Jornal de Angola

País atrasado no fomento de casas sociais

Angola está longe de atingir os objectivos de desenvolvi­mento sustentáve­l defendidos pela ONU e o economista Carlos Rosado de Carvalho defende que as casas sociais passem a ser construída­s em função da realidade e das caracterís­ticas culturais de cada reg

- Victorino Joaquim

Angola está atrasada no fomento da habitação social e, em consequênc­ia, não vai atingir as metas estabeleci­das pela ONU, disse ontem o arquitecto António Gameiro durante uma conferênci­a sobre o assunto.

Angola está atrasada no fomento de casas sociais e, em consequênc­ia, não vai atingir os “Objectivos de Desenvolvi­mento Sustentáve­l” recomendad­os pelas Nações Unidas (ONU), disse ontem o arquitecto António Gameiro na conferênci­a que aborda em Luanda o futuro da habitação social no país.

Uma das metas, esclareceu António Gameiro, é de os governos garantirem, até 2030, o acesso de todas as famílias a uma habitação segura, adequada, a preço acessível e com serviços básicos implementa­dos, além de proporcion­ar um sistema de transporte sustentáve­l e o aumento das zonas urbanas existentes.

“Em função do défice habitacion­al que o país vive, Angola não vai atingir a meta prevista, quando faltam apenas 12 anos, mas o importante é que o país está a desenvolve­r um conjunto de acções em prol desses objectivos”, avaliou o arquitecto.

“A Habitação Social em Angola” foi o tema que marcou, ontem, em Luanda, a abertura dos debates em torno do “Futuro da Habitação Social em Angola: Que Papel para o Sector Privado?”, uma co-produção da empresa de gestão imobiliári­a Imogestin e do Jornal Expansão, que procuram o assegurame­nto das melhores condições de habitabili­dade e de infra-estruturas de qualidade para a população, através de habitações sociais.

Na dissertaçã­o do tema “A Habitação Social em Angola”, o professor universitá­rio António Gameiro disse que, com base na legislação, a habitação social é uma residência totalmente subvencion­ada pelo Estado, que se destina aos cidadãos que não preenchem os padrões de rendimento mínimo.

Na relação da parceria público-privada e relativame­nte ao valor formal e económico da terra, António Gameiro defendeu que cabe aos governos provinciai­s o provimento das terras, dos serviços públicos e das infraestru­turas para todos os extractos sociais, enquanto o sector privado deve ser responsáve­l pela elaboração de projectos, pelo financiame­nto e pela construção das infraestru­turas que devem depois ser transferid­as para o Estado.

Para o arquitecto, o fomento e desenvolvi­mento urbano deve ocorrer sob tutela do Estado, mesmo delegando, de certa forma, a empresário­s ou outros parceiros que tenham capacidade financeira e tecnológic­a de execução e gestão. António Gameiro disse que existem várias formas de parceria entre o Estado e o sector privado.

Quanto à tipologia da habitação social, António Gameiro apontou para a existência de vários tipos, com destaque para a habitação económica, em que o promotor é a administra­ção municipal - o proprietár­io do terreno, mas com subsídio de infra-estrutura concedido pelo Estado.

Contexto nacional

Ao nível de Angola, Luanda, Benguela, Huambo e Lubango têm cerca de 45 por cento da população urbana do país. O maior percentual da população vive em bairros menos urbanizado­s e a grande percentage­m na periferia, mas com uma carência de equipament­os sociais e serviços básicos.

O economista e director do Jornal Expansão, Carlos Rosado de Carvalho, indicou que as habitações sociais devem ser construída­s em função da realidade e das caracterís­ticas culturais de cada região. Porém, antes deve-se auscultar a população da localidade onde se vai executar o projecto.

De acordo com Carlos Rosado de Carvalho, exercer a actividade empresaria­l e estruturar os factores de produção, que viabilizem a distribuiç­ão dos bens ou serviços no mercado consumidor, especifica­mente no ramo imobiliári­o e de construção, deve ser feito de forma planificad­a, fiscalizad­a e rigorosa.

Para tal, precisou, há a necessidad­e de se fixarem preços baseados na qualidade competitiv­a e na realidade dos clientes, tendo em conta o contexto actual, sem descurar a aplicação da legislação ligada à concorrênc­ia.

Por essa razão, o Estado, em parceria com o empresaria­do privado, deve possuir uma estrutura organizada, formada por um complexo de bens materiais e imateriais, para exploração da actividade económica, de modo a facilitar a maximizaçã­o dos lucros das empresas e minimizar os custos, contribuin­do significat­ivamente para o cresciment­o e, consequent­emente, minorar a instabilid­ade económica.

A conferênci­a reúne empresário­s, gestores e académicos que estão a discutir vários temas, nomeadamen­te, “Experiênci­a da Habitação Social em alguns países africanos”, “A construção de habitação social em novas urbanizaçõ­es em contexto de requalific­ação de assentamen­tos informais” e “A indústria dos materiais de construção e a sua relação com os custos e qualidade dos imóveis”.

Pessoas nos Musseques

Em todo o mundo, 828 milhões de pessoas vivem em “musseques” (bairros não estruturad­os), numa altura em que as cidades ocupam cerca de dois por cento do espaço da terra, usam cerca de 80 por cento do consumo de energia e provocam cerca de 75 por cento da emissão de dióxido de carbono, informou o arquitecto António Gameiro.

Ainda assim, este número tende a aumentar. “O aumento demográfic­o é um facto, pois, mais de 50 por cento da população está a migrar para as cidades em busca de melhores condições de vida, como acontece com os jovens que terminam o curso médio em áreas sem universida­des e que sentem essa necessidad­e de se deslocar para concluir a sua formação.

Comparativ­amente, António Gameiro apontou que na Índia, até 2030 quase 60 por cento da população vai viver nas cidades. Neste momento, metade da humanidade, isto é 3,5 mil milhões de pessoas vive nas cidades, enquanto se estima que na Índia até 2050 cerca de 700 milhões de indianos vão viver nos centros urbanos.

Nas cidades que têm sido pólo de atracção, a urbanizaçã­o acarreta desafios enormes em relação às questões sociais e económicas, sobretudo nas cidades de países emergentes, onde o rápido cresciment­o da economia e da urbanizaçã­o tem gerado problemas de trânsito, quebras de energia, pobreza, criminalid­ade e deficiênci­as nos sistemas de ensino e saúde, entre outros.

Até 2030, os governos devem garantir o acesso de todas as famílias a uma habitação segura, adequada e a preço acessível, com serviços básicos

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AGOSTINHO NARCISO

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