Trunfos para gerir as fissuras no seio do partido ANC
Cyril Ramaphosa não está desprovido (longe disso) de trunfos para jogar e capitalizar a seu favor na actual conjuntura, muito marcada pelos problemas que envolvem Jacob Zuma, e das fissuras que eles estão a provocar no seio do ANC, até porque se assim não fosse, não era necessário o desesperado ultimato lançado para que o anterior Presidente apresentasse a demissão, nas circunstâncias em que o fez.
Também nas eleições para a liderança do ANC, a corrida foi muito renhida, com Ramaphosa a vencer a ex-mulher de Jacob Zuma numa disputa cerrada e que até deu origem à recontagem de votos, mais um facto que indicia que o partido está fracturado.
Uma outra bandeira do novo Presidente tem a ver com o combate à corrupção. Neste capítulo, é curioso ver como o ANC vai lidar com o ajuste de contas que Jacob Zuma tem de fazer com a justiça.
Falar em combater a corrupção e ignorar as acuações contra o antigo Presidente ou tentar camuflá-las com uma amnistia de última hora, pode ser uma contradição com um efeito perverso junto do eleitorado sul-africano.
Um dos grandes trunfos de Ramaphosa resulta do facto de sempre ter querido ser Presidente da África do Sul. Desde a saída de Nelson Mandela que se sentia “injustiçado”, pelo facto de terem sido catapultadas para a presidência outras pessoas, que não ele.
Por isso, durante muito tempo teve a oportunidade de pensar muito no que fazer e no que dizer quando o seu grande dia chegasse e atingisse o seu objectivo, para o qual se preparou durante longos anos: ser Presidente da África do Sul.
Daí, não ser de estranhar o seu calculadamente ambíguo discurso sobre o estado da nação, como disse Julius Malema falou mais de uma hora, mas pouco disse de concreto sobre o estado actual da África do Sul e sobre o que pretende para o país, no espaço de tempo que vai até à realização das próximas eleições.
O que parece, é que o novo Presidente sul-africano está a priorizar a articulação interna no seio do ANC, para então avançar com o seu programa de governo e com o nome das pessoas que o vão ajudar na execução.
Um outro trunfo de Cyril Ramaphosa é a elogiada capacidade para o diálogo construtivo, com o objectivo de conseguir consensos que façam as suas propostas andar.
Mais do que nunca, a África do Sul precisa de consensos, tanto no campo político como no social e fundamentalmente, no sector económico.
A larga experiência de lidar com os sindicatos, aliada à profunda inserção no mundo empresarial (é um dos principais empresários do país) dão-lhe os trunfos suficientes para levar de vencido o desafio para a criação de bases que possibilitem redinamizar a economia sul-africana, que passa também pelo combate à corrupção.