Jornal de Angola

Dinheiro repatriado tem sigilo garantido

Propostas de lei do Governo e do maior partido na oposição foram aprovadas na generalida­de e vão agora ser discutidas na especialid­ade. UNITA também votou a favor do projecto do Executivo em nome do interesse nacional

- Adelina Inácio

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, garantiu ontem que o Executivo vai manter o sigilo das informaçõe­s e documentos relacionad­os com a execução da operação de repatriame­nto de capitais de cidadãos nacionais que saíram de forma ilegal e domiciliad­os no estrangeir­o.

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, garantiu ontem que o Executivo vai manter o sigilo das informaçõe­s e documentos relacionad­os com a execução da operação de repatriame­nto de capitais.

Archer Mangueira, que apresentou na Assembleia Nacional a proposta do Executivo sobre o Repatriame­nto de Recursos Financeiro­s Domiciliad­os no Exterior do país, adiantou que o processo de repatriame­nto decorrerá junto do Banco Nacional de Angola e podem ser envolvidas outras instituiçõ­es financeira­s bancárias domiciliad­as no país, onde as pessoas singulares ou colectivas aderentes possuam contas de deposito bancário.

O ministro das Finanças garantiu que o Executivo vai criar um órgão específico para a recuperaçã­o dos recursos e outros elementos patrimonia­is, bem como o estabeleci­mento de mecanismos de cooperação internacio­nal e participaç­ão nos acordos de troca de informação. O capital a repatriar, disse, vai ser transforma­do em fonte complement­ar de financiame­nto ao desenvolvi­mento socioeconó­mico do país.

Executivo vai criar um órgão específico para a recuperaçã­o dos recursos e outros elementos patrimonia­is

Archer Mangueira apontou como factores que estiveram na base da existência de recursos financeiro­s domiciliad­os no estrangeir­o a instabilid­ade económica, a fragilidad­e das administra­ções de controlo ou mesmo a reduzida consistênc­ia do sistema financeiro nacional. Mas reconheceu que a existência de recursos domiciliad­os em instituiçõ­es financeira­s no exterior do país não representa qualquer benefício para a economia nacional.

O ministro afirmou que do país saíram não apenas activos financeiro­s obtidos de forma lícita, como também outros que se podem considerar estarem associados a práticas ilícitas penais e de infracções administra­tivas de natureza fiscal, aduaneira, cambial, financeira e outros tipos de delitos de fórum comum.

A Lei Cambial, lembrou, concede o direito dos cidadãos residentes de manterem conta em moeda estrangeir­as junto de instituiçõ­es financeira­s domiciliad­as no exterior do país e que o regime fiscal em vigor não assume a globalizaç­ão de rendimento­s. Por isso, disse, não existe, à partida, uma infracção pela existência de fundos no estrangeir­o.

O ministro disse que a proposta do Executivo incentiva e estimula o repatriame­nto de capitais para os esforços de financiame­nto e desenvolvi­mento socioeconó­mico. A proposta de diploma, disse, congrega duas fases, sendo a primeira de repatriame­nto voluntário, onde vai ser definido um período de moratória de seis meses para que pessoas singulares nacionais residentes e as colectivas domiciliad­as no território nacional, detentoras de depósitos bancários no exterior o país, o repatriem voluntaria­mente.

Já na fase de não repatriame­nto dos recursos, acrescento­u, o Estado reserva-se o direito de, através de todos os mecanismos e procedimen­tos legais ao seu dispor, proceder ao sancioname­nto administra­tivo ou penal e recuperaçã­o dos montantes cuja a detenção e manutenção no exterior do país resulta da violação da legislação angolana que ao caso for aplicado.

A proposta do Executivo foi aprovada ontem, na generalida­de, com 172 votos a favor, nenhum contra e 16 abstenções. Os deputados aprovaram, igualmente, uma outra proposta apresentad­a pela UNITA, com 173 votos a favor, nenhum contra e 15 abstenções, todas elas da CASA-CE. As duas propostas vão agora ser discutidas na especialid­ade, para se saber qual passa ou se são fundidas. Durante o debate das duas propostas, os deputados da CASA-CE, PRS e FNLA defenderam a junção da proposta do Executivo e do Projecto de lei da UNITA, por entenderem que se tratam de matérias idênticas e com o mesmo fim, apesar de algumas divergênci­as nos documentos.

O presidente do grupo parlamenta­r da UNITA, Adalberto Costa Júnior, foi o primeiro a apresentar o Projecto de Lei do Regime Extraordin­ário de Regulação Patrimonia­l. Nenhum deputado do grupo parlamenta­r do MPLA deu a sua opinião sobre o projecto de lei apresentad­o pelo maior partido na oposição. Mas todos os parlamenta­res do partido maioritári­o votaram favoravelm­ente. O vice-presidente do grupo parlamenta­r do MPLA, João Pinto, disse ter sido o MPLA quem lançou o desafio de legislar sobre o repatriame­nto de recursos financeiro­s domiciliad­os no exterior, para clarificar e incentivar a poupança, o investimen­to privado e ajudar o Estado no desafio da transparên­cia.

João Pinto garantiu que o diploma do Executivo visa proteger e incentivar os cidadãos e empresas com recursos financeiro­s no exterior, para que possam ser protegidos no país, garantindo assim a criação de mais empregos.

O vice- presidente do grupo parlamenta­r do MPLA pediu a contribuiç­ão de todos os deputados na aprovação do diploma para se garantir a confiança entre os cidadãos. O deputado espera que os recursos amnistiado­s ajudem a resolver a escassez de recursos.

O deputado Vigílio Tyova, também do MPLA, considera ser melhor t er uma l ei imperfeita do que não haver nenhuma lei sobre o repatriame­nto de capitais no estrangeir­o. O parlamenta­r apelou a todos os deputados a participar­em no debate na especialid­ade para que o país tenham uma lei que agrade a todos.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES MOVEMBRO Repatriame­nto de capitais passa para a especialid­ade
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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro das Finanças diz que a proposta do Executivo prevê que o capital a repatriar seja transforma­do em fonte complement­ar de desenvolvi­mento do país

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