Jornal de Angola

A propósito de humidade

- Osvaldo Gonçalves

A celebração em Angola do 2 de Fevereiro, do Dia Mundial das Zonas Húmidas, veio, uma vez mais, chamar a atenção da sociedade, em geral, e das autoridade­s, em particular, para a gestão dessas áreas, de importânci­a vital para a sociedade.

Lembro-me da data, por causa da humidade que as águas das chuvas hoje trazem. A data decorre da Convenção Ramsar, cidade iraniana que albergou a cimeira que resultou na assinatura desse documento, em 1971, e que entrou em vigor desde 1975, visando promover a cooperação internacio­nal e incentivar as acções nacionais no sentido de promover uma gestão racional e sustentáve­l das zonas húmidas.

De acordo com a Convenção de Ramsar (artigo 1.1), as zonas húmidas são: “extensões de marítimas, pântanos e turfas, ou superfície­s cobertas de água, sejam estas de regime natural ou artificial, permanente­s ou temporária­s, estagnadas ou corrente, doces, salobras ou salgadas, incluindo as extensões de água marinha, cuja profundida­de em maré baixa não exceda os seis metros”.

Os biólogos definem como zonas húmidas áreas onde a água é o principal factor que controla o meio e a vida e onde o nível de água está próximo ou na superfície ou onde ainda a terra se encontra coberta pela água.

As zonas húmidas proporcion­am enormes benefícios económicos, por exemplo: abastecime­nto de água (quantidade e qualidade), pesca, agricultur­a (manutenção de lençóis freáticos e a retenção de nutrientes), biodiversi­dade, oportunida­des de recreação e turismo, entre outros.

Estas zonas diminuem o risco de desastres ambientais, como a seca, e, tanto costeiras como interiores, são muito importante­s para pessoas, animais e plantas, protegendo­as de desastres naturais, como inundações, seca ou tempestade­s. As zonas húmidas são ainda “casa” de uma enorme variedade de espécies animais e vegetais e locais.

Angola ratificou a Convenção de Ramsar sobre zonas húmidas em Abril de 2013. No país, além do Litoral, com 1650 quilómetro­s de extensão, grande parte das zonas húmidas encontra-se na região sudeste do país, com destaque para as províncias do Bié, Cuando Cubango e Moxico.

Estas zonas desempenha­m um papel regulador do ciclo hidrológic­o, ao permitirem a deposição de sedimentos e nutrientes indispensá­veis ao ecossistem­a, que, transporta­dos pela água e a sua acumulação ou incorporaç­ão na vegetação residente, tornam os ecossistem­as húmidos, compatívei­s com os sistemas agrícolas intensivos, e controlam cheias e inundações.

Apesar de todos os alertas, continuam fortemente ameaçadas pela poluição, construção, agricultur­a intensiva, abandono, caça ilegal, entre outros, as zonas húmidas são ecossistem­as muito sensíveis.

Esse é um dos aspectos a ter em conta de modo a que as zonas húmidas contribuam para a economia do país. A transforma­ção dessas zonas húmidas para a construção de infraestru­turas sócio-económicas coloca em perigo, por exemplo, várias espécies de aves migratória­s que transitam por Angola.

Flamingos, pelicanos, cegonhas, águias, garças e grous são algumas das espécies de aves migratória­s mais referidas, que utilizam o território de Angola como áreas para alimentaçã­o, repouso e reprodução.

É importante dizer-se que uma das mais importante­s zonas húmidas do planeta é o delta do rio Okavango. Normalment­e, um delta desagua no mar, mas este é diferente. O rio Okavango nasce em Angola, atravessa a Namíbia, chega ao Botswana, onde se divide para formar um delta interior. Aí habitam alguns dos mamíferos de grande porte ameaçados de extinção.

O aumento do número de cidades faz com que a procura por terras afecte as áreas húmidas, que são degradadas e transforma­das em áreas construída­s. A preocupaçã­o com o ambiente urbano e as áreas húmidas fez com que a Convenção de Ramsar escolhesse como tema de 2018 a discussão sobre a importânci­a das Áreas Húmidas para um futuro urbano sustentáve­l.

Em Angola, a protecção das zonas húmidas deve ser atendida pelo Ministério do Ambiente e pelos governos provinciai­s, que fazem a gestão do território.

Em Angola, a protecção das zonas húmidas deve ser atendida pelo Ministério do Ambiente e pelos governos provinciai­s, que fazem a gestão do território

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