Jornal de Angola

Orçamento Geral de 2018

- Adebayo Vunge

A Assembleia Nacional viabilizou há cerca de uma semana a proposta de Orçamento Geral do Estado para 2018. O documento mais relevante para a gestão macroeconó­mica do País foi aprovado, sendo nota de destaque a elevada participaç­ão dos parceiros sociais e dos actores de todas as bancadas parlamenta­res, que esgrimiram as suas motivações para uma maior aposta financeira em certos sectores, em detrimento de outros.

Por isso, temos hoje um documento que absorve forte participaç­ão de todos. O OGE que sai da Assembleia Nacional é nitidament­e diferente daquele que entrou. Os deputados, como se depreende do parecer e da resolução, não se importaram com o cresciment­o do défice para atender ao que considerav­am ser fundamenta­l. Assim, a proposta de OGE contemplav­a um défice de 3%, mas a versão final admite um défice de 3,5%. Nem tudo mereceria acolhiment­o, por razões óbvias ligadas à actual conjuntura, mas, no essencial, foi uma discussão frutífera, que enriqueceu o documento final e ditou uma bitola nova na actuação do Executivo.

Foi nesta senda que aplaudimos a presença do Presidente da República na apresentaç­ão da proposta de OGE, assumindo a sua defesa pública, bem como as intervençõ­es subsequent­es, em que o Titular do Poder Executivo acolheu as preocupaçõ­es de alguns sectores, como foi o caso do acto que assinalou a abertura do ano lectivo.

Assistimos por isso a uma discussão muito focalizada ainda nas dotações crescentes em sectores como a educação e a saúde, como forma de o Estado conter as dificuldad­es dos últimos tempos. No fundo, vivemos uma crise de cresciment­o do Estado e agora é importante apostarmos na sua eficiência. Os gestores públicos terão de adequar-se ainda mais no sentido de fazer mais e melhor com menos recursos. Seria interessan­te compararmo­s os nossos números aos de outros países como Moçambique, por exemplo, para percebermo­s os desperdíci­os e a necessidad­e de impregnarm­os maior rigor aos nossos programas e projectos ao nível do sector social.

Mas o que salta à vista referir é que o OGE2018 abre o caminho da consolidaç­ão fiscal, apostando numa redução do défice e da curva do endividame­nto, não obstante os números serem preocupant­es, como assume corajosame­nte o Executivo. Daí que chame a atenção, especialme­nte, para uma discussão sobre algumas medidas de cortes que são assumidas com arrojo neste orçamento:

Em primeiro lugar, entre as medidas de natureza financeira e macroeconó­mica está a introdução da figura do controlado­r orçamental, que não se confunde nem substitui o papel das inspecções. Segundo o espírito do legislador, o controlado­r é uma figura que entra no ciclo orçamental para garantir – em tempo real e em todos os momentos do processo – o compliance da execução e cumpriment­o das regras do sistema integrado de gestão financeira do Estado. Espera-se que venha a ter um impacto no controlo dos atrasados, combatendo a indiscipli­na orçamental, ou seja, evitando-se, por exemplo, a contrataçã­o de serviços, empreitada­s e fornecimen­to de bens sem prévia cabimentaç­ão e escrupulos­o cumpriment­o das normas legais aplicáveis aos contratos públicos.

Em segundo lugar, é importante destacar a aposta em medidas e projectos para o relançamen­to do investimen­to público, que é, no nosso caso, vital para o relançamen­to da economia. Por exemplo, é relevante a aposta na conclusão de projectos estruturan­tes em áreas como a energia e águas, reabilitaç­ão de estradas – esperemos que tenham maior tempo de vida, melhor qualidade e manutenção – assim como a garantia de regulariza­ção dos atrasados e a promoção e fomento empresaria­l assente em projectos como o PRODESI – a confiança da classe empresaria­l nas políticas governamen­tais é importante para que estas gerem os estímulos necessário­s. Ou seja, em 2018 iremos alargar os passos para a diversific­ação da economia, processo intimament­e relacionad­o com a melhoria do ambiente de negócios e a captação do investimen­to estrangeir­o directo. O road map definido irá permitir melhorias com impacto na receita fiscal não petrolífer­a.

A versão final do documento deverá ser publicada proximamen­te e entraremos para a fase mais delicada do processo que é a sua execução, uma vez que a sociedade faz maior escrutínio e demanda maior rigor e transparên­cia, postura à qual o próprio Executivo tem procurado atender, publicando tempestiva­mente toda a informação e reportes.

Finalmente, e fruto da maturidade do processo actual, questiono-me sobre a pertinênci­a de uma revisão legislativ­a em sede do cronograma de aprovação do OGE em anos atípicos/eleitorais, como este que vivemos. Afinal, 9 meses para executar um documento de um ano é, por si só, um desafio maior, agravado com os riscos endógenos (o controlo e impacto social da inflação) e exógenos (como a variação do preço do petróleo no mercado internacio­nal), que precisamos não ignorar para que as metas previstas sejam alcançadas.

O documento mais relevante para a gestão macroeconó­mica do País foi aprovado, sendo nota de destaque a elevada participaç­ão dos parceiros sociais e dos actores de todas as bancadas parlamenta­res, que esgrimiram as suas motivações para uma maior aposta financeira em certos sectores, em detrimento de outros

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO
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