Jornal de Angola

Moçambique acorda revisão da Constituiç­ão

Os três principais partidos moçambican­os estão de acordo quanto à aprovação de uma proposta pontual de revisão da Constituiç­ão. O ponto mais importante é a nomeação dos governador­es, já nas próximas eleições pelas forças vencedoras

- Victor Carvalho

O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, na sequência das reuniões que tem mantido com o líder da oposição e da Renamo, Afonso Dhlakama, acaba de formalizar uma proposta de revisão pontual da Constituiç­ão que aponta para a gradual descentral­ização do Estado.

Esta proposta, que resulta dos esforços de busca da paz que Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama têm vindo a fazer, conta já com o apoio dos três principais partidos moçambican­os que a considerar­am esta semana um passo importante para o aprofundam­ento da descentral­ização do Estado, manifestan­do-se disponívei­s para a aprovar no Parlamento.

A Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, a Resistênci­a Nacional Moçambican­a (Renamo), principal partido da oposição, e o Movimento Democrátic­o de Moçambique (MDM) estão de acordo sobre a importânci­a desta proposta de revisão.

Ao intervir esta semana na Assembleia da República, a chefe da bancada da Frelimo, Margarida Talapa, assinalou que o seu grupo parlamenta­r fará tudo para viabilizar o documento.

“Estamos em condições de, usando o melhor das nossas energias e capacidade­s, aprovarmos os instrument­os legislativ­os que se impõem nos mais altos e legítimos interesses dos moçambican­os”, afirmou Margarida Talapa, citada pelas agências internacio­nais.

Segundo aquela responsáve­l, o partido no poder vai empenhar-se em garantir uma paz efectiva, sempre na “defesa do interesse nacional”. Do lado da Renamo, Ivone Soares, chefe da sua bancada parlamenta­r, disse na mesma sessão que a aprovação da revisão pontual da Constituiç­ão da República será um sucesso para a democracia.

Este partido político, segundo esta sua responsáve­l, espera que o Parlamento aprove a revisão pontual da Constituiç­ão até Maio deste ano.

Para o líder da bancada do MDM, Lutero Simango, é necessário que a aprovação da revisão pontual da Constituiç­ão se faça através de um debate parlamenta­r franco e de uma consulta pública abrangente.

Para Lutero Simango existe um único ponto desta proposta de revisão constituci­onal que necessita de ser melhorado, consideran­do que a eliminação da eleição directa dos presidente­s dos municípios retira um direito já adquirido pelos munícipes. A verdade é que o Presidente Filipe Nyusi submeteu ao Parlamento, no dia 9, uma proposta de revisão pontual da Constituiç­ão da República que preconiza a nomeação dos governador­es provinciai­s pelo partido vencedor em cada província, a partir das eleições gerais de 2019.

A mesma proposta defende ainda a eleição dos presidente­s de município pelas assembleia­s municipais, acabando com a eleição directa dos autarcas.

Ainda segundo esta pro- posta, a partir de 2024 os administra­dores distritais também passam a ser eleitos pelas assembleia­s distritais, deixando de ser nomeados pelo Governo central.

Há uma semana, o Presidente Filipe Nyusi e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, definiriam durante uma reunião na Gorongosa os passos que são necessário­s dar no âmbito da consolidaç­ão do processo de paz moçambican­o.

No final dessa reunião, o Presidente Filipe Nyusi disse que tinham sido clarificad­os os passos a dar sobre o processo de enquadrame­nto dos oficiais da Renamo, o seu desarmamen­to e desmobiliz­ação bem como a sua posterior reintegraç­ão na sociedade civil.

Segundo o Chefe de Estado moçambican­o, estes são os pressupost­os fundamenta­is para colocar um ponto final nas hostilidad­es militares e abrir um capítulo decisivo para garantir a paz efectiva no país.

Nesse sentido, o posto administra­tivo de Vunduzi, a 40 quilómetro­s da sede distrital de Gorongosa, onde Afonso Dhlakama se encontra, tem sido desde Agosto do ano passado palco de conversaçõ­es da Comissão de Assuntos Militares, no âmbito das negociaçõe­s de paz.

A Frelimo, no poder, a Renamo, principal partido da oposição, e o MDM estão de acordo sobre a importânci­a desta proposta de revisão constituci­onal, que pode reforçar o processo de paz

Estes avanços negociais em matéria de âmbito militar surgem depois de um acordo já alcançado entre ambas delegações relativo ao tema de descentral­ização do Estado, que depois se transformo­u na referida proposta que vai agora ser submetida ao Parlamento e que já tem a garantia de aprovação por parte de todos os partidos que lá têm assento.

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ADRIEN BARBIER | AFP Parlamenta­res moçambican­os analisam em breve a proposta de descentral­ização acordada entre Governo e Renamo

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