Ramaphosa já enfrenta obstáculos
Nem uma semana passou desde que Cyril Ramaphosa foi empossado como novo Presidente da África do Sul e já algumas vozes começam a se fazer ouvir, a duvidar do que são as suas capacidades para vencer os obstáculos e liderar o país
O novo Presidente da África do Sul, empossado ainda não faz uma semana, sabe que tem pela frente uma série de obstáculos políticos a ultrapassar, de modo a que o início da nova caminhada que ele prometeu no seu discurso sobre o estado da nação, se possa fazer sem sobressaltos de maior.
Para tirar do caminho as “pedras que estão a ser colocadas, antes do mais, Cyril Ramaphosa tem de arrumar a própria casa, que é como quem diz, tem de mobilizar as diferentes sensibilidades no seio do ANC, para que o partido chegue fortemente unido e mobilizado às eleições do próximo ano.
O afastamento de Jacob Zuma, sobretudo, o modo como ocorreu, não é de modo a satisfazer os que sempre estiveram ao seu lado e lhe deu o ânimo suficiente para que resistisse até ao fim, a pressão para assinar o pedido de demissão. Logo, é propício a fomentar algum espírito de divisão prejudicial, para que o ANC recupere em 2019 alguns dos votos perdidos nas anteriores eleições.
Muitos dos veteranos do ANC, sobretudo, os que estão nas zonas rurais, são apoiantes seguros do antigo Presidente, por muito que lhes digam e por mais provas que se lhes apresentem, sempre duvidam que Jacob Zuma seja mesmo culpado das acusações de nepotismo e corrupção que lhe são imputadas pela justiça.
Entre os apoiantes do antigo Presidente sobressai o nome de Dlamini Zuma, sua antiga esposa e a pessoa que ele queria que o sucedesse, tanto na liderança do ANC como da própria África do Sul.
Dlamini Zuma perdeu para Cyril Ramaphosa a corrida para a presidência do ANC, é uma diplomata de grande prestígio nacional e continental, fruto da longa presença à frente dos destinos da União Africana. Outro adversário, que o novo Presidente vai ter de enfrentar, é Julius Malema, líder do partido Combatentes da Liberdade Económica, mas que já foi o responsável pela forte e influente organização juvenil do ANC.
Não tem grande expressão política, pela sua postura é incómodo para quem quer obter consensos, visto tratar-se do que se costuma designar de verdadeiro “desmancha prazeres”, muitas das vezes está contra tudo e contra todos, sem que se sabia muito bem porquê.
A fazer jus à fama de “eterno rebelde”, Julius Malema, logo depois do primeiro discurso oficial de Cyril Ramaphosa, foi a público criticá-lo de forma particularmente violenta e politicamente gratuita.
Malema ainda goza de uma enorme popularidade junto da juventude sul-africana, agora também no seio de algumas organizações de trabalhadores, acusou o novo Presidente de não apresentar qualquer plano concreto no seu discurso sobre o estado da nação.
Segundo ele, Ramaphosa limitou-se a dizer o que os sul-africanos queriam ouvir e “não o que vai fazer”. Em tom irónico, quando se referiu à promessa de Cyril Ramaphosa combater a corrupção, Julius Malema disse que para o fazer, “o Presidente vai ter de mandar prender os próprios amigos”.
Julius Malema chegou a ser um dos principais aliados políticos de Jacob Zuma, com quem se desentendeu por problemas raciais, é líder de um partido que tem actualmente 24 deputados.
Ele defende, entre outras coisas, a nacionalização dasminas do país e a redistribuição de terras, sem pagar compensações aos fazendeiros brancos.
Embora o ANC nunca o tenha levado muito à sério, desde que ele deixou o partido, a verdade é que o seu discurso incendiário e de ódio contra os sul-africanos brancos a quem acusa de terem o monopólio da economia, ganha adeptos à medida em que aumentam as dificuldades dos mais desfavorecidos.
Trata-se de um populismo extremamente perigoso, porque apela à divisão entre as pessoas e cataloga-as consoante a cor da pele, o que faz recordar um passado não muito distante que os sul-africanos querem, mas por vezes têm dificuldade de esquecer.
Para tirar do caminho as “pedras” que estão a ser colocadas, Ramaphosa tem de mobilizar as diferentes sensibilidades no ANC para o partido chegar unido às eleições