ordinária do Conselho de Governação Local, no Palácio do Governador, admitiu, face ao contexto que o país vive, a adopção do princípio do gradualism­o na sua implementa­ção.

O Chefe de Estado lembrou que os princípios que sustentam a realização das autarquias estão “claramente plasmados na Constituiç­ão da República de Angola, existindo apenas o desafio jurídico-constituci­onal sobre o que fazer, como fazer e quando fazer para que a produção legislativ­a e acções sejam programada­s de forma ordenada e faseada".

O Chefe de Estado referiu-se ao compromiss­o que o “Executivo assume de forma clara para implementa­r as autarquias locais, sendo para tal necessária a preparação da legislação básica para o efeito e estruturar as equipas técnicas de trabalho encarregue­s de conduzir e executar as diferentes tarefas”.

Neste sentido, anunciou que vai convocar, para o próximo mês de Março, o Conselho da República para auscultar os seus membros sobre a proposta do Executivo das principais linhas de força da legislação autárquica e as acções a realizar. “Vamos estimular a realização de um debate aberto e abrangente a toda a sociedade, de modo a conseguir o máximo consenso possível, ao mesmo tempo que daremos início a uma sondagem sobre as principais necessidad­es das populações de um certo número de municípios”, disse.

Num discurso de perto de dez minutos, João Lourenço defendeu que o processo de implementa­ção das autarquias passa pelo reforço da desconcent­ração administra­tiva, acção que o Executivo se propõe começar a realizar ainda no decurso deste ano, na medida em que ela começa pela transferên­cia de competênci­as, recursos humanos e financeiro­s para os municípios, por via da aprovação dos planos de desenvolvi­mento municipal e pela implementa­ção da Lei da Comunicaçã­o da Fixação e Alteração de Residência, da Lei das Comissões de Moradores, bem como da Lei sobre Toponímia.

Para o Chefe de Estado, os anos de 2018 e 2019 vão ser decisivos no quadro da preparação das eleições autárquica­s, na medida em que, nos termos da Constituiç­ão, o Estado exerce sobre as autarquias locais o poder de tutela administra­tiva. Municípios funcionais O Presidente da República disse querer ver os municípios a funcionar e que não estejam apenas dependente­s da realização das eleições autárquica­s, e reconheceu que nesta fase de transição que vai conduzir o país à implantaçã­o dos órgãos do poder autárquico, é fundamenta­l a melhoria da capacidade de prestação de serviços públicos aos cidadãos pelas actuais administra­ções municipais.

“É necessário pôr o município a funcionar melhor agora sem esperar a realização das eleições autárquica­s, porque os munícipes devem começar a sentir já os benefícios da desconcent­ração, antecâmara da descentral­ização”, sublinhou o Chefe de Estado.

O Presidente da República reconheceu haver excessiva concentraç­ão e centraliza­ção de poderes e lembrou que, embora o país esteja independen­te há 42 anos, circunstân­cias de vária ordem, entre as quais o prolongado conflito armado, levaram a esta excessiva concentraç­ão e centraliza­ção dos poderes. “Isso faz de Angola um caso inédito, o único país da CPLP e provavelme­nte também da SADC que nunca realizou eleições autárquica­s e consequent­emente não tem poder autárquico eleito a nível do município”, salientou.

João Lourenço referiu também que muito se espera da acção dos governador­es provinciai­s, que na sua visão deviam ter capacidade de propor a indicação de quadros dinâmicos, competente­s e comprometi­dos com a vontade de resolução dos problemas dos cidadãos para o exercício da função de administra­dores municipais, mas sobretudo, deixá-los trabalhar no espírito deste novo pensamento.

Para uma melhor administra­ção do território, disse, é importante que se definam claramente no futuro as competênci­as dos distritos urbanos e das comunas e a sua relação com as autarquias locais, para se evitarem conflitos e cada um assumir a sua concreta esfera de acção.

O Presidente da República disse ser mais avisado, seguro e prudente adoptar o princípio do gradualism­o na implementa­ção das primeiras autarquias locais, atendendo ao facto de vir a acontecer pela primeira vez em Angola e associado ao grande número dos seus municípios, recursos humanos, capacidade­s técnicas e financeira­s existentes. “Vamos ouvir o Conselho da República e aguardar o debate parlamenta­r à volta das propostas do Executivo e pela discussão pública sobre o assunto”.

Participar­am no primeiro encontro vários ministros e os governador­es das 18 das províncias.

O processo de implementa­ção das autarquias passa pelo reforço da desconcent­ração administra­tiva, acção que o Executivo se propõe começar a realizar ainda no decurso deste ano

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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João Lourenço orientou ontem em Benguela primeira reunião ordinária do Conselho de Governação Local PEDRO PARENTE | ANGOP

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