Descendentes de angolanos falam kimbundo e kikongo
Um programa de passagem de testemunho, através de aulas, foi criado no Brasil para preservar as línguas
No Brasil, ainda há descendentes de angolanos que falam fluentemente as línguas Kimbundo, Kikongo e Umbundo, afirmou o coordenador-geral do Instituto Latino Americano de Tradução Bantu (ILABANTU).
Walmir Damasceno, que se encontra em Luanda para estreitar laços de cooperação no domínio cultural, com vários organismos, disse que esses cidadãos se encontram nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Baía, Espírito Santo e outros Estados do Nordeste e Norte do Brasil.
Explicou que os mesmos se encontram a viver em vários “quilombos” (matas), nome atribuído às localidades onde estão radicados os descendentes de africanos, normalmente zonas de difícil acesso e sem condições de habitabilidade.
“Existem vários “quil ombos” compostos por comunidades remanescentes de angolanos que falam línguas como o Kimbundo, Kikongo e Umbundo”, informou, para acrescentar que, além desses lugares, que ficam em zonas rurais, há ainda outras que ficam em regiões urbanas, conhecidas como “Terreiros”, onde também se preservam essas l í nguas. “Ali, uns falam, maioritariamente, Kimbundo, Kikongo e Umbundo”, salientou.
Walmir Damasceno disse que tal fenómeno deve-se ao facto de o maior contingente de povos que contribuiu para a disseminação das línguas nessas comunidades serem de origem etnol i nguístico Kimbundo e Kikongo, sobretudo.
“Os que estão em zonas rurais rondam entre 20 a 50 famílias, e os da zona urbana de 50 a 100 famílias”, frisou.
O coordenador-geral do ILABANTU explicou que em zonas urbanas eles não habitam essas regiões, apenas fazem frequência de alguns locais de seus interesses.
Para que alíngua não desapareça, continuou, criou-se no Brasil um programa que consiste na passagem de testemunho do idioma através transmissão de aulas de Kimbundo e de Kikongo ministradas por instrutores brasileiros que aprenderam a comunicar- se por intermédio dessas línguas.
“O objectivo é impedir que essas línguas desapareçam, pois representam grande relevância para a construção da sociedade brasileira”, justificou. Informou que a preocupação maior do ILABANTU é resgatar a história do povo africano que hoje habita em território brasileiro.
O especialista deu a conhecer que a primeira civilização de africanos que aportou no Brasil foram os povos de origem Bantu, mais concretamente os provenientes de Angola.
Segundo ele, a presença de Angola no Brasil não se resume apenas na questão da língua, hábitos e costumes dos povos, mas, também, na realização de várias manifestações culturais.
“Existem no Brasil vários grupos de capoeira que foram repensados a partir das sanzalas, durante o período da colonização. Há o Maculelé, o Samba, que como se presume veio do Semba”, disse.
Sem perder o fio à meada, a fonte do JornaldeAngola falou também da existência do Congada e de várias outras manifestações culturais, que se presume tenham origens de Angola. “Na gastronomia já não se fala. A culinária do Brasil é tipicamente africana de origem angolana”, realçou.
Nilson Delfino de Oliveira, preferiu ser chamado de Niyi Tokunho Mona Nzambi, como forma de se ligar às origens angolanas, no qual acredita ser originário do nosso país.
Segundo ele, o grande elemento que contribuiu para a formação da cultura brasileira não foram as outras línguas hoje faladas no seu país, mas, sim, as derivadas das línguas angolanas, como o Kimbundo e Kikongo, que serviram de base para a construção da cultura e língua brasileira.
O estudante de Letras que se encontra no país para recolher amostras de Kimbundo, para fins académicos, informou que há uma universidade no Estado da Baía que aprovou, e m 2 011, um documento que autoriza o ensino da língua Kimbundo e Kikongo na sua Faculdade de Letras, mas que, por algum impasse, não chegou a ser aplicado.
“A boa notícia é que há muita gente no Brasil interessada em aprender e estudar essas línguas”, revelou, acrescentando que o português falado no Brasil é completamente enriquecido com elementos linguísticos de Angola.
A boa notícia é que há muita gente no Brasil interessada em aprender e estudar as línguas Kimbundo, Kikongo e Umbundo