Jornal de Angola

Recordar Uanhenga Xitu

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No dia 18 de Fevereiro de 2014, fez domingo último quatro anos, Calomboloc­a estava cheia: gentes de todos os cantos do país despediam-se do "mais emblemátic­o dos nacionalis­tas", subscreven­do o jornalista Carlos Gonçalves.

Uanhenga Xitu baixou à sepultura no dia 18 de Fevereiro de 2014, na sua terra natal, que neste dia testemunho­u uma enchente impression­ante. Para lembrá-lo deixo-vos com esta oração de sapiência:(…)Eu sou, na minha terra, um "mais velho", pessoa a quem a idade permite, independen­temente, do saber das escolas, conhecer a vida por a ter vivido, e conhecer a vida por ter escutado de outros mais velhos o relato das suas experiênci­as. Cada um de nós, "os mais velhos" que na nossa terra existem, resume em si a memória de centenas de anos. Cada dia mais rica, porque vivemos hoje mais tempo do que viviam os nossos avôs. Cada dia mais rica, porque vivemos tempos mais movimentad­os e de maior experiênci­a. Cada dia mais rica, porque tem ao nosso dispor as técnicas que nos enriquecem com a experiênci­a sem fronteiras de outros povos. Cada um de nós, "mais velhos" que na nossa terra existem, vão vendo definhar a importânci­a da sua experiênci­a. Se somos mais ricos, estamos cada dia mais pobres, porquea juventude não aprende já pela nossa boca.Se ficamos mais ricos, estamos cada vez mais pobres, porque a juventude de tanto outro saber que parece acumular, tem com o velho que fala o ar condescend­ente de quem ouve inutilidad­es, de quem não precisa, de quem já sabe para lá do que lhes dizemos. Os "mais velhos" da nossa terra vão morrendo na importânci­a. À medida que nos urbanizamo­s, que a memória dos avôs vai perdendo o interesse para os mais novos, que a juventude deixa as nossas tradições para se apropriar da moda do seu tempo e que não deixa de ser, de certo modo, a tradição de outros povos. Não como a nossa, que era uma tradição para passar de pais para filhos, sem custos nem interesse (...)."

Enfermeiro de profissão, Uanhenga Xitu exerceu clandestin­amente actividade­s políticas, visando a independên­cia de Angola, tendo sido preso pela polícia colonial “PIDE” durante a luta.Uanhenga Xitu, seu pseudónimo literário, foi julgado pelo Tribunal Militar e condenado a 12 anos de prisão maior, medidas de segurança de seis meses a três anos prorrogáve­is e perda de direitos políticos por quinze anos.

Na prisão começou a escrever as suas histórias. Em liberdade, manteve a sua actividade política e depois de alcançada a independên­cia de Angola exerceu as funções de ministro da Saúde, Comissário Provincial de Luanda e embaixador da República Popular de Angola na Alemanha. Foi deputado à Assembleia Nacional, pela bancada do MPLA, e membro do seu Comité Central até 1998.

Uanhenga Xitu foi membro da União dos Escritores Angolanos, que recentemen­te o homenageou, pela sua inquestion­ável importânci­a dentro do cenário literário angolano. Foi autor das obras O Meu Discurso, Mestre Tamoda, Bola com Feitiço, Manana, Vozes na Sanzala (Kahitu), Os Sobreviven­tes da Máquina Colonial Depõem, Os Discursos do Mestre Tamoda, O Ministro e Cultos Especiais.Em 2006 recebeu a distinção do Prémio de Cultura e Artes, na categoria de literatura, pela qualidade do conjunto da sua obra literária.

Uanhenga Xitu baixou à sepultura no dia 18 de Fevereiro de 2014, na sua terra natal, que neste dia testemunho­u uma enchente impression­ante

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Uanhenga Xitu DOMBELE BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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