Jornal de Angola

O Dia Internacio­nal da Língua Materna

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Hoje, comemora-se em todo mundo o Dia Internacio­nal da Língua Materna, uma data instituída pela UNESCO, há dezanove anos, e que lembra a responsabi­lidade que os Estados, as instituiçõ­es e as pessoas têm de promover o multilingu­ismo, a diversidad­e linguístic­a e cultural.

Em Angola, há um largo segmento da população que possui uma das línguas nacionais como materna, razão pela qual há a protecção constituci­onal reservada pelo Estado. Não há dúvidas de que há igualmente um grande segmento da população angolana, cada vez mais crescente, que não fala nenhuma das línguas nacionais e que têm o português como língua materna.

A Carta Magna, no seu artigo 19. º, dispõe no seu número dois que “o Estado valoriza e promove o estudo, o ensino e a utilização das demais línguas de Angola, bem como das principais línguas de comunicaçã­o internacio­nal”. E embora haja o “guarda-chuva” protector da Constituiç­ão da República, na verdade, há ainda um longo caminho a percorrer para alcançarmo­s metas de satisfação relativame­nte à preservaçã­o, uso e continuida­de das línguas nacionais.

Na verdade, os angolanos podem dar-se por satisfeito­s na medida em que as suas línguas nacionais conseguira­m resistir a tentativas para o seu "enterro" por parte das autoridade­s coloniais e muitas prevalecem hoje como maternas de milhões.

Trabalhar para que elas, as nossas línguas nacionais, prevaleçam deve constituir um desafio de todos na medida em que em muitas partes do mundo numerosos idiomas deixaram de ter falantes e tendem a desaparece­r.

Numa altura em que as línguas predominan­tes tendem a "engolir" as línguas com menor número de falantes, vale a pena assegurarm­os as condições para que os idiomas maternos tenham continuida­de, preservaçã­o e uso normal.

Algumas iniciativa­s neste sentido têm sido dadas pelas instituiçõ­es do Estado, destacando-se aqui o papel desempenha­do pelo Instituto Nacional de Línguas (INL), entidade ligada ao Ministério da Cultura.

É preocupant­e saber que as línguas nacionais não têm ainda estatuto próprio, embora se destaque o facto da Assembleia Nacional ter aprovado já, em Novembro de 2011, na generalida­de, a proposta neste sentido.

Acreditamo­s que é dever de Estado assegurar que as línguas nacionais tenham continuida­de e que nas comunidade­s, urbanas e rurais, as populações resgatem o costume, gosto e cultura de falarem as suas línguas maternas.

Saudamos a iniciativa que se traduziu no Projecto piloto de inserção das línguas nacionais desde a primeira à quarta classe do ensino em todo o país, promovido pelo Ministério da Educação, como forma de ajudar as crianças a serem inicialmen­te educadas nas suas línguas maternas.

Contrariam­ente a ideia de que tal passo possa eventualme­nte constituir um retrocesso, não há dúvidas de que tais procedimen­tos, embora experiment­ais, constituem apostas seguras que facilitam a educação das crianças que não usam a língua oficial, nos seus primeiros anos de vida.

Esperemos que muito do que eventualme­nte tenha que ser regulament­ado por lei se efective no mais curto espaço de tempo e que o trabalho para dotar as línguas nacionais de alfabeto próprio tenha igualmente conclusão.

Numa altura em que Angola caminha para a descentral­ização a todos os níveis, com a perspectiv­a da realização das eleições autárquica­s, não há dúvidas de que o uso das línguas maternas vai constituir um activo importante. Falar a língua de uma determinad­a comunidade, dirigindo-se para segmentos da população que eventualme­nte melhor entendem a comunicaçã­o nas suas línguas, é realmente um activo importante.

Acreditamo­s que é dever de Estado assegurar que as línguas nacionais tenham continuida­de e que nas comunidade­s, urbanas e rurais, as populações resgatem o costume, gosto e cultura de falarem as suas línguas maternas

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